Cidades

Para retratar a quebrada

Coletivo promove festival que busca ressignificar a visão sobre a periferia do Distrito Federal e valorizar suas expressões próprias

Correio Braziliense
postado em 10/01/2020 04:15
O Festival Foto de Quebrada, do Coletivo Duca, busca valorizar as expressões da periferia sobre o próprio cotidiano, ressignificando este espaço
 
Estão abertas até 26 de janeiro as inscrições para a primeira edição do Festival Foto de Quebrada. Idealizado e organizado pelo Coletivo Duca, grupo de fotógrafos da periferia do Distrito Federal que realiza coberturas e intervenções urbanas, o festival busca romper estigmas, como da violência e da pobreza e ressignificar o olhar sobre as chamadas “quebradas”. “O conceito de quebradas (que estamos aplicando) é o de vizinhança que resiste com seus modos de vida próprios”, explica o artista visual Gu da Cei, coordenador do projeto e membro do coletivo cujo nome deixa bem clara a origem ceilandense.
Com 23 anos, Gu mora na cidade “desde sempre” e adotou esse nome como forma de evidenciar a influência da quebrada na própria produção artística, promovendo a diversidade por onde passa. “Minha intenção é apresentar o meu contexto, mostrar como a Ceilândia influencia na minha expressão. Decidi representar uma diversidade. A Ceilândia é grande, não represento a maioria das expressões da cidade, mas busco mostrar que a região tem uma diversidade de expressões artísticas”, conceitua.
 
São esses mesmos preceitos que guiam a proposta do festival coordenado por ele, que, pela primeira vez coordena um projeto com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Durante 15 dias, as 30 fotos selecionadas pela curadoria ficarão em exposição na Galeria Risofloras, ocupação de um posto policial abandonado na Praça do Cidadão, em Ceilândia. A galeria é uma iniciativa do projeto Jovem de Expressão e do coletivo R.U.A.S, parceiros do festival. Para a divulgação, o projeto conta ainda com o apoio da Mídia Ninja.
 
Podem se inscrever moradores de todas as regiões administrativas do Distrito Federal e da Ride (Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno), com até cinco fotografias. A curadoria, formada por membros do Coletivo Duca e dois profissionais da área que serão convidados, selecionará 30 trabalhos, não necessariamente de 30 artistas diferentes. As fotos ficarão em votação on-line por 15 dias, e as três mais votadas ganharão prêmios de R$ 3 mil, R$ 2 mil e R$ 1 mil.
 
A abertura da exposição e da votação se dará com um festival em 26, 27 e 28 de março, coincidindo com o aniversário de Ceilândia, no dia 27. O evento contará com debates e atrações musicais da cidade. As oficinas, ministradas por convidados, terão temas como Midialivrismo e articulação de coletivos de fotografia auto-organizados; Ressignificação da estética periférica; Produção e desenvolvimento de fotocolagens e Fotografia com o celular.
 
A temática das fotos é livre, assim como o local onde elas foram tiradas, mas adequação ao tema contará como critério para seleção dos trabalhos. “A ideia surgiu a partir dessa angústia de haver poucos espaços de promoção dessas imagens das quebradas do DF, para além da imagem já coletiva, estigmatizada, da violência, muitas vezes por as pessoas se sentirem inferiorizadas, por não terem equipamentos caros, ou por se prenderem a um padrão estético que não condiz com a realidade dessas regiões em que existem desigualdades socioeconômicas. Buscamos trabalhos que compartilhem o olhar sobre a quebrada delas, para que se construa uma imagem mais ampla e verdadeira”, explica Gu.
 
Para garantir esse olhar, a curadoria realizará um filtro que passa, inclusive, pela comprovação de residência. “O conceito principal é esse da quebrada, de vizinhança que resiste com seus modos de vida próprios. Quem não faz parte desse projeto de resistência não é abarcado”, garante.
 
Ações conjuntas
O coletivo Duca, cujas fotos ilustram essa matéria, é formado por fotógrafos de várias cidades do DF, que realizam coberturas e intervenções urbanas. Apesar de terem projetos autorais, eles assinam o trabalho como um coletivo quando realizam as coberturas, por entenderem que se trata de uma ação conjunta, como é o caso do concurso. Para conhecer mais do trabalho do coletivo, acesse http://coletivoduca.com.br/ e acompanhe as redes sociais. 
 
Inscrições
Para inscrever seu trabalho, acessar o regulamento e o formulário de inscrições, acesse o site do festival. http://www.fotodequebrada.com.br/ para se inscrever no festival até 26 de janeiro. A votação on-line será no mesmo endereço. Para acompanhar novidades, siga as redes sociais. 

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

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