Correio Braziliense
postado em 26/01/2020 04:07
Estudos sobre o solo, planejamentos urbanísticos, compra de materiais de infraestrutura e contratação de empreiteiras. Há quem acredite que esse era o princípio da construção de uma cidade projetada para ser símbolo da transformação do país, como foi Brasília. Mas as palavras de Juscelino Kubitschek, em maio de 1960, mostraram uma outra visão. Dentro da primeira instituição de ensino da nova capital, JK afirmou que era ali o ponto de partida do moderno programa da República. Em meio ao barro de uma cidade ainda em construção, o então presidente entendeu que a educação de qualidade teria o poder de erguer a Brasília dos sonhos. Assim ganhava vida a Comissão de Administração do Sistema Educacional de Brasília (Caseb), que pensou ainda o funcionamento da Escola Parque 308 Sul. As primeiras instituições de ensino da região administrativa de Brasília são temas da sétima reportagem da série Brasília sexagenária.
A comissão tinha como objetivo definir cada detalhe do planejamento pedagógico da cidade, com a missão de instalar aqui um ensino integrado, democrático e criativo, que se preocupasse com o desenvolvimento cultural, social, físico e profissional dos alunos. Afinal, era na escola que começava a ideia de um novo Brasil. “O que a história diz é que Juscelino era um visionário e revolucionário. Para trazer uma educação de qualidade, ele fez um concurso de professores com salário e condições muito atrativos, como garantir a liberdade de ensino, oferecer vencimento quatro vezes maior do que a média, alimentação e moradia. Então, educadores de ponta foram contratados e a Caseb se transformou em escola, hoje conhecida como Centro de Ensino Fundamental (CEF) Caseb”, lembra a atual diretora, Angelita Amarante.
A primeira aula da primeira escola da cidade de Brasília ocorreu em 16 de maio de 1960, reunindo estudantes de várias partes do país. “Era a única escola públicaque tinha no Plano Piloto, então recebeu os filhos de diversos pioneiros. Tivemos filhos de senadores, deputados, secretários de Estado, candangos. Todos recebendo uma educação de qualidade”, afirma Angelita. Três dias depois, a instituição recebeu a aula inaugural, com direito à participação de JK, do ministro da Educação e Cultura, Clóvis Salgado; e do prefeito de Brasília, Israel Pinheiro. “Nenhum acontecimento é mais auspicioso para esta cidade, depois de sua fundação, do que o ato que aqui nos reúne”, afirmou Juscelino, em discurso.
A primeira aula da primeira escola da cidade de Brasília ocorreu em 16 de maio de 1960, reunindo estudantes de várias partes do país. “Era a única escola públicaque tinha no Plano Piloto, então recebeu os filhos de diversos pioneiros. Tivemos filhos de senadores, deputados, secretários de Estado, candangos. Todos recebendo uma educação de qualidade”, afirma Angelita. Três dias depois, a instituição recebeu a aula inaugural, com direito à participação de JK, do ministro da Educação e Cultura, Clóvis Salgado; e do prefeito de Brasília, Israel Pinheiro. “Nenhum acontecimento é mais auspicioso para esta cidade, depois de sua fundação, do que o ato que aqui nos reúne”, afirmou Juscelino, em discurso.
Até hoje, o CEF Caseb carrega símbolos daquele dia 19. Entre eles, o piano em que a artista e professora Neusa França compôs o Hino de Brasília. Anete Vidal, 71 anos, foi aluna de Neusa e lembra com carinho os anos que passou na escola, entre 1962 e 1965. “Minha família tinha saído dos Estados Unidos e vindo a Brasília por conta do emprego do meu pai, mas não senti tanto contraste, porque o ensino do Caseb era ótimo, com professores de primeiro mundo. Eu me sentia uma criança privilegiada com aquelas aulas de música, desenho, cozinha, marcenaria”, descreve. Anete acredita que aquela pedagogia era revolucionária, moderna e necessária.
“Um colégio completo, que dava a possibilidade de entender o mundo lá fora, como indivíduo e profissional. Foi uma abertura de cabeça. Na aula de desenho, por exemplo, o professor colocava um jarro de planta na mesa, a gente quadriculava o papel e passava o desenho para lá, aprendendo noções de arte, espaço, disciplina, concentração, tudo ao mesmo tempo. Era maravilhoso!”, lembra. O contraste que Anete encontrou veio em 1964, com a ditadura militar. “Lembro-me dos professores fazendo paralisações e a polícia indo à escola, arrebentando os alambrados, atacando os ônibus que levavam os pedagogos. Foi uma agressividade muito grande que chocou as crianças. Nós éramos pequenos e vimos nossos professores sendo agredidos. Isso era muito fora do normal, porque eles eram respeitados”, diz.
