Correio Braziliense
postado em 27/01/2020 06:01
Por dia, quase 4 mil brasilienses levaram multas por excesso de velocidade no Distrito Federal em 2019. Dados do Departamento de Trânsito (Detran) mostram que foram aplicadas 1.450.915 infrações do tipo no ano passado. Por causa disso, o desrespeito à quilometragem estabelecida no tráfego aparece como a penalidade mais aplicada pelo órgão de fiscalização no período, apesar da queda desses flagrantes em relação a 2018.
Em alta, estão infrações como tráfego na faixa exclusiva para ônibus — subiu de 115.553 ocorrências para 142.350, um aumento de 23% na comparação dos dois últimos anos —, desrespeito ao pedestre, falta de cinto de segurança, tráfego de veículos sem licenciamento e uso de celular ao volante. O diretor de Policiamento e Fiscalização do Detran, Francisco Saraiva, ressalta que o crescimento de determinadas autuações também se deve à intensificação do trabalho dos agentes.
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Para os condutores, Saraiva ressalta que é necessário que saibam respeitar, principalmente, o direito dos outros. “Quando se comete uma infração, não se está transgredindo apenas o Código de Trânsito, mas colocando vidas em risco e ainda coibindo o direito de ir e vir de terceiros”, frisa.
O motorista do sistema de transporte por aplicativo Eduardo Moraes, 30 anos, levou multa por excesso de velocidade. “Os valores, entretanto, não condizem com algumas infrações. Precisei pagar mais de R$ 100 por estar a 5km/h acima do permitido. Achei muito, porque é um dia de trabalho”, lamentou. Contudo, o condutor destaca que quem descumprir regras precisa estar disposto a arcar com os preços cobrados.
Redução
Apesar do aumento de algumas infrações, o brasiliense também teve resultados positivos no trânsito. As multas por estacionar em local proibido caíram de 175.985, em 2018, para 162.723, em 2019, uma redução de 8%. No mesmo período, as ultrapassagens no sinal vermelho reduziram 28%, passando de 150.523 para 108.063. As autuações por tráfego no acostamento também diminuíram.
Adriana Modesto, doutora em transportes e especialista em segurança viária e mobilidade urbana da Universidade de Brasília (UnB), afirma que autuações como uso de celular ao volante, excesso de velocidade e alcoolemia estão relacionadas ao comportamento do condutor. “Quando se utiliza substância etílica e usa o telefone enquanto atravessa o pedestre, isso também coloca a pessoa em risco”, alerta. “O Estado pode intervir na segurança veicular no ambiente da via, na infraestrutura viária e também no comportamento humano. O trabalho precisa ser feito no sentido de se colocar barreiras protetivas. Campanhas de segurança e ações educativas são abordagens que podem ser feitas”, explica.
Segundo Adriana, a fiscalização deve ocorrer de forma efetiva e ostensiva, mas os órgãos de trânsito precisam agir no comportamento. “Não acredito que a distribuição de panfletos terá garantia de que aquela ação seja efetiva. O ideal é que se faça avaliação das campanhas feitas atualmente. Elas seguem os princípios da educação?”, questiona. A especialista acredita que o processo de formação do trânsito deve ser iniciado na infância, dentro da escola. “Você, talvez, não mude o condutor de hoje, mas está preparando o de amanhã”, destaca.
Acidente por culpa do telefone
Com o uso do telefone celular cada vez mais incorporado aos hábitos das pessoas, também aumentam os riscos de acidentes no trânsito ocasionados em função da utilização do aparelho. De acordo com o Departamento de Trânsito (Detran), 77.084 condutores foram notificados por manusear o celular enquanto dirigiam, em 2019 — uma média de 207 flagrantes por dia. Em 2018, a autarquia distribuiu 72.600 infrações do tipo, 6% a menos do que no ano passado.
Em novembro de 2016, a penalidade passou a ser considerada gravíssima, mas os números de infratores continuaram a subir. À época, a multa prevista aumentou de R$ 85,13 para R$ 293,47, além dos sete pontos na CNH. No entanto, a punição não impediu os acidentes. O Detran não tem levantamento sobre o número de mortes no trânsito causadas pelo uso do aparelho. Segundo o órgão, há dificuldade para flagrar o desrespeito antes de eventuais batidas. “Às vezes, a gente tem a informação do agente, mas não confirma, porque o agente chega, e o acidente já aconteceu”, explica o diretor de Policiamento e Fiscalização do Detran, Francisco Saraiva.
Segundo Saraiva, colisões menores provocadas pelo celular ao volante são mais frequentes. “No horário de rush, o maior número de acidentes são pequenas batidas causadas por de cidadão falando ao celular. Normalmente, ele não vê e bate. Isso provoca de três a quatro horas de congestionamento”, comenta. De acordo com o diretor, avanço de semáforo também é infração comum para quem está distraído em uma ligação.
Após passar por um trauma, a secretária Iasmin de Lima Rocha, 27 anos, evita utilizar o celular no trânsito. “Tenho medo de pegar no celular e dirigir. Não pelo fato de levar multa, mas pela possibilidade de ferir ou de matar alguém. Bateram em mim por usarem o aparelho e me machucaram. Eu estava parada na Esplanada dos Ministérios, e o rapaz foi mexer no celular e acertou meu carro por trás. Fui encaixotada entre dois veículos. Fiquei toda dolorida e assustada. Tenho mais consciência em função disso”, conta.
Bons exemplos
Pesquisador na área de transportes pela Universidade de Brasília (UnB), o professor Pastor Willy González Taco avalia que a fiscalização e as campanhas são fundamentais. No entanto, o especialista ressalva que precisa haver uma renovação no conceito do trabalho educativo. “A fiscalização precisa trabalhar pontualmente, em camadas específicas da população”, reforça.
Para o Pastor Willy, o celular ao volante não é um privilégio do brasileiro, mas é preciso incorporar bons exemplos para melhorar os índices. “Alguns países têm trabalhado em educação onde há muitas pessoas, como no cinema. Antes de iniciar o filme, apresenta-se um vídeo curtíssimo sobre os riscos do uso do celular”, destaca.
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