Cidades

PCC monitorou secretário de segurança e delegados do Distrito Federal

Polícia Civil e Ministério Público investigam ações que estariam relacionadas ao surgimento de uma célula da facção no DF. Informações obtidas pelo Correio dão conta de que o secretário de Segurança do DF seria alvo do grupo criminoso

Correio Braziliense
postado em 08/01/2020 06:00
Delegado Guilherme Melo (E) e Leonardo de Castro, responsáveis pelas investigações: evidências da atuação do Primeiro Comando da Capital no Distrito FederalRelatórios de inteligência identificaram que autoridades do Distrito Federal poderiam ser vítimas do Primeiro Comando da Capital (PCC). O Correio apurou que, entre os alvos monitorados pela facção, estava o secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres. Além do chefe da pasta, delegados tiveram informações pessoais difundidas entre criminosos, e uma juíza da Vara de Execuções Penais (VEP) sofreu ameaças em um bilhete encontrado na Penitenciária Federal em Brasília.

A movimentação da organização criminosa acendeu o alerta dos investigadores. Na manhã desta terça-feira (7/1), a Polícia Civil do DF deflagrou a Operação Guardiã 61 para desarticular uma célula do PCC em Brasília. Oito alvos da ação estavam presos preventivamente no Complexo Penitenciário da Papuda por tráfico de drogas, roubo e receptação. No total, a Justiça emitiu 14 mandados de prisão preventiva. Os investigadores cumpriram, ainda, cinco mandados de busca e apreensão, em Taguatinga e no Jardins Mangueiral, inclusive contra advogados que dariam suporte à facção na capital federal.
 
A polícia apreendeu recibos de depósito e carta trocada pelos suspeitos na Penitenciária Federal 

Até agora, a polícia desconfia que existam 30 integrantes da célula do PCC no DF. O surgimento de um braço da organização criminosa em Brasília é monitorado pelas forças de segurança desde a transferência de integrantes da cúpula do grupo para Brasília, em 2018 e 2019, incluindo Marcos Willians Herbas Camacho — o Marcola. Dos 14 mandados de prisão, seis seguem em aberto. A polícia deve cumprir três deles nos próximos dias, em uma nova fase da operação.

As investigações que culminaram na operação especial desta terça-feira (7/1) ocorreram em 2019 e começaram após o caso da juíza da VEP. A polícia identificou a origem do recado e descobriu o envolvimento de integrantes do PCC. Durante a apuração, as equipes constataram que advogados do DF ofereciam suporte jurídico e pessoal à facção. Uma das formas de apoio se dava por meio da busca de bases. Os locais serviriam a integrantes do grupo como residência para parentes dos líderes, além de depósito para armazenamento de drogas e armas. Os agentes apreenderam o contrato do aluguel de um imóvel em Taguatinga no nome de um advogado. Há evidências de que esses profissionais também sondavam casas no Jardim Botânico e nos lagos Sul e Norte a mando dos criminosos.

O delegado Guilherme Melo, da Divisão de Repressão a Facções Criminosas (Difac), informou que a polícia encontrou uma ficha de cadastro da organização com detalhamento de cada integrante. O documento estava na casa de um dos advogados sob suspeita. “A investigação mostra que as ameaças comprovam a existência de atividades da facção criminosa (o PCC) no DF. E com um detalhe muito importante: a participação de ‘gravatas’, advogados. Isso a gente observava em outras unidades da Federação. Mas, com a vinda da cúpula para cá, o setor que atende a esse núcleo passou a atuar aqui”, detalhou.

Limites

O presidente da seccional brasiliense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF), Délio Lins e Silva Júnior, destacou que, se comprovada a participação desses profissionais, o caso será analisado pelo tribunal de ética da entidade. Após a avaliação, é possível haver advertências, suspensão provisória ou expulsão dos envolvidos. “O advogado de um criminoso não pode ultrapassar o limite da advocacia e se tornar um. As penas vão depender da gravidade da conduta”, comentou.

No Twitter, o secretário Anderson Torres parabenizou a Polícia Civil pela operação. Ele escreveu que a ação resultou do “total comprometimento do DF em fazer um trabalho de prevenção à criminalidade”. “Facções criminosas não terão descanso e muito menos espaço na capital”, completou. Consultada, a Secretaria de Segurança Pública informou que a pasta tem monitorado grupos e confirmou que deverão haver desdobramentos da operação.

O governador Ibaneis Rocha também elogiou a Polícia Civil do DF. "Eles (criminosos) andam em bando e, se tiverem espaço, tomam conta. Parabéns à nossa polícia e que fiquem todos de alerta. Afinal, somos a capital da República", disse.

Memória

Facções na capital federal
 
A transferência de líderes do PCC para o Distrito Federal começou em outubro de 2018, com a inauguração da Penitenciária Federal em Brasília. À época, três chefes da facção criminosa vieram para a prisão, localizada no Complexo Penitenciário da Papuda. Em fevereiro, três líderes do grupo deixaram São Paulo e tornaram-se internos no DF. A mudança atendeu a uma determinação da Justiça, a pedido do Ministério Público de São Paulo.

Em março, foi a vez de Marcola, líder do PCC, ser alocado na Penitenciária Federal (foto). No mês passado, no entanto, suspeitas sobre um plano para resgatá-lo mobilizaram equipes do Exército Brasileiro, do Comando Militar do Planalto e da Força Nacional. Além dos integrantes da organização criminosa, há outros detentos com suspeita de associação ao Comando Vermelho e à Família do Norte (FDN).

A chegada desses presos ao DF gerou mal-estar no Executivo. Em diferentes ocasiões, o governador Ibaneis Rocha (MDB) reuniu-se com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, para tratar do assunto. Além do chefe do Palácio do Buriti, a Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB/DF) se manifestou contra a instalação de uma penitenciária federal em Brasília.

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