Correio Braziliense
postado em 06/02/2020 04:13
As irmãs Kailane do Nascimento, 17, Sophia, 10, e Gabrielly, 5, estão entre as novas vítimas da dengue. Moradoras de Sobradinho, elas foram infectadas quando passavam as férias na casa de uma tia, no Gama. A cidade está entre as que mais registraram casos no Distrito Federal: 103, neste ano. “A gente suspeitava que era dengue, mas, quando chega a confirmação, sentimos o baque. As três de uma vez foi demais. Não tínhamos o costume de fazer alguma prevenção contra a doença dentro de casa. Agora, cuidamos direitinho. Graças a Deus, elas estão bem, e espero não precisar mais passar por isso”, afirma a camareira Divanélia Maria Mendes, 45, mãe das meninas.
O caso da irmãs Nascimento reflete o avanço da dengue no Distrito Federal. Segundo o último boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde, até 25 de janeiro, a doença fez 1.419 vítimas na capital federal. O número representa um aumento de 84,1% em comparação com o mesmo período do ano passado, quando houve 730 registros confirmados. Em todo 2019, 62 pessoas morreram infectadas pelo vírus. Em 2020, um homem de 65 anos morreu no Guará 2.
A cidade com a maior quantidade de ocorrências é Sobradinho 2, com 113; em seguida, aparece Sobradinho, com 109; Guará, 105; e Gama, 103. Devido ao índice alarmante, em 24 de janeiro, o governador Ibaneis Rocha assinou decreto que declara situação de emergência no DF. Diante desse cenário, o Correio foi às ruas para identificar bons e maus exemplos da luta contra o Aedes aegypti.
Atrás da Escola Classe 16 de Sobradinho, em uma estrada de chão, há um monte de lixo. Para os vizinhos, o risco é grande tanto para quem mora ali perto quanto para os estudantes. No muro, uma mensagem de alerta não intimida quem passa na região: “Essa aqui é a nossa escola. Por favor, não jogue ou queime lixo”. A dona de casa Maria Isabel Ferreira, 47 anos, conta que a comunidade sente medo. “É perigoso. Tem gente que tenta cuidar, mas tem quem não se importe. É uma questão de saúde pública e não individual. Infelizmente, enquanto isso acontecer, a nossa cidade estará na ponta da lista”, lamentou.
Ontem, o Corpo de Bombeiros e a Vigilância Ambiental realizaram uma operação no SIA. As equipes usaram, pela primeira vez, três drones para sobrevoar a região, monitorar terrenos e verificar a existência de focos do Aedes. Em um lote, foram encontrados vários ovos do mosquito. Segundo o administrador da região, Helio Aveiro, o terreno está abandonado há 18 anos. Lá, pneus, latas e potes tornaram-se criadouros do inseto. Depois de identificar os problemas, os bombeiros enviam equipes por terra para eliminar o foco ou tratar com biolarvicida.
Consciência
Também há quem se preocupe com a própria saúde e a do próximo. Na SQS 204, os moradores se reúnem para recolher lixo uma vez por semana. O intuito é diminuir a quantidade de mosquitos, ratos e escorpiões. Além do mutirão, o prefeito da quadra, Pedro Igor Carvalho, 31, instalou lixeiras na área residencial para incentivar a vizinhança a não jogar resíduos no chão. “Sou contra o saco de lixo, mas, para evitar o acúmulo de água parada nas lixeirinhas, a gente coloca e troca diariamente. Tem muita gente que apoia as nossas ações”, disse.
Na comercial da 204, a gerente do Salad Bowl, Elisama Andrade, colocou uma lixeira no beco ao lado do restaurante, com a mensagem: “Colabore com a limpeza. Vamos evitar a dengue”. Ela conta que motoboys costumam comer marmitas no local e, sem lugar para jogar os restos, deixavam no chão. “Está assustador. Essa é uma forma de colaborar, pois sensibiliza a comunidade.”
Segundo o professor de patologia do Centro Universitário Iesb Alexandre Soares, investir em campanhas de conscientização sobre a dengue deve ser ação prioritária. “O ideal é manter a população em alerta durante todo o ano para ter maior eficácia. Infelizmente, as intervenções só ocorrem no verão, e as pessoas esquecem do perigo. Mudar o comportamento do público e auxiliá-los a tomar as devidas precauções leva tempo”, alertou. Segundo ele, o combate à doença deve ser uma ação conjunta do Estado e da população.
