O Governo do Distrito Federal (GDF) defende o aumento no valor da tarifa e aponta que o reajuste é necessário para diminuir o deficit em relação ao transporte. Segundo o secretário de Transporte e Mobilidade, Valter Casimiro, a dívida do GDF com empresas de ônibus chega a R$ 247 milhões, e o próprio GDF segurou parte do aumento que realmente seria necessário (16,19%) para evitar maior impacto à população.
Em 2019, a Secretaria de Mobilidade pagou R$ 700 milhões às empresas. O valor contempla a tarifa técnica (parte das passagens complementadas pelo governo) e gratuidade — oferecida a estudantes e pessoas com deficiência. Com os novos preços, a expectativa é de que os cofres públicos tenham economia de R$ 161 milhões por ano. A pasta também pretende implementar melhorias no sistema de transporte público, como a substituição de frota e a compra de ônibus.
Passagem cara, serviço ruim
Descumprimento de horários, superlotação, insegurança, má qualidade de estrutura e até falta de troco. As dificuldades com o transporte público do Distrito Federal são muitas, e as reclamações dos usuários do serviço aumentaram após as passagens ficarem mais caras. A mudança é considerada desproporcional à qualidade do serviço recebido pela população. O Correio esteve na Rodoviária do Plano Piloto para acompanhar o primeiro dia das novas tarifas, e opiniões contrárias foram unânimes: a estrutura oferecida não condiz com o preço.
A mudança tem impacto maior para os que trabalham por conta própria e arcam com todo o valor das passagens. Caso do assessor administrativo Walas Diniz, 45 anos, que utiliza o metrô diariamente para sair de Ceilândia em direção ao Plano Piloto. “Eu acho que o novo preço é incompatível com o transporte. Você tem um aumento, mas não tem benfeitoria para o usuário. Sair de R$ 5 para R$ 5,50 sem melhor qualidade não é justificado”, opina o administrador.
A dona de casa Ivanilde Braga, 50, reclama da falta de compatibilidade do aumento das tarifas com o valor do salário mínimo. “A passagem aumenta, mas o salário, não. E a qualidade do transporte não condiz. Eu até consigo pegar ônibus vazios, mas têm pessoas que reclamam de lotação e é normal o ônibus quebrar no meio do caminho”, diz a moradora do Recanto das Emas.
O gerente de recursos humanos Jhony Eloi, 30, entende a necessidade de o aumento ir de acordo com outros reajustes de serviços, mas afirma que a realidade do transporte dificulta a compreensão em se pagar mais. “Não dá para concordar. O repasse não condiz com a realidade do serviço. Os problemas de horários atrasados e lotação são constantes.”
Além das dificuldades de acesso, falta conforto para quem está dentro dos coletivos ou no metrô. A assistente de projeto Naianna Ramalho, 22, relata que os usuários de ônibus de Sobradinho lidam constantemente com a superlotação. “Os ônibus que saem de Planaltina chegam a Sobradinho lotados. Tem gente que até se senta no chão. E, por não ter ar-condicionado, nessa época mais quente, tem quem passe mal pelo calor dentro do ônibus. A gente já chega exausta ao destino”, critica.
Naianna, que estuda administração em uma faculdade na Asa Sul, chega a utilizar cinco ônibus por dia. Na volta para casa, também há lotação e problemas com insegurança: “É um risco para as mulheres. Às vezes, fico esperando o ônibus até as 23h, e não tem alternativa, além de aguardar na parada. Ir para a rodoviária nesse horário não dá. Eu vou sentada por pegar o ônibus no início da rota. Mas, se pensar em quem trabalha o dia inteiro, vai para a faculdade e ainda volta em pé para casa, é muito cansativo”.