Correio Braziliense
postado em 19/01/2020 04:07
Enquanto o Cine Brasília segue com uma agenda vigorosa, do outro lado da cidade, o prédio do Museu da Arte de Brasília (MAB) sofre com o abandono. Construído também na década de 1960, a estrutura foi erguida como um anexo do Brasília Palace Hotel, segundo a pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) Maira Guimarães. “O hotel era a hospedagem oficial, mas os próprios funcionários não tinham onde ficar, então, decidiram fazer esse anexo”, afirma. Maira conta que a construção era formada por quatro pavilhões simples, com um restaurante no meio.
Segundo a pesquisadora, o projeto inicial, do restaurante, foi feito em 1959, pelo alagoano Abel Carnauba Accioly. “Ele veio para Brasília para ser desenhista técnico e nem era formado em arquitetura ainda, era estagiário na Novacap. Tinha 22 anos quando fez o projeto”, afirma. Já a estrutura é assinada por Joaquim Cardozo, calculista dos monumentos de Niemeyer.
Em 1966, o espaço foi transformado no Clube das Forças Armadas. A instituição usou o local até 1975, quando a estrutura foi alugada e se tornou o Casarão do Samba. O museu só foi inaugurado em 1985. “A arquitetura do prédio gerou muitos problemas. Uma reserva técnica, com quadros muitos importantes, um acervo milionário, ficavam no subsolo úmido, sem climatização. Isso foi um dos principais motivos que levaram o prédio a ser interditado”, ressalta.
O MAB recebeu todas as obras que foram adquiridas nos salões de arte desde a década de 1960. Entre elas, trabalhos de Rubem Valentim e Athos Bulcão. Atualmente, estão no Museu Nacional. Outro problema do espaço era a viabilidade de organizar exposições. Elas aconteciam no salão principal, que tinha poucas paredes, além de a fachada ser uma varanda.
O MAB foi interditado em 2007, mas sofria problemas havia mais de uma década. “Em 1990, o espaço foi fechado para reforma. Em 1995, novamente. Estava sempre com esse problema de funcionamento. O acervo é muito importante, mas a impressão é de que o museu não teve o reconhecimento que merecia”, destaca Maira.
A promessa da Secretaria de Cultura é de reinaugurar o MAB no segundo semestre de 2020. De acordo com a pasta, mais de 30% das obras foram executadas. Questionada sobre a demora na reforma, a secretaria destacou que é um “processo tecnicamente complexo, considerando as intervenções necessárias para adequá-lo às mais modernas práticas museológicas, sobretudo no diz respeito à segurança e conservação do acervo, como fechaduras biométricas e ar-condicionado em todo o edifício”.
Distância do público
Depois de todos os anos em que se manteve fechado, o Museu de Arte de Brasília acabou se tornando um espaço distante até de quem costuma consumir cultura. Entre os jovens, por exemplo, há um desconhecimento sobre o MAB. O estudante Júlio Cezar Rodrigues, 21, conta que é frequentador constante de locais destinados à arte no DF, mas sabe pouco sobre o museu às margens do Lago Paranoá. “Brasília tem boas opções artísticas. Mas percebo que ainda há uma histórica desvalorização governamental desses espaços. O fato de o MAB estar fechado há tanto tempo evidencia isso”, opina.
13 anos fechado
» O MAB foi desativado, em 2007, por conta de uma ação civil pública interposta pela Promotoria de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural (Prodema), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que alegou a necessidade de proteção do acervo, indicando que ele estava armazenado em péssimas condições por conta da deterioração do prédio. O MPDFT ressaltou que as peças poderiam ser danificadas, caso o edifício não passasse por uma reforma. Atualmente, as obras restauradas estão sendo exibidas em espaços culturais como o Museu Nacional.
4.800 m² área total
1960 prédio construído
1985 definido como museu
2007 fechado por recomendação do MPDFT
R$ 8,9 milhões valor da revitalização e modernização do espaço
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