Cidades

Maus-tratos à mãe idosa

Encontrada pela polícia com várias feridas e em ambiente em péssimas condições de higiene, mulher de 69 anos está internada em estado gravíssimo. Principal suspeita, filha foi solta após pagar fiança

Correio Braziliense
postado em 16/01/2020 04:07
Casa em que a idosa estava tinha lixo espalhado por todos os cômodos


Uma idosa encontrada em situações de maus-tratos em Taguatinga Sul está em estado gravíssimo no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). A filha, de 38 anos, é a principal suspeita por ter submetido a mãe, de 69, a condições precárias por 10 anos. Policiais Civis da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa, ou com Deficiência (Decrin) receberam a denúncia de um médico do Núcleo de Atendimento Domiciliar (NRAD) da Secretaria de Saúde.

A situação foi descoberta na última terça-feira. Ao chegarem ao endereço, os agentes encontraram a vítima, que vive em estado vegetativo por conta de um acidente automobilístico, acamada, sem dentes e com várias feridas abertas pelo corpo, inclusive com parte do pulmão exposta. Segundo a delegada-chefe da Decrin, Ângela Maria dos Santos, a mulher morava apenas com a filha, Flávia Cristina Marçal, na residência. “A casa estava em péssimas condições de higiene, com lixo espalhado por todos os cômodos e com forte odor de urina e fezes. Também não havia ventilação no ambiente”, disse.

De acordo com a delegada, a idosa recebia visitas de equipes médicas no NRAD semanalmente, mas até então não havia sido constatadas irregularidades. Em setembro do ano passado, a delegacia chegou a receber uma denúncia, por telefone, de maus-tratos no mesmo endereço. “A equipe esteve no local e foi feito um relatório, mas nada ficou comprovado. A situação não era a mesma que encontramos na terça-feira”, explicou a investigadora.

Imagens divulgadas pela Polícia Civil mostram como estava a residência quando a polícia chegou. Dentro da pia do banheiro, por exemplo, estavam vários produtos jogados, como garrafa de álcool, água sanitária, desodorante e cremes para cabelo. O vaso sanitário e a descarga não tinham tampas. A mulher foi encaminhada em urgência para passar por um procedimento cirúrgico no HRT devido às feridas abertas. Até a última atualização desta reportagem, a vítima encontrava-se entubada, em estado gravíssimo.

Acusada

Em depoimento à polícia, a filha informou que, pelo fato de a mãe ser alimentada por sonda e ter os medicamentos fornecidos pelo Estado, não tinha gastos com ela. “Mesmo não tendo que desembolsar o dinheiro para ajudá-la, os médicos a orientaram a virá-la na cama de duas em duas horas, mas ela confessou no interrogatório que só fazia isso durante o dia. De qualquer forma, ela poderia ter contratado uma cuidadora, pois tinha dinheiro suficiente para custear o serviço”, detalhou a delegada.

De acordo com a investigadora, Flávia Cristina utilizava da aposentadoria da mãe, no valor de R$ 3.900, para comprar roupas, aparelhos eletrônicos, utensílios para a casa e até reservava parte do dinheiro em uma poupança que, segundo a acusada, seria para “dar um funeral digno” à vítima.

A filha foi autuada pelos crimes de omissão de socorro, crime de perigo e apropriação de bens. Somadas, as penas podem chegar a três anos, mas são afiançáveis. “Ela pagou um valor de R$ 2.500 e foi liberada em seguida. O que nos deixa em uma situação difícil é o tempo das penas, que são muito baixos. Omissão de socorro e crime de perigo, por exemplo, vão até um ano. São delitos de pequeno potencial ofensivo, o que dificulta o trabalho para que os autores permaneçam presos”, frisou a delegada.

Agora, a denúncia segue para o Ministério Público para dar prosseguimento à investigação. De acordo com a delegada, caso a idosa venha a falecer, as penas para a filha podem se agravar.

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