Cidades

Decreto abre oportunidade para ações emergenciais na saúde contra a dengue

Diante do risco de nova epidemia de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes, o governador Ibaneis Rocha assina decreto que abre oportunidade para ações emergenciais, como contratação de profissionais e compra de insumos sem licitação

Correio Braziliense
postado em 25/01/2020 07:00
Além do marido, que morreu de dengue na semana retrasada, cinco familiares de Sirleide da Conceição Silva pegaram a doença no Guará 2: O período de chuvas no Distrito Federal acendeu o alerta do poder público em relação ao risco de uma epidemia de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes. Diante disso, o governador Ibaneis Rocha (MDB) assinou, nesta sexta-feira (24/1), um decreto que declara situação de emergência no âmbito da saúde pública. O documento, publicado em edição extra do Diário Oficial do DF, abre espaço, por exemplo, para contratação temporária de profissionais, convocação de aprovados em concursos, extensão de cargas horárias de trabalho e compra de insumos sem a abertura de licitação.

A medida permanece em vigor até junho. “Fica declarada situação de emergência (...) em razão do risco de epidemia de dengue, potencial epidemia de febre amarela e da possível introdução dos vírus zika e chicungunha no Distrito Federal, bem como da alteração do padrão de ocorrência de microcefalias no Brasil”, detalha o decreto. O governo também contará com o apoio de equipes das forças de segurança e de outros órgãos do Executivo para auxiliar nos trabalhos de combate ao inseto e de conscientização.

Na manhã deste sábado (25/1), o subsecretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero, estará na Administração Regional do Guará para avaliar a situação. De lá, sairão 500 bombeiros para visitar residências da região e informar moradores sobre como se prevenir e onde buscar ajuda médica. “É preciso que tomemos todos os cuidados e atitudes o mais rápido possível para diminuirmos o risco dessa epidemia. As ações começaram e, a partir daí, será dedicação total à assistência, ao acolhimento e à intensificação das visitas domiciliares”, detalha Divino.

No ano passado, o DF bateu recorde histórico com relação à quantidade de casos registrados. A Secretaria de Saúde contabilizou mais de 47 mil casos prováveis de dengue e 62 mortes. O cenário, classificado pela pasta como epidemia, resultou em uma força-tarefa que mobilizou equipes do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), além de profissionais da saúde.

De acordo com o subsecretário da pasta, o número recorde de ocorrências no ano passado decorreu da introdução de um tipo novo e mais agressivo do vírus da dengue na Região Centro-Oeste, além da quantidade de chuvas registradas no Distrito Federal. “Pretendemos mostrar que esse problema de saúde pública é coletivo e que a resposta está na atitude das pessoas. É importante buscarmos uma consciência coletiva para termos resultado. Estamos fazendo um alerta bem mais cedo para mostrar que o problema está aí e é de todos”, ressalta Divino.

Indignação

Na casa da família de Sirleide da Conceição Silva, 56 anos, a dengue afetou cinco pessoas apenas neste mês. O marido dela, Antônio Valdeci Carneiro, 65, teve um quadro hemorrágico e morreu, na quarta-feira retrasada. Nesta sexta-feira (24/1), parentes e amigos participaram da Missa de Sétimo Dia em homenagem à memória dele. “O descaso está grande em relação a esse mosquito. Moro em uma casa e cuido direito dela, mas tenho vizinhos. Quantos mais precisarão morrer para que tomem providências? Estou indignada por ter perdido meu marido para um mosquito”, lamenta.

Moradora do Guará 2, Sirleide critica a existência de imóveis abandonados na cidade, além da falta de atenção a eles. “Está faltando controle. O pessoal está morrendo e ninguém vê. Está virando uma nova epidemia. A pessoa que atendeu o meu marido disse que nunca tinha visto uma evolução tão rápida (dos sintomas), pois ele adoeceu na quarta e morreu no sábado”, conta Sirleide.