Esporte para a vida
Pedro Rodrigues, 86, passou pelos melhores e mais difíceis anos da instituição. Ele viveu a integração de conteúdos e saberes na prática nos 21 anos de docência na escola. “Saí de Minas Gerais, que tinha um projeto bom de educação também, mas na capital era diferente. Meu salário aqui foi cinco vezes maior do que lá e a valorização do professor era muito grande”, conta. O aposentado deu aulas de educação física no Caseb, acompanhou construções de quadras e faz questão de se lembrar que as atividades eram pensadas de forma completa. “O ginásio foi feito às pressas, em 23 dias, com obras que duravam dia e noite. Mas a preocupação não era só o esporte. O nosso programa ensinava que a educação física educava corpo e mente. Isso era muito bom para os alunos e marcou muitas pessoas”, pontua.
A quadra recebeu nomes históricos para o esporte do país. Foi nela que Galvão Bueno, por exemplo, viveu a paixão pelo basquete. Um trecho do livro bibliográfico do narrador conta da influência do professor do Caseb nesse processo. “Pedro Rodrigues, meu técnico, foi uma das pessoas mais importantes na minha vida e na minha formação”, conta Galvão na obra. O professor aposentado morre de orgulho: “Ele foi meu orientando e um dos vários alunos que marcaram e vieram a se tornar motivo de admiração dos contemporâneos.”
Escola Nova
Escola Nova
» Anísio Teixeira, educador, é referência na pedagogia nacional. Fez parte de um grupo de pedagogos que buscou modernizar o ensino no país, buscando liberdade e democratização, entre outros ideais. As pesquisas do grupo deram início ao movimento chamado de Escola Nova, que deu origem ao “Manifesto da Escola Nova”, em 1932. Entre outras realizações, estão trabalhos como a criação da Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, em 1935, a nomeação para Conselheiro de Ensino Superior da Unesco, a direção do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep) e participação na fundação da
Universidade de Brasília (UnB).
Caseb
Escola Parque
Fonte: Museu da Educação do Distrito Federal
Caseb
» Área: 55.000 m²
» 4 quadras esportivas
» 1 ginásio, refeitório, secretaria, pátio cultural, laboratório de informática e auditório
» Ex-alunos famosos: Edward Cattete Pinheiro, Galvão Bueno, Lucélia Santos, Luiz Estevão, Nelson Piquet, Paulo Octávio, Pedro Parente, Renan Calheiros, entre outros.
Premiações
O Caseb desenvolve desde 2014 o projeto Matemática é Para Todos (MEPT), no contraturno escolar. Em 2019, cerca de 70 alunos participaram de atividades, que são voltadas à resolução de problemas em grupos colaborativos. O trabalho rendeu 16 premiações de alunos e duas de professores na Olimpíada Brasileira da Matemática em 2019. Por conta desse bom desempenho em competições, os estudantes do Caseb têm conseguido, desde de 2017, bolsas no Programa de Iniciação Científica na UnB. Em agosto de 2019, o projeto MEPT recebeu o prêmio “Práticas Inovadoras na Educação Pública do DF”, da Câmara Legislativa.
Você sabia?
Em 1969, o Caseb recebeu a visita de Edson Arantes do Nascimento, o rei Pelé, para inaugurar a ala de esportes dedicada a ele.
Escola Parque
Plano de Construções Escolares de Brasília
Previa, a cada quatro quadras, a construção de uma escola parque, destinada a atender, em dois turnos, com cerca de dois mil alunos oriundos das quatro escolas classe das quadras vizinhas. As atividades propostas orientavam para a iniciação ao trabalho, voltado a meninos e meninas de 10 a 14 anos, em pequenas oficinas de artes industriais, além da participação dirigida dos alunos de 7 a 14 anos em práticas artísticas, sociais e de recreação. Com frequência diária na escola parque, existia um regime de revezamento com o horário das escolas classe, isto é, quatro horas nas classes de educação intelectual e outras quatro nas atividades da escola parque, com intervalo para almoço.
Fonte: Museu da Educação do Distrito Federal
Estrutura
» Área 20.000m²
» 450 lugares — capacidade do teatro
» 4 quadras poliesportivas
» 2 piscinas
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