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Crônica da Cidade

Correio Braziliense
postado em 15/01/2020 04:44



Calendário do Athos


Fui até a 404 Sul para comprar o calendário do Athos Bulcão de 2020. Em Brasília, existe um calendário floral que nos orienta sobre o tempo e as estações. Agora, estamos no compasso dos cambuís e dos flamboyants de dezembro estendendo o fulgor a janeiro. De maneira semelhante, sem o calendário do Athos, fico desconectado.

O calendário traz imagens com as quais a gente convive, cotidianamente, mas, muitas vezes, sob a mira de uma perspectiva inédita dos fotógrafos ou de um novo recorte, que reaviva e renova o nosso olhar sobre a cidade. É o caso da foto de Patrick Grosner que flagra os relevos do Teatro Nacional no momento em que estavam talvez um pouco descuidados, mas com a beleza da luz brasiliana incindido sobre cada módulo.

Ou da belíssima pintura do teto da Capela Nossa Senhora da Conceição, no Palácio da Alvorada, em tom predominante azul. Morei na 407 Norte e sempre passava em frente a uma escola com painel do Athos. Na foto, ele aparece povoado de crianças em uma corrida de recreio.

Não conhecia o painel de um bloco da 107 Sul nem o da garagem do Quartel General do Exército. A Treliça em madeira e ferro pintado do Palácio do Itamaraty, vejo todos os dias ao passar de carro ou de ônibus.

O arquiteto e parceiro Lelé Filgueiras ressalta que Athos Bulcão é uma figura exemplar nas artes plásticas, não só no Brasil, mas no mundo. Nenhum artista integrou de forma tão profunda a sua arte na arquitetura.

Apesar das propostas de Fernand Léger e de Mondrian nesse sentido, depois do advento da arquitetura moderna, isso só aconteceu com abrangência pelas mãos de Athos Bulcão: “Athos não é somente um artista de Brasília; é um artista universal”.

O crítico de arte e professor Agnaldo Farias declarou: “Se o Athos Bulcão não fosse brasileiro, seria um herói. O Brasil é um país paroquial, provinciano”.

Que me permitam ao menos o espanto. Fico estupefato de que o artista mais importante de Brasília não tenha direito a uma sede digna. A todo momento, cogita-se construir um museu da ciência, museu da consciência, museu do Jango, museu da Bíblia.

Mas ninguém fala em doar um terreno e construir a sede definitiva da Fundação Athos Bulcão, projeto de Lelé Filgueiras. Espero que, na passagem dos 100 anos de Athos e dos 60 de Brasília, algum governante se lembre de conceder uma casa digna ao mais importante artista da cidade. Seria um espaço de educação e uma atração turística para Brasília. Quem ama, cuida.



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