Cidades

Crônica da Cidade

Cultura destravada

Correio Braziliense
postado em 17/01/2020 04:16
Muito oportuna a intervenção do novo secretário de Cultura, Bartolomeu Rodrigues, no sentido de destravar o FAC (Fundo de Apoio à Cultura), lançar editais e entabular negociações para restaurar a Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. É de providências simples como essas que a cidade precisa para recuperar o tempo perdido com falsas questões.

Nos tempos em que trabalhei no caderno Turismo, visitei várias capitais e conheci inúmeros projetos de restauração e revitalização de espaços. Antigos presídios, galpões de portos e estações foram restaurados para funcionar como núcleos culturais. Os secretários de Cultura e assessores tinham orgulho de mostrar os novos espaços.

É o caso da Estação da Luz, transformada em sede do Museu da Língua Portuguesa, que realizou magníficas exposições sobre Clarice Lispector, Gilberto Freyre, Fernando Pessoa e Oswald de Andrade. As mostras incorporaram o arsenal de recursos virtuais e atraíram milhares de visitantes. Sempre imaginei que esse projeto poderia ter saído de Brasília.

Mas, enquanto isso, por aqui, com honrosas exceções, o descaso de sucessivos governos com a cultura reduziu salas e monumentos de uma cidade tombada como patrimônio cultural da humanidade a monumentos ao descaso.

Quando alguém chega a Brasília, não é levado por nenhum guia turístico até o Congresso Nacional, que aponta: “Aqui tem muitas pessoas probas, ilibadas, preocupadas com os problemas da maioria dos brasileiros e com o destino do Brasil”. Ou em frente à Câmara Legislativa: “Vejam, que incrível. Os parlamentares dessa Casa gastaram combustível suficiente para dar uma volta ao mundo”. Ou às superquadras 500 do Sudoeste: “Aqui a especulação imobiliária construiu as quadras 500, devastando o restante de cerrado que existia e provocando desequilíbrio no meio ambiente, que afetará a qualidade de vida no Plano Piloto”.

Quer saber das obras de Oscar Niemeyer, de Athos Bulcão, de Volpi, de Galeno, de Maria Martins, de Marienne Perretti, de Ceschiatti ou de Renato Russo. Quer saber da pirâmide do Teatro Nacional. Ou dos jardins de Burle Marx. Ou do que vai rolar no Clube do Choro. E a cidade não pode viver só do passado, precisa se renovar e conceder espaço para as novas gerações.

Cultura não existe só para fazer festa de réveillon ou show no dia do aniversário da cidade. Isso não pode ser o objetivo de uma política cultural. Ela precisa ser uma respiração cotidiana da cidade. Política cultural é o Fundo de Apoio à Cultura, uma política de Estado, em caráter permanente, que contempla múltiplas áreas das artes.

Brasília é uma cidade artificial, a cultura não tem apoio de empresas nem de uma rede sólida de instituições. Recife e Belo Horizonte, cidades que mantêm editais contínuos, têm se destacado no cinema. Existem muitos desafios, mas liberar o FAC destrava a cultura na cidade.
 
 

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