Cidades

Crônica da Cidade

Correio Braziliense
postado em 06/02/2020 04:14
Onde está você?

Como se sabe, sou ainda um garotão, mas já tenho dois netos maravilhosos: Judá, de 2, e Aurora, de 6. Os dois são uma festa e uma alegria permanentes. Aurora é personagem frequente da coluna, mas nunca falei do irmão. E vou explicar por que. A língua dele era meio enrolada e ele demorou um pouco a ganhar fluência. Fiquei com medo de que tivesse algum problema.

No entanto, começou a ficar em uma creche. Certo dia, dei-lhe uma bronca e ele respondeu: “Bobo, bobão!”. Ouvi-lo articular essas palavras foi um alívio. Decerto, aprendeu na escola. Agora, está destravando a língua definitivamente.

É muito forte, parece um lutador de MMA. Quando crescer, vou colocá-lo em uma academia de artes marciais para que aprenda a respeitar o outro e a se defender. As palavras-chave de Judá são: me solta, te amo e não. Do que depreendi que a liberdade, o amor e a rebeldia serão traços distintivos de sua personalidade.

Ele é encantador, pilhado, divertido, afetuoso, veemente e explosivo. A dona da creche em que ele fica costuma dizer: “Estou me segurando com todas as forças para não dar uma mordida naquelas bochechas”. Ao tomar a mamadeira, não a guarda, atira bem longe que se ouve o baque no chão. Talvez seja a maneira que encontrou para dizer que terminou de beber. Estamos tentando ensiná-lo, mas ainda não obtivemos sucesso.

Pois bem, nesta semana vivemos um drama. Na hora de dormir, procuramos a mamadeira, mas ninguém achava. Já eram 2h da madrugada. Fizemos uma varredura pela casa. Nada. Ele começou a reivindicar com berros capazes de acordar todo o condomínio. As tentativas de acalmá-lo com palavras, canções de ninar e apelos não funcionavam.

A verdade é que a situação se tornou desesperadora. Onde encontrar uma mamadeira para comprar às 2h da madrugada? No limite da aflição, com muita delicadeza, a avó soprou-lhe ao ouvido a ideia de procurar ele mesmo e fazer um apelo direto à mamadeira para que ela aparecesse: “Onde está você?”

Judá se sensibilizou e percorreu todos os cômodos da casa, balbuciando a súplica. Esse protagonismo teve ao menos o mérito de deixá-lo ocupado. Já a mamadeira permaneceu insensível ao pedido dramático e não deu o ar de sua graça.

No outro dia, ela reapareceu embaixo de um guarda-roupa. Em um dos rompantes, quando terminou de tomar o suco, ele deve ter dado um safanão e a jogou embaixo do móvel. Por sorte, temos um quarto com estrelinhas no teto. Ele ficou mirando o espaço sideral e adormeceu. Felizmente, tudo terminou bem. “Onde está você?”
 
 

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