Cidades

Mistério em morte na oficina

Investigadores da Delegacia da Criança e do Adolescente 2 (DCA 2) apuram o assassinato a tijoladas de um homem de 52 anos, cometido por uma menina de 13, na Área de Desenvolvimento Econômico (ADE) da região

Correio Braziliense
postado em 30/01/2020 04:07
A adolescente matou a vítima com chutes e tijoladas: agentes investigam se ela tentou se defender de estupro ou se queria roubar o carro do homem


Uma menina de 13 anos matou com chutes e tijoladas um homem de 52 na Área de Desenvolvimento Econômico (ADE) de Águas Claras. Depoimentos conflitantes sobre o caso levaram os policiais da Delegacia da Criança e do Adolescente 2 (DCA 2) a diferentes linhas de investigação. Há a hipótese de que a adolescente teria reagido a uma tentativa de estupro, e a de que teria assassinado a vítima, identificada como Antônio Soares da Silva, para subtrair ou facilitar o roubo de um veículo da oficina mecânica onde ela trabalhava. O crime aconteceu na noite de terça-feira, ao lado do estabelecimento.


Policiais militares receberam denúncia de um homicídio por arma de fogo na região. Porém, ao chegarem ao local, encontraram a vítima no chão, com uma pessoa tentando reanimá-la. Em seguida, o Corpo de Bombeiros constatou a morte. A adolescente informou que reagiu após Antônio ter tentado estuprá-la. Na ocorrência registrada na delegacia, a garota contou que o homem “assoviou, mostrou o pênis, correu atrás dela e tentou agredi-la”.


O delegado à frente do caso, Juvenal de Oliveira Campos Júnior, chefe da DCA 2, informou que, em depoimento, a jovem acrescentou ter recebido oferta de carona por parte de Antônio, mas que ele teria pedido para “mexer nela” em troca do favor. “Ela deu uma gravata (golpe por trás, com braço no pescoço da pessoa), e a vítima desmaiou por estar sob efeito de álcool. Em seguida, disse que começou a agredi-lo com chutes na cabeça e uma tijolada”, afirmou Campos Júnior.


No entanto, uma irmã da adolescente, de 22 anos, contestou essa versão. Ela, que está grávida, chegou à cena do crime no momento em que a vítima era agredida, e contou que a irmã é usuária de drogas e estaria sob efeito de Rohypnol quando Antônio se recusou a oferecer uma carona. “Essa testemunha informou que tentou impedir o crime, mas recebeu agressões, inclusive socos. Ela foi encaminhada a um hospital antes de seguir para a delegacia”, disse o investigador.

Tentativa de furto
A apuração da DCA 2 mostra que ainda há outra versão para o crime. De acordo com Juvenal, os investigadores conseguiram informações de que a jovem poderia estar distraindo Antônio para que as irmãs pegassem um veículo na oficina em que ele trabalhava. “Uma das hipóteses é de que a familiar foi checar como estava a jovem e a encontrou agredindo Antônio. Ela tentou intervir, mas foi agredida, justamente porque a menina estava alterada”, frisou.


O delegado caracterizou o caso como delicado e, como a vítima veio a óbito, a investigação será embasada nos depoimentos colhidos e em imagens de segurança da região, que serão avaliadas pelos policiais. “De qualquer maneira, a adolescente responderá por ato infracional análogo ao crime de homicídio. Sabemos que a vítima estava sob efeito de álcool e não tinha condições de reagir. Mesmo que tenha sido em legítima defesa, aconteceu em excesso”, comentou. Um vídeo do momento do assassinato, registrado por câmeras de segurança do comércio da região, mostra o crime. De acordo com o delegado, as imagens comprovam que a vítima não teve oportunidade de reagir.


Agora, os investigadores procuram uma cunhada da adolescente que também teria presenciado a cena do crime, além da mãe da menina, que pode responder por omissão. Após passar pela delegacia, a jovem fez exames no Instituto de Medicina Legal (IML) e foi encaminhada ao Núcleo de Atendimento Integrado (NAI), vinculado à Secretaria da Criança, onde a Justiça decidirá sobre a situação dela. No Brasil, a legislação prevê até três anos de internação para infratores com menos de 18 anos.

Histórico

O Correio esteve na oficina mecânica em que Antônio trabalhava. De acordo com funcionários do lugar, que prefeririam não se identificar, o homem estava no emprego havia um ano e era responsável por fazer alinhamento nos veículos. “Não conhecemos essa menina e desconhecíamos se eles tinham algum tipo de relação. Sei que ele (Antônio) morava sozinho e era solteiro. O único problema que ele tinha era com consumo de bebidas alcoólicas em excesso”, relatou uma empregada do estabelecimento.


Segundo a Polícia Civil, Antônio tem histórico de registros em delegacias. Em 1990, respondeu por tentativa de homicídio. O caso foi registrado na 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro). Em 1999, 2006 e duas vezes no ano passado, ele foi preso por embriaguez ao volante. Além disso, há duas ocorrências na Lei Maria da Penha. Uma delas aconteceu em 2015, por lesão corporal, e outra, em 2019, quando ele respondeu por injúria.


A reportagem esteve ainda na rua onde a adolescente mora, também na ADE 4 de Águas Claras. A menina vivia em uma invasão, em um lugar apelidado de Biqueira, conhecido pelos moradores como ponto de tráfico de drogas. Uma outra irmã dela, que não quis ser identificada, disse acreditar que a jovem apenas se defendeu. “Ele tentou estuprá-la, e ela reagiu”, pontuou. Ela contou que as três irmãs e a mãe viviam juntas na mesma casa. No ano passado, de acordo com a Polícia Civil, a garota foi apreendida por roubo.

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