Correio Braziliense
postado em 12/01/2020 04:07
Walesca Borges, 40, viu muitos olhares de encanto dentro do Congresso Nacional. Servidora e chefe do serviço de Cooperação Institucional, ela é responsável pelas visitações ao prédio.“É diferente chegar todo dia para trabalhar em um local tão bonito e culturalmente rico como esse. O prédio reflete bem Brasília, tem uma arquitetura única e dialoga com o brasiliense, que é inovador por natureza, vive em um espaço sem igual no Brasil, com uma beleza moderna, clean e organizada”, avalia.
Nos primeiros meses na função de guia, há mais de 20 anos, Walesca presenciou uma cena simbólica. “Recebi um senhor de idade, muito simples, com roupas um pouco velhas e usando um chinelo. Ele entrou nas galerias do Congresso e ficou extremamente emocionado com a beleza do plenário. Os olhos brilhavam! Nós dois conversamos e ele me disse que não sabia que podia entrar no prédio, ele sentiu que também era cidadão ali, naquele momento, percebendo que faz parte dessa grandeza toda”, lembra.
O programa de visitação foi instaurado em 1986 e reformulado em 1996. Nele, o público pode conferir por dentro cada detalhe do Congresso, acompanhado por especialistas na história do local. De acordo com Walesca, essa é uma oportunidade para mudar a imagem negativa do Congresso. “Entrar no prédio é uma atitude de reflexão. As pessoas podem entender melhor o papel do Parlamento, do cidadão em si. Começam a questionar o que podem fazer pela sociedade, porque sabem que têm o seu papel”, diz. Mas é inegável que o lado estético faz diferença para os visitantes. Entre as belezas no interior do prédio, estão diversas obras de arte, um jardim projetado por Burle Marx, azulejos de Athos Bulcão e o teto do plenário, com 135 mil placas de metal.
Paixão pela história
O jornalista Florian Madruga, 71, viu de perto o Congresso Nacional crescer. O servidor público acumula cerca de 45 anos de trabalho no Senado Federal. Morador de Brasília há 59 anos, ele ingressou na Casa Legislativa em 1973. Seu trabalho era revisar os textos da Ordem do Dia, dos projetos de lei e dos pronunciamentos dos parlamentares. Aposentado há três anos, ele ainda dedica o tempo ao serviço voluntário, onde trabalha na gráfica do Senado, sem remuneração.
“Eu não tinha ideia do que era o Congresso Nacional. Eu só sabia as informações básicas, mas não imaginava como a instituição funcionava na prática. Naquela época não tinha muita tecnologia, então eram máquinas de escrever, as impressoras eram todas tipográficas, não existia computador, tudo era feito através de papel, tudo era impresso, mas funcionava em ritmo acelerado”, recorda.
Durante a trajetória da Casa, o jornalista passou por diversos setores do Senado, como a presidência, o Conselho de Ética e a gráfica, onde chegou a ser diretor. Ali, viu marcos históricos acontecerem, como a elaboração da Constituição Federal de 1988. “Imprimimos mais de 200 mil exemplares da Constituição. Fizemos esse trabalho com muita dedicação. A gente sabia que o país estava passando por uma grande transformação social, algo histórico. Um momento muito gratificante e que eu guardo na memória com muita honra”, destaca. Além da Constituição, Florian acompanhou os impeachments dos ex-presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff.
Florian também foi o responsável por encerrar as atividades do Senado no Rio de Janeiro, quando o quadro de funcionários e mobília foram transferidos para o prédio em Brasília. “Foi um trabalho muito importante para o Senado e que eu tive o prazer de fazer”, diz. Florian ainda destaca o momento em que a gráfica começou a fazer a impressão dos documentos oficiais, como a Constituição em braile e a criação do Instituto Legislativo Brasileiro (ILB).
Curiosidades
A energia elétrica nem sempre suportava o ritmo pesado de trabalho constante, por isso, diversos caminhões foram alugados para iluminar os canteiros de obra com os faróis
Juscelino Kubitschek fazia visitas surpresas à obra para avaliar o trabalho
No teto da cúpula do plenário da Câmara há mensagens escritas por trabalhadores que construíram o prédio. Uma das mensagens dizia: “Os homens de amanhã que aqui vierem, tenham compaixão dos nossos filhos e que a lei aqui se cumpra”, escrito por José Silva Guerra, em 22/4/1959. As frases foram encontradas por funcionário da Câmara que consertava um vazamento.
Fonte: Câmara dos Deputados e livro Senado e Brasília: construindo a história, de Roberto Homem
Visitação
O programa de visitas ao Palácio do Congresso Nacional funciona segundas, quintas (apenas grupos agendados), sextas, fins de semana e feriados, com entrada gratuita, das 9h às 17h30, com saídas de grupos a cada 30 minutos, a partir do Salão Negro. Para agendar, basta acessar o site: www2.congressonacional.leg.br/ visite/agendamento-pt
Para saber mais
Livros
O capital da esperança (Editora UnB), de Gustavo Sérgio Lins Ribeiro
Os palácios originais de Brasília (Câmara dos Deputados), Elcio Gomes da Silva
Expresso Brasília: a história contada pelos candangos (Editora LGE), de Edson Béu
Esta é a minha história — Senado Federal
Números da construção
700mil
metros cúbicos de terra para terraplanagem
315
estacas de concreto
15mil
metros cúbicos de concreto armado
2.700
toneladas de ferro
513
deputados federais na Casa
Fonte: Livro Senado e Brasília: construindo a história, de Roberto Homem. Cadernos da Secretaria de Informação e Documentação
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