Correio Braziliense
postado em 10/02/2020 06:00
Mais dois motoristas de aplicativo foram assassinados no Distrito Federal neste domingo (9/2). À noite, a Polícia Militar informou que localizou o corpo de Ângelo Sebastião Ávila, 71 anos, com diversas perfurações de arma branca pelo corpo, entre o Parque Marajó, em Valparaíso (GO), e Alphaville, um distrito de Cristalina (GO). Segundo a corporação, a vítima, que era sargento aposentado da PM, atendeu a uma corrida no Terminal Rodoviário de Sobradinho, com destino ao Parque Marajó. Até o fechamento desta edição, nenhum suspeito havia sido preso.
A outra vítima, Túlio Russel Cesar, 27 anos, foi encontrada morta, junto ao carro que dirigia, em uma estrada de chão no Sol Nascente. Poucas horas depois, a Polícia Civil deteve dois suspeitos, entre eles, um menor de idade. O caso é investigado como latrocínio pela 23ª Delegacia de Polícia (P Sul — Ceilândia). O adolescente foi liberado.
À Polícia Civil, a esposa do motorista contou que Túlio costumava trabalhar durante a madrugada aos fins de semana e que ela acompanhava o percurso dele em tempo real. A mulher decidiu procurar a delegacia, no início da manhã, após notar que o motorista estava parado no Sol Nascente havia mais de duas horas. “Ela foi até a 24ª Delegacia de Polícia (Setor O — Ceilândia) e relatou o fato. Os agentes foram ao local indicado pelo GPS e encontraram Túlio morto”, detalhou o delegado adjunto da 23ª DP, Maurício Iacozzilli. A 23ª DP ficou à frente do caso devido à área ser de responsabilidade da unidade.
O Corpo de Bombeiros também foi acionado. Por volta das 7h30, a corporação recebeu um chamado para atender uma vítima que teria sido agredida e estaria desacordada, mas, ao chegarem ao local, bombeiros se depararam com o motorista morto.
Túlio foi atingido com um tiro na cabeça. O celular da vítima não foi localizado. Entre os pertences no carro, estavam uma caixa de ferramentas e um casaco. O veículo foi encaminhado para uma perícia mais detalhada em busca de mais provas sobre a autoria do crime, como digitais. O jovem fazia corrida em duas plataformas — 99 Táxi e Uber. A Polícia solicitou informações às duas empresas sobre a última corrida feita pela vítima.
Prisão
Horas depois do crime, agentes da 23ª DP prenderam um homem e apreenderam um adolescente suspeitos do crime. “Eles estavam com uma arma de fogo de calibre compatível com o ferimento da cabeça da vítima (Calibre 22), mas não podemos afirmar que foram eles. Nós vamos esperar o exame de balística e verificar se tem alguma digital deles no veículo”, explicou Maurício. Na delegacia, os dois negaram a autoria do crime. O homem foi encaminhado para a carceragem por porte ilegal de arma de fogo e o adolescente, liberado. Os dois tinham passagem por roubo.
Crime recorrente
Este é o terceiro motorista por aplicativo morto somente este ano. O crime recorrente assusta os profissionais que pedem mais segurança. “Nós saímos para trabalhar e não temos segurança para voltar para a nossa casa, para a nossa família. É muito triste. Esse é o meio que muitos pais encontraram para manter a família, e a família acaba ficando sem eles”, lamentou o líder do movimento dos motoristas por aplicativo, Manoel Scooby.
O motorista destaca que já enviou para as empresas Uber e 99 Táxi uma pauta com medidas de segurança. Entre elas, reconhecimento facial dos passageiros, foto de perfil, rastreamento e câmeras nos carros. Hoje, o movimento vai se reunir às 7h, no Mané Garrincha, para uma manifestação. “Na semana passada foi o Maurício, antes o Aldenys, depois o nosso amigo Samuel e hoje (neste domingo — 9/2), foi mais um colega. A gente tem que ter medidas para melhorar a segurança”, ressalta Scooby.
Por meio de nota oficial, a 99 informou que está apurando informações sobre o caso do motorista Túlio e lamentou a morte do profissional. “O app se solidariza com a família da vítima e está à disposição para colaborar com a polícia. Para a 99, a segurança é prioridade antes, durante e depois das corridas”. A empresa ainda destacou que o combate à violência é um desafio do Brasil e a 99 trabalha para tornar o ambiente mais seguro para os motoristas. “A empresa investe continuamente em sistemas preventivos, ferramentas de proteção e atendimento imediato.
Como formas de prevenção antes das chamadas, a companhia mostra aos motoristas informações sobre o destino final, a nota do passageiro e se ele é frequente — além de exigir que todos os passageiros incluam CPF ou cartão de crédito”. A 99 ainda ressaltou que os motoristas podem compartilhar as rotas e que disponibiliza um botão para ligar direto para a polícia, além de uma central 24h para emergências.
A Uber também lamentou a morte do motorista. Por meio de nota oficial, a empresa informou que Túlio atuava no aplicativo como motorista parceiro, mas, até o fechamento desta edição, não foi possível confirmar se o caso ocorreu durante uma viagem do aplicativo. “Neste momento, nossos sentimentos de pesar estão com seus familiares e amigos. Esperamos que o crime seja esclarecido rapidamente e que os responsáveis sejam levados à Justiça”, disse.
A empresa ainda destaca que a segurança é prioridade para a Uber. “Estamos sempre buscando, por meio da tecnologia, fazer da plataforma a mais segura possível de uma forma escalável. Hoje uma viagem pelo aplicativo já inclui ferramentas de segurança antes, durante e depois de cada viagem”, completou. Entre as medidas de segurança, está a exigência do usuário, que queria pagar somente em dinheiro, de inserir o CPF e a data de nascimento, o compartilhamento de localização, ligação direta para a Polícia e para o app, e bloqueio de viagens consideradas potencialmente arriscadas, entre outras.
Memória
Assassinado: 18 de janeiro
• Aldenys da Silva, 29 anos, foi encontrado morto às margens da BR-070, em Brazlândia, em direção a Águas Lindas. O caso é investigado pela 19ª Delegacia de Polícia (P Norte - Ceilândia). A suspeita da polícia é de que um jovem de 19 anos teria solicitado uma corrida por aplicativo e, ao tentar roubá-lo o matou.
Morto com perfurações: 23 de janeiro
• O corpo de Maurício Cuquejo, 29, estava em uma vala de contenção na Granja do Torto. A vítima tinha perfurações no rosto, braço e perna e foi localizada a poucos metros do carro utilizado nas corridas, um Renault Logan branco. As investigações apontam para homicídio ou latrocínio.
Sequestro e agressão: 31 de janeiro
• Samuel Veras dos Santos ficou cerca de 20 horas refém de um casal que pediu uma corrida na Estrutural. O motorista foi resgatado dentro do carro amarrado e ferido.
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