Ainda se recuperando da doença, o filho do casal, Antônio Valdeci Carneiro Junior, 33, e a filha de 5 anos receberam o diagnóstico na semana passada ao levar o pai ao hospital. Ele cobra senso de coletividade por parte da população, além de mais ações do governo, como a intensificação das visitas de agentes de saúde para a fiscalização das casas. “Um mosquito tão pequeno faz um mal tão grande. Nunca tivemos uma ocorrência tão expressiva perto da família. A gente fica bem triste com a situação, desolado”, comenta Antônio.

Sintomas

O auxiliar de mecânico Gabriel Galleti, 21, também foi vítima da dengue em 2020. Morador do Guará 1, só depois de contrair a doença, ele descobriu que ela estava sendo frequente na região. “Há muitos anos, a minha mãe teve dengue. Então, em nossa casa, estamos bem atentos a todo tipo de prevenção. No meu trabalho, não vejo como (pode ter havido a transmissão pelo mosquito), pois temos bastante cuidado com água parada. Infelizmente, não sei se é assim em todas as empresas”, pontua.

Chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Lúcia, Werciley Júnior considera que a medida adotada pelo governo é uma antecipação. “A incidência dessas doenças normalmente sofre uma queda no início do verão e, logo depois, começa a aumentar. Mas o que aconteceu neste início de ano é diferente: entramos em 2020 com registros da doença; então, é realmente necessário começar a agir para enfrentá-las”, ressalta.

O infectologista comenta que o tratamento dos sintomas ocorre de modo a evitar que as condições evoluam para a morte; por isso, Werciley destaca que é importante se alertar quanto à prevenção. “É preciso estar atento, sobretudo neste período chuvoso, para evitar o acúmulo de água parada. Deixar garrafas abertas viradas para o chão, limpar calhas, observar pneus parados, pratos de planta e toda aquela série de medidas”, enumera.

Ainda de acordo com o médico, para avaliar a suspeita de infecção por alguma das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes, a recomendação é observar sintomas como febre, dor no corpo, fadiga, dor nas juntas, dor nos olhos ou até conjuntivite, para o caso de zika. Quem tiver sido acometido pela febre amarela também pode ter insuficiências hepáticas ou renais, além de manifestações hemorrágicas e cansaço.

Memória

Iniciativa semelhante

O governador Ibaneis Rocha iniciou o primeiro ano de governo com a assinatura de um decreto, declarando estado de emergência na saúde do Distrito Federal. A medida visava agilizar a contratação de profissionais e facilitar a manutenção de equipamentos. A divulgação do documento ocorreu durante o lançamento do programa SOS DF Saúde, conjunto de iniciativas emergenciais com foco no setor e carro-chefe do primeiro ano da gestão. Em maio, em face do aumento expressivo dos casos de dengue no DF, o Executivo anunciou a instalação temporária de tendas de hidratação para pacientes com suspeita da doença, em seis Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs). O projeto fez parte da força-tarefa anunciada pelo governo para controlar a epidemia da doença.

Fique ligado

Prevenção
» Evite o acúmulo de água parada. Mantenha as garrafas vazias com a boca virada para baixo e cheque pneus que estão sem uso pela presença de água no interior deles. Também deixe baldes, lixeiras, tonéis e caixas d’água bem tampados. Cubra com areia pratos e vasos de plantas e mantenha calhas limpas e ralos fechados.

Sintomas

» Ao menor sinal de febre, dor no corpo, fadiga associada a dor nas juntas, dor nos olhos e na cabeça, conjuntivite, mal-estar, manchas vermelhas pelo corpo e falta de apetite, procure a unidade de saúde mais próxima para avaliação de um médico.

Repouso e hidratação

» Em caso de diagnóstico positivo para doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, siga a recomendação médica e respeite o tempo de recuperação. Beber bastante água ajuda o organismo durante o tratamento.

Números de 2019

Dengue

47.393: casos prováveis (confirmados em laboratório)

62: mortes

Chicungunha

42: casos confirmados

1: morte

Zika

432: casos prováveis

Febre amarela

95: casos notificados

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