Cidades

Torturada e mantida em cárcere privado

Foram 18 dias de agressões dentro da própria casa. A jovem ainda foi impedida de sair da residência desde 30 de dezembro

Correio Braziliense
postado em 12/01/2020 04:06
Homem usou diversos objetos, como facas, cadeiras e uma barra de ferro para agredir a jovem de 22 anos

As marcas no corpo da mulher de 22 anos, mantida em cárcere privado e torturada pelo namorado, não negam os momentos de horror que a jovem sofreu durante 18 dias. A vítima era agredida pelo companheiro, um tatuador de 37 anos, desde a véspera do Natal. Em 30 de dezembro, ela passou a ser mantida em casa sob ameaças. A vítima foi liberada com a prisão do suspeito na última sexta-feira, em Ceilândia. O caso é investigado pela 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia).

Os dois tinham um relacionamento desde março de 2019 e moravam juntos havia cerca de dois meses. Segundo a Polícia
Civil, a jovem era agredida com diversos objetos, como barra de ferro, cadeiras, vidros e facas. “Ela disse que tudo que ele via pela frente, ele usava para agredi-la”, afirma o delegado à frente do caso, Gutemberg Morais. A mulher ficou presa dentro da própria casa. Antes de 30 de dezembro, ela podia sair para trabalhar em uma padaria. No trabalho, os colegas perceberam os hematomas, mas a vítima alegou que havia caído. “Ela ia trabalhar com as ameaças de que, se alguém ficasse sabendo, ele a mataria, então ela voltou para casa. E do dia 30 (de dezembro) até a última sexta, ela ficou trancada, sendo agredida”, ressalta Gutemberg.

Durante o cárcere privado, o agressor tomou o celular da vítima e a permitia falar apenas com a mãe, porém as ligações eram feitas com uma faca no pescoço dela, que era obrigada a dizer que estava doente. Aos investigadores, a jovem afirmou que policiais militares chegaram a ir à residência, mas, segundo o delegado, os militares, provavelmente, não encontraram testemunhas nem ninguém que atendesse a porta. Devido à visita da PM, o agressor chegou a sair da casa e levar a vítima para a residência da irmã dele, no entanto, retornou ao local na última sexta-feira. “Na sexta, passaram a informação para a Polícia Militar de que a vítima estava dentro de casa com o agressor”.


Os policiais retornaram ao endereço e só conseguiram falar com a mulher após uma testemunha aparecer ao local. No início, a jovem negou as agressões, mas a testemunha interveio e a vítima revelou a verdade. “Psicologicamente ela está abalada, mas, ao mesmo tempo, ela parecia aceitar a questão da submissão. Como se o fato de ela estar em cárcere fosse algo comum. Fiquei assustado com essa situação", destaca o delegado.

A psicóloga Raquel Estrela explica que a mulher, vítima de violência doméstica, é tomada pela fragilidade e pelo medo de morrer e acaba cedendo aos comandos do agressor. “Até esse momento que ela saiu de casa, com certeza, as ameaças foram muito fortes. Isso gera um medo muito grande. Elas pensam ‘e se eu denunciar e a polícia não fizer nada, e ele me matar?’ Então a insegurança e a autoestima enfraquecida impedem alguma atitude”, ressalta.

Ex-namorada

As agressões eram filmadas pelo tatuador e enviadas para amigos, inclusive para a ex-namorada dele. “Ela (a ex) ficou revoltada. Ela estava em outro estado, mas, quando voltou, recebeu outro vídeo e decidiu tomar providência”, afirma o delegado. “Nas imagens, ele fica falando: ‘está vendo como é, mulher comigo é assim'”, detalha Gutemberg. O celular do agressor foi apreendido e será pedido a quebra de sigilo para a Justiça. Após o acesso às conversas, a polícia vai avaliar se houve participação dos amigos.

O agressor foi preso em flagrante e passará por audiência de custódia. Ele é acusado de ameaça, crimes de tortura (Lei 9.455/1997), Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) e cárcere privado. De acordo com o delegado Gutemberg, ele tem passagens pela polícia por roubo, extorsão mediante sequestro e homicídio, e cumpriu nove anos de pena em regime fechado até ano passado.


Onde pedir ajuda?

Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência — Presidência da República
• Telefone: 180 (disque-denúncia)

Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)
• De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
•  Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)
•  Entrequadra 204/205 Sul — Asa Sul — (61) 3207-6172

Disque 100 — Ministério dos Direitos Humanos
• Telefone: 100 — Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar — Telefones: (61) 3910-1349 / (61) 3910-1350

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