Vistoria rigorosa nos blocos carnavalescos

Após o assassinato de um jovem de 18 anos, a Polícia Militar reforçará as revistas e o patrulhamento nos próximos eventos do pré-carnaval brasiliense. No fim de semana, houve 203 crimes na folia da cidade

Correio Braziliense

postado em 11/02/2020 04:17

Após a morte de Matheus Barbosa Magalhães, 18 anos, assassinado a facadas durante o pré-carnaval, a Polícia Militar anunciou que intensificará o policiamento, as abordagens e as revistas nos próximos eventos do mês. O jovem, sepultado na tarde de ontem (leia reportagem abaixo), morreu no sábado, enquanto participava do bloco Quem Chupou Vai Chupar Mais, na Esplanada dos Ministérios. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido preso pelo crime.

O evento ficou marcado por reclamações de diversos foliões sobre falta de segurança, brigas e confusões. A previsão inicial era de que o bloco receberia 60 mil pessoas, segundo a Secretaria de Segurança Pública. No entanto, o público chegou a 90 mil foliões, de acordo com a organização. A Polícia Militar deslocou 350 militares para o local.

Nos cinco blocos de carnaval que saíram às ruas do Plano Piloto no sábado e no domingo, a maior parte dos crimes ocorreu no Quem Chupou Vai Chupar Mais: dos 203 registros, 114 (56%) aconteceram no bloco (veja Violência). Para a corporação, o caso representou uma situação excepcional. “O que vimos nesse evento é que, infiltrados entres os foliões, havia grupos de bandidos, pessoas que queriam promover violência gratuita. Esse primeiro evento fugiu de uma regra histórica do DF”, avalia o chefe do Centro de Comunicação da PMDF, coronel Alexandre Souza Oliveira.

Presente ao bloco pelo segundo ano consecutivo, o universitário João Victor Braúna de Sousa, 20, sentiu falta de policiamento, principalmente no início da noite. “Teve muita confusão. Na entrada, revistaram as pessoas para ver se alguém estava com garrafa de vidro, objeto cortante. Mas, depois, (o evento) começou a ficar muito lotado”, relata. “O pessoal foi mal-intencionado. Era certeza que ia muita gente, ainda mais porque foi perto da Rodoviária (do Plano Piloto). Deviam ter se preparado e mandado mais policiamento”, cobra.

Outros crimes tiveram registros expressivos nos blocos de sábado, como furtos de celular (59 casos), roubos a pedestres (22), além de tentativas de latrocínio e homicídio (uma de cada tipo). O coronel Souza Oliveira considera que os suspeitos se conheciam e ressalta que os casos estão sob análise de equipes de inteligência. “Temos de conseguir diferenciar esses grupos dos foliões. Estamos promovendo algumas mudanças em nosso planejamento, com reforço e deslocamento de efetivo. Os PMs recém-formados trabalharão nos blocos para coibir essa nova realidade que percebemos”, comenta o oficial.

Reuniões

Além de crimes contra os foliões, no sábado, houve registros de depredação contra oito trens da Companhia do Metropolitano (Metrô-DF). Entre os danos registrados, houve sete luminárias quebradas, dois trens pichados com pincel atômico e dois vidros trincados. A responsabilidade sobre os danos é apurada pela 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul), segundo a empresa.

Na tarde de ontem, a Secretaria de Segurança Pública convocou uma reunião extraordinária com os comandos das forças de segurança para “avaliação da programação e da estratégia de segurança” dos demais eventos que fazem parte do calendário do carnaval 2020 do Distrito Federal. “O secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, reiterou o compromisso do governo em prover um carnaval seguro aos brasilienses. Com esse objetivo em mente, as reuniões de planejamento terão continuidade ao longo desta semana, sendo feitos ajustes que se fizerem necessários nos diversos aspectos da programação”, informa o texto.

Pesquisador e professor em segurança pública, Nelson Gonçalves destaca a necessidade de um planejamento eficaz para eventos dessa natureza. Ele ressalta a necessidade de as autoridades de segurança pública serem informadas com dados coerentes sobre o que está previsto. “Local, horário, quantidade de pessoas e a dimensão do evento são importantes que as providências sejam tomadas. Os organizadores têm de garantir isso porque podem ser responsabilizados pelo que acontece. Afinal, as pessoas não se juntaram ali de forma espontânea.”

Carnaval sem violência

» Dê preferência ao transporte público, táxi ou transporte por aplicativo

» Alimente-se bem, use roupas leves e leve capa de chuva. Os cuidados também valem para as crianças

» Leve apenas o básico. Deixe em casa objetos de valor, como celulares caros, relógios e grandes quantias em dinheiro

» Nos blocos cercados, não será permitida a entrada com objetos que podem ser usados como arma (garrafas de vidro, guarda-chuvas, pedaços de madeira etc.)

» Armas brancas serão apreendidas pela polícia e quem for flagrado com alguma será detido

» Cuidado com as crianças: faça carteirinhas com informações dos responsáveis ou identifique-as com as pulseiras fornecidas pela Polícia Militar nos blocos infantis

» Se identificar alguém com atitude suspeita ou armada, acione a Polícia Militar

» Evite o consumo excessivo de álcool

» Afaste-se de locais ermos e de pontos com grande aglomeração

» Ande, preferencialmente, em grupos



Violência

Veja o número de ocorrências atendidas pela polícia no sábado e no domingo:

Bloco Crimes

Quem Chupou Vai Chupar Mais 114

Não informado 61

Bloco do Amor 17

Fora do bloco* 6

Vai com as Profanas 3

Divinas Tetas 1

Eduardo e Mônica 1

Total 203

* Local diverso do bloco carnavalesco, como Rodoviária, metrô, ônibus etc.

Fonte: Secretaria de Segurança Pública