Correio Braziliense
postado em 04/02/2020 04:09
A casa de Athos
O caderno Cidades publicou matéria sobre o projeto de construção da sede da Fundação Athos Bulcão, novela sempre emperrada pela burocracia, que se arrasta desde 2008 e atravessa vários governos.
Em julho de 2009, durante o mandato de José Arruda, um lote foi doado, no Eixo Monumental, próximo ao Centro de Convenções.
No governo de Agnelo Queiroz, o lote foi “desdoado” e a questão permanece enredada nos labirintos do poder. Procurado pela reportagem do Correio, o GDF afirma que a Fundação Athos Bulcão é uma entidade privada e, que, portanto, a obra não é de responsabilidade do governo. É uma resposta burocrática.
Desconhece ou finge desconhecer a relevância de Athos Bulcão para Brasília e da Fundação que leva seu nome para a divulgação da obra do artista mais importante para a cidade. A Fundação é, de fato, uma instituição privada, sem fins lucrativos. Ela exerce a função essencial de preservar, difundir e promover a educação patrimonial.
Escrevi um texto sobre o Athos e resolvi fazer um teste de audiência. Repassei para alguns estagiários. Queria saber se eram acessíveis e o nível de conhecimento que eles tinham sobre Athos. Pois bem, eles me surpreenderam. A maioria conhecia muitas informações do texto.
Perguntei como tinham entrado em contato com a obra de Athos e eles responderam que por meio da escola. Todos estudaram no sistema público de ensino do DF. Estudar e conhecer a obra de Athos faz parte do currículo da quarta e quinta série do ensino fundamental. Quem apoia essas ações é a Fundação Athos Bulcão.
A entidade foi criada a partir da doação do acervo pelo próprio artista. O projeto da sede definitiva da Fundação é de Lelé Filgueiras, um dos mais importantes arquitetos do Brasil. Além das funções educativas, seria um ponto de atração turística no Eixo Monumental. Lelé Filgueiras afirmava que Athos Bulcão é uma figura exemplar nas artes plásticas, não só no Brasil, mas no mundo. Nenhum artista integrou de forma tão profunda a sua arte na arquitetura.
Apesar das propostas de Fernand Léger e de Mondrian nesse sentido, depois do advento da arquitetura moderna, isso só aconteceu com abrangência pelas mãos de Athos Bulcão: “Athos não é somente um artista de Brasília; é um artista universal”.
O governo local se dispôs a ajudar a Escola Vila Isabel, do Rio de Janeiro, a captar quase R$ 5 milhões com empresas pela Lei Rouanet para financiar um samba-enredo em homenagem aos 60 anos de Brasília. A iniciativa revela que quando há vontade política os projetos se viabilizam.
Está faltando sensibilidade para perceber que Athos Bulcão não pode permanecer na condição de sem-teto. É um descaso com a sua memória. Ele é um brasiliense de relevância internacional. Como comemorar os 60 anos de Brasília e não celebrar Athos Bulcão? Como celebrar Athos Bulcão e deixá-lo na condição de sem-teto?
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