Insegurança na Rodoviária
Como se sabe, eu sou um usuário; não disso que vocês estão pensando, mas do sistema de transporte público. Contei, neste mesmo espaço, muitas histórias de rodar em ônibus pela cidade. Mas, hoje, eu gostaria de falar da Rodoviária.
Durante as minhas férias, um rapaz que mora em nosso condomínio pediu carona à minha esposa. Ele estava todo enfaixado, e ela perguntou o que havia acontecido. O jovem contou que estava de passagem pela Rodoviária para tomar um ônibus quando foi abordado por um grupo de meninos de rua. Segundo o rapaz, tinham a aparência de estarem “noiados”. Ele disse a verdade: não tinha celular.
Ao ouvir a resposta, um dos garotos o atingiu com uma facada. Foi muito bem-atendido pela polícia. Mas, logo alguém o informou que aquele teria sido o quarto caso em um espaço curto de tempo. Felizmente, a agressão não teve maiores consequências e ele já se recuperou plenamente.
No entanto, desde esse dia, a minha família impôs que eu não passasse mais pela Rodoviária à noite, ao retornar para casa. Não estou falando com base em nenhuma estatística nem quero criar alarme desproporcional à dimensão verdadeira dos fatos.
Entretanto, ao longo de muitos anos e de sucessivos governos, sempre me provocou espanto o descaso com aquele local em contraponto à sua relevância como lugar de circulação de mais de 700 mil pessoas por dia e à sua importância como obra arquitetônica de Lucio Costa. Ela é o ponto de conexão entre a escala monumental e a escala gregária no Plano Piloto.
No livro O risco — Lucio Costa e a utopia moderna, que reúne depoimentos do filme de Geraldo Motta Filho, sobre Lucio Costa, o arquiteto Ciro Pirondi afirma que, com a Rodoviária, Lucio Costa deu uma aula de como realizar um edifício resolvendo toda a articulação da cidade. “Ali, ele fez o que todo arquiteto deseja fazer: o não edifício”. E complementa: “Ela é uma permanente fonte de inspiração para nós”.
Pois bem, a Rodoviária é um lugar sujo, as escadas rolantes raramente funcionam, a insegurança impera. O desleixo fica evidente no diagnóstico de risco nas estruturas da Rodoviária e nas reformas emergenciais.
Os péssimos serviços prestados pelas empresas de ônibus figuram na lista dos problemas insolúveis e insanáveis do DF, ao longo de vários governos. É claro que, nesta circunstância, qualquer aumento de ônibus provoque a revolta.
O governo acena com a privatização da Rodoviária como se a solução fosse automática. Não é. O sistema de ônibus é privatizado e não funciona. Mas, enquanto isso não se resolve, era preciso garantir um mínimo de segurança a quem transita pela Rodoviária.
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