Correio Braziliense
postado em 17/01/2020 04:16
Mesmo depois do anúncio da Petrobras de que reduziria o preço dos combustíveis nas refinarias, nas bombas do Distrito Federal os valores seguem altos. Diante desse cenário — sem perspectiva de melhora —, os brasilienses têm buscado alternativas para driblar a sobrecarga nas contas.
Motivado pelo elevado preço da gasolina, Yuri Brazil Nogueira, 38, evita dirigir até Águas Claras, onde mora e, durante a semana, deixa o carro estacionado próximo à estação de metrô da 114 Sul. Com isso, diminui a rodagem com o veículo, que, agora, circula apenas no Plano Piloto. Os reflexos da iniciativa são visíveis no orçamento. “Fiz um cálculo e estou economizando em torno de R$ 300 por mês só com essa brincadeira, me locomovendo da 413 Norte, onde trabalho, até a Asa Sul, onde deixo o carro”, conta.
Há pouco mais de dois meses, ele acorda às 5h30 para dar conta da rotina. Pela manhã, o analista de sistemas pega o metrô na estação Arniqueiras e vai até a Asa Sul. De lá, segue de carro para a academia. Depois se arruma na casa do pai, na 415 Sul e, então, vai para o trabalho, com o automóvel.
Ao fim do expediente, por volta das 17h, Yuri retorna à 114 sul, onde deixa o carro novamente. A partir daí, o metrô é o transporte escolhido para voltar pra casa. “Morava na 413 Norte, mas me mudei para Águas Claras porque comecei a trabalhar em uma empresa lá. Aí recebi uma proposta de voltar a trabalhar na Asa Norte, mas gosto bastante de morar em Águas Claras. Agora, tem o problema do trânsito. Isso afeta muito o gasto com gasolina. Quando termino meu expediente, o trânsito é ferrenho para voltar e vai o dobro do combustível. Toda hora acelerando e desacelerando. Esse gasto me motivou a usar menos o carro”, diz.
Yuri ainda busca outras alternativas para custear sua locomoção. Depois de uma experiência como passageiro, o analista de sistemas cogita oferecer caronas através de um aplicativo. “Logo quando comecei a fazer estas jornadas para economizar gasolina, deu um problema no transporte e eu não consegui vir de Águas Claras para o Plano de metrô. Fui pesquisar, e a corrida com motoristas estava dando R$ 90. Baixei um aplicativo de caronas e vi que é bem legal. Você paga em torno de R$ 4. É mais barato que ônibus. Então, cogito aderir como motorista e dar carona às pessoas. De repente, isso já pode custear todo o preço da gasolina. Se eu colocar quatro pessoas por dia no meu carro, talvez ainda dê até mais algum trocado”, projeta.
Compartilhamento
Há ainda quem prefira nem tirar o carro da garagem. É o caso do segurança Bruno Santos Felizardo, 34, morador do Sudoeste. “É complicado. Você tem que economizar. O negócio só sobe. Não baixa nunca. O salário também não acompanha. Então, você anda de ônibus, a pé, de bicicleta, o que for. Economiza de tudo quanto é jeito, porque não dá pra ir todo dia de carro trabalhar. O bolso não aguenta”, afirma.
Com o peso do custo para abastecer afetando o orçamento, ele se organiza para dividir a gasolina com colegas de trabalho nos dias em que opta por utilizar o automóvel. “Se eu for de carro, chamo o pessoal para rachar o combustível, porque não dá para arcar sozinho. Faço segurança privada. Tem dia que estou em um lugar, tem dia que estou em outro. Então, fica complicado rodar assim, porque o preço do combustível está fora do comum”, conta o rapaz, que viu a média mensal de gastos de R$ 150 subir em 10 dias. “Hoje em dia, está sendo esse valor por semana, e isso economizando. Está bem difícil. É uma coisa que não entra na cabeça”, protesta.
O lado positivo é que a situação proporciona momentos de aproximação entre Bruno e a filha Larissa, 7. Com a alta do valor do combustível, as idas até a escola da menina, no Cruzeiro, têm sido a pé. Ao longo da caminhada de 40 minutos, pai e filha desfrutam da presença um do outro. “Levo e busco ela a pé. A não ser quando está chovendo. Mas, fora isso, procuro ir sem carro. É um tempo bom de caminhada. A gente vai andando devagarzinho, conversando e vendo a paisagem, pra passar o tempo e não ficar puxado pra ela também. Às vezes, a pego um pouquinho no colo e continuamos andando. Hoje em dia, pra você ter carro, tem que usar só nos momentos mais necessários. Não tem jeito.”
Aumento
Em janeiro, o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) do Ministério da Economia registrou um aumento no preço médio da gasolina no DF. O valor que na primeira quinzena de dezembro era de R$ 4,38 chegou a R$ 4,61 no início deste mês (veja Variação). O preço nas bombas, contudo, foi diferente em alguns estabelecimentos. Isso porque, segundo Paulo Tavares, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicombustíveis-DF), os postos oferecem descontos no começo do ano, em razão de a cidade estar mais vazia. Assim, conforme Tavares, existe uma tendência de aumento em fevereiro.
“O preço do barril subiu. Mas o combustível baixou aqui, porque os postos de gasolina têm muito estoque e as distribuidoras também. É igual liquidação de shoppings. Eles precisam escoar para pagar as contas que possuem. Então, em dezembro e janeiro, geralmente, baixa. Mas é muito provável que, em fevereiro, assim que acabar as férias, o preço se realinhe, em relação ao que estava em dezembro. Isso é o que está acontecendo atualmente em Brasília”, afirma o presidente do Sindicombustíveis.
Na avaliação do economista Newton Marques, do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), diante da escalada nos preços, o brasiliense vai mesmo precisar se adaptar. “Se está apertado, vai apertar mais ainda, porque você não pode deixar de tomar o transporte público para ir ao trabalho. Outros não podem deixar de usar o veículo próprio. Não tem jeito. O brasiliense vai ter que mudar os seus hábitos. Você continua usando estes transportes e diminui seus custos em outras coisas, porque sua renda é limitada. No curto prazo, ninguém consegue aumentar seu rendimento para compensar possíveis perdas”, explica.
*Estagiário sob supervisão de
Fernando Jordão
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