Cidades

Os gargalos de Águas Claras

Congestionamento e falta de vagas incomodam os moradores da cidade mais verticalizada do DF. Com 16 anos, a região administrativa, que tem média de veículos por habitante parecida com a do Rio de Janeiro, carece de planejamento

Correio Braziliense
postado em 20/01/2020 04:15
Segundo a Codeplan, Águas Claras tem 46.837 automóveis, 3.294 motocicletas e 19.427 bicicletas: fluxo intenso de veículos

Criada há 16 anos, Águas Claras sofre com os problemas de uma metrópole. A cidade, a mais verticalizada do Distrito Federal, foi planejada para ter prédios com, no máximo, 12 andares. Entretanto, o governo, à época, alterou o projeto original e, hoje, há edifícios com mais de 30 pavimentos (leia Para saber mais). Agora, o brasiliense começou a sentir os impactos da localidade inflada. Não há estacionamentos suficientes, faltam equipamentos públicos, como delegacias e hospitais, e os congestionamentos se expandiram das vias para dentro dos condomínios residenciais.

A Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad) de 2018, da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), mostra que 161.184 pessoas residem em Águas Claras. Elas estão distribuídas em 53.939 domicílios. Do total, 80,5% (43,4 mil) são apartamentos, enquanto 18,1% (9,7 mil), casas. Em 2013, havia 119.864 habitantes. Comparado com 2018, o número cresceu 34% em cinco anos. Em 2016, o Pdad estimava 148.490 moradores na cidade.

O levantamento mostra, ainda, que 86,8% dos domicílios de Águas Claras têm pelo menos um veículo na garagem. De acordo com o estudo, são 46.837 automóveis na região administrativa. Além disso, há 3.294 motocicletas e 19.427 bicicletas. A quantidade de veículos chega a ser maior do que em outras cidades do DF com população maior. Em Samambaia, por exemplo, vivem 232.893 pessoas, 30% a mais do que em Águas Claras. Lá, há 40.368 automóveis, 13% a menos. Em Taguatinga, com 205.670 habitantes, a situação é parecida: 45.951 automóveis, número quase 2% inferior.

Além disso, o total de veículos em Águas Claras se aproxima de grandes capitais brasileiras. Na cidade do Rio de Janeiro, a segunda cidade mais populosa do Brasil, com 6.688.927 moradores, a taxa média de veículos por 100 mil habitantes é de 30.437. A diferença ante a região administrativa fincada entre Taguatinga, Vicente Pires e Guará é de apenas 4% — o índice é de 29.059 por habitante.

Por causa disso, quem vive em Águas Claras precisa se adaptar ao tráfego pesado. Há cinco meses na cidade, Wemerson Caixeta, 25 anos, teve de alterar a rotina para ir ao trabalho, no Setor Bancário Sul. “Nesse período de férias, o movimento é menor, mas, durante o ano, o fluxo de carros é intenso”, diz. Até para sair do prédio onde mora, na Rua 36 Norte, o engenheiro tem dificuldades. “Como a minha residência fica próxima a dois cruzamentos, já aconteceu de eu ficar cerca de 15 minutos parado no estacionamento do condomínio”, revela.

A fim de fugir dos congestionamentos, o jovem adiantou o horário de saída para o serviço e passou a utilizar aplicativos de carona. “Saio de casa uns 20 minutos antes e pego a carona em algum ponto combinado. Além de economizar dinheiro, evito o estresse de dirigir no trânsito”, explica. Wemerson também evita rodar nos horários de pico. “Diversas vezes, faço hora no Plano Piloto para não ter de encarar o engarrafamento.”





Planejamento
O professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Frederico Flósculo Pinheiro Barreto explica que as alterações feitas no projeto original de Águas Claras reforçam os problemas da cidade, que deverão se agravar com o passar do tempo. “O que aconteceu na região é uma tragédia anunciada para Brasília, um exemplo da falta de planejamento urbano. Inicialmente, seria um lugar equilibrado, mas não é isso que se encontra hoje em dia”, aponta.

De acordo com o especialista, a região administrativa também apresenta graves problemas ambientais. “O nome da cidade faz referência a diversas nascentes que existiam ali, no subsolo, que precisaram ser bombeadas para que a cidade fosse construída”, lembra. “O planejamento urbano precisa ser refeito. Os moradores pagam impostos e precisam de algo sustentável, seguro, limpo e agradável”, cobra. Ele destaca ainda que a verticalização imobiliária da região é um jogo perigoso e deverá causar mais transtornos com o passar do tempo. “Uma cidade desse tamanho não tem hospital público, delegacia ou escolas públicas. Falta todo o equipamento da cidadania”, critica.

Em nota oficial, a Administração Regional de Águas Claras informa que fez alterações, no ano passado, no trânsito. Entre as mudanças estão a faixa adicional de rolamento no Balão da Unieuro, a construção do Balão da Avenida Parque Águas Claras com a Flamboyant, além da intervenção no semáforo da Avenida Pau-brasil. De acordo com o órgão, as obras para construção de outra saída da cidade deve começar neste ano.

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