Correio Braziliense
postado em 24/01/2020 04:42
Na semana passada, tive acesso à primeira pesquisa de 2020 sobre a eleição para Prefeitura de São Paulo, realizada pela empresa Badra Comunicação. O levantamento ouviu 2.408 paulistanos, de 8 a 10 de janeiro, tem margem de erro de 2% e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A menos de 10 meses do primeiro turno da eleição municipal, diante da pergunta “Em quem votaria para prefeito de São Paulo se a eleição fosse hoje”, feita sem apresentação de uma cartela com possíveis postulantes ao cargo, 46,7% disseram não saber. De outro lado, 33,6% afirmaram que não votariam em ninguém, um alto percentual que revela uma combinação de ceticismo, revolta e decepção com a política.
É sabido que qualquer pesquisa mostra um retrato do momento, mas também podem servir para identificarmos tendências no comportamento. Por isso, mais do que os índices acima e os percentuais de intenção de voto ou rejeição dos pré-candidatos testados, chamaram a minha atenção alguns dados relativos às expectativas do eleitorado sobre a futura administração da cidade. Nesse sentido, foram elaboradas cinco perguntas temáticas, cujas respostas deveriam completar a seguinte frase: “Gostaria de ver, na cadeira de prefeito de São Paulo, a partir de 2021...”. Vamos ver a seguir o que foi levantado.
Na primeira delas, abordando a opinião quanto ao gênero, as respostas foram as seguintes: 35,4% prefeririam que fosse uma mulher, 20,6% optariam por um homem, e para 43,3% seria indiferente. Na segunda, sobre a faixa etária, as respostas indicaram que 62,6% gostariam de alguém com mais de 35 anos, outros 12,5% optariam por pessoas com menos de 35 anos e para 24,4% a idade seria indiferente. Na terceira, 63,1% escolheriam alguém experiente na política, 26,4% indicariam um(a) novato(a) e para 9,4% seria indiferente. Na quarta, sobre visão política e/ou ideológica, o resultado foi que 53,8% gostariam de alguém com pensamento moderno, 36,5% prefeririam alguém com pensamento conservador e 8,2% manifestaram-se como indiferentes. E na quinta, sobre o foco principal da gestão, foi apurado que 58,4% apoiariam que se investisse mais no social, 25% em obras e para 15,4% seria indiferente. Ou seja, se a gente fizer um cruzamento dessas respostas podemos inferir que, no cenário de hoje, a maioria pesquisada preferiria alguém mais velho, com experiência na política, com pensamento moderno e que priorizasse o investimento na questão social. Será isso mesmo?
Para respondermos a essa indagação, vale a pena olharmos para os resultados das eleições de 2018, tanto no plano nacional quanto na cidade de São Paulo. Naquela ocasião, o Brasil inteiro viu as urnas varrerem do mapa inúmeras lideranças com muitos anos de trajetória na vida pública, independentemente da opção programática ou ideológica, tal qual uma metralhadora giratória com o lema: “Renovação já!”. No caso da capital paulista não foi diferente, mas tivemos um caso peculiar: foi a segunda vez na história recente em que um prefeito renunciou no meio de seu primeiro mandato para concorrer a outro cargo eletivo. Assim, na cidade que amanhã comemora 446 de idade, o segundo turno em 2018 trouxe um aparente paradoxo: para presidente, Bolsonaro ganhou com 55,13% dos votos válidos e, para o governo do estado, Márcio França, que apoiou e foi apoiado por Fernando Haddad, obteve 58,1% em sua disputa com João Dória. Não custa lembrar que na eleição para a Prefeitura em 2016, Dória foi eleito no primeiro turno com expressivos 53,29% dos votos válidos, tendo se apresentado como um representante da renovação e da nova política, numa campanha marcada pelos ataques ao PT e ao então prefeito Haddad, mas também dirigindo pesadas críticas a seu partido, o PSDB, que comanda o governo estadual desde 1995. Ou seja, no intervalo de dois anos, a população paulistana passou do amor ao ódio por ele.
Muito provavelmente essa experiência gerou um trauma que pode explicar a aparente rejeição a candidaturas renovadoras apontada pela pesquisa naquela cidade. Porém, não acredito ser uma tendência consolidada e, muito menos, replicável nacionalmente, em particular nos 197 municípios com mais de 100 mil eleitores. Minha experiência em consultoria política permite afirmar que nessas cidades as candidaturas ao executivo, para serem competitivas, precisarão construir uma estratégia e a correspondente narrativa nas quais sejam percebidas como um misto de renovação política e de capacidade para o exercício da função. Assim, o recado das urnas em 2020 deverá ser: renovação sim, mas sem aventura.
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