Cidades da região Norte (Fercal, Planaltina, Sobradinho e Sobradinho 2) concentraram os casos de dengue em janeiro deste ano (338); seguido pela Sudeste (Águas Claras, Recanto das Emas, Samambaia, Taguatinga, Vicente Pires), com 200 notificações; e a Sul (Gama e Santa Maria), com 170. “Na Fercal, por exemplo, há grandes quantidades de lagos e poços, além da presença de agricultores que utilizam água para irrigação e a armazenam. Isso contribui para o problema nessas regiões”, disse.
O subsecretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero, ressalta que a Secretaria de Saúde atua desde o início do ano no combate à dengue. Mas o quadro de pessoal não é suficiente para atender a todos os imóveis do DF, cerca de 1 milhão. “As pessoas trabalham no sábado e não conseguem fazer tudo”, contou. Segundo ele, o governo antecipou a campanha e “não está poupando esforços”.
Entre as principais ações estão visitas a casas, aplicação de fumacê e sala de hidratação em cada unidade de saúde. Além disso, o GDF autorizou processo seletivo para a contratação temporária de 600 agentes. Desse total, 300 vagas são para o cargo de agente de vigilância ambiental e 300 para agente comunitário de saúde. O resultado preliminar deve ser divulgado em 20 de fevereiro.
Conversa com especialista
Conversa com especialista
Quais os sintomas da infecção por dengue?
Os principais sintomas da dengue são febre alta (maior que 38,5ºC), dores musculares intensas, dor ao movimentar os olhos, mal-estar, falta de apetite, dor atrás dos olhos e manchas vermelhas no corpo. São sinais de alarme da dengue dor abdominal intensa e contínua, ou dor à palpação do abdome, vômitos persistentes, acumulação de líquidos (ascites, derrame pleural, derrame pericárdico), sangramento de mucosa ou outra hemorragia; aumento progressivo do hematócrito e queda abrupta das plaquetas.
Quais as principais diferenças em relação a outras doenças como zika e chikungunya?
Dengue, zika e chicungunha são três infecções transmitidas pelos mesmos vetores, os mosquitos Aedes aegypti e o Aedes albopictus. Elas possuem sintomas parecidos, mas algumas características podem ajudar a diferenciá-las.
É possível pegar o mesmo tipo de dengue mais de uma vez? Quando se teve um tipo e se pega outro, a tendência é desenvolver um quadro mais grave?
Você pode ser infectado por dengue várias vezes, pois, após uma infecção, o corpo tem proteção apenas para o subtipo já adquirido. Existe uma tendência maior a quadros graves depois de uma primeira dengue, mas a gravidade tem relação direta com o subtipo viral.
E como é feito o diagnóstico? Há teste rápido?
O diagnóstico da dengue é clínico e feito por um médico. É confirmado com exames laboratoriais de sorologia, de biologia molecular e de isolamento viral, ou confirmado com teste rápido (usado para triagem).
Tivemos um total de 1.419 casos de dengue apenas em janeiro. Esse é um número preocupante?
Muito, se compararmos aos anos anteriores, em que a média era de 500 pessoas infectadas por mês. Os dados demonstram que há uma epidemia de dengue e alertam para a possibilidade do aumento do número de casos em fevereiro e março.
Existe tratamento para a infecção ou apenas para os sintomas?
Não há tratamento específico para a dengue. A assistência em saúde é feita para aliviar os sintomas. Estão entre as formas de tratamento, e o ideal é fazer repouso, não tomar medicamentos por conta própria e hidratar-se por via oral (beber água) ou intravenosa (com uso de soro, por exemplo). Isso é feito para aliviar os sintomas sempre de acordo com a avaliação do profissional de saúde, conforme cada caso.
Como preveni-la?
A melhor forma de prevenção da dengue é evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti, eliminando água armazenada em locais que podem se tornar criadouros da doença, como vasos de plantas, galões de água, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção, e até mesmo em recipientes pequenos, como tampas de garrafas.
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