Cidades

Mãe confessa morte de filha de 2 anos

Após investigações marcadas por contradições nos depoimentos, a Polícia Civil descartou a participação do pai da pequena Júlia Felix de Moraes no crime. Criança foi assassinada por asfixia e com duas facadas no tórax

Correio Braziliense
postado em 14/02/2020 04:07
Trabalho da perícia começou às 10h de ontem; à tarde, investigadores acharam colchão ensanguentado escondido
Uma tragédia comoveu moradores da Colônia Agrícola Samambaia, em Vicente Pires, ontem. A pequena Júlia Felix de Moraes, 2 anos, foi morta a facadas, e a mãe é a principal suspeita. A possibilidade de envolvimento do pai foi descartada no fim da noite. A polícia apura, agora, se ele teria sido dopado antes do homicídio. O crime aconteceu durante a madrugada, em uma quitinete, onde a bebê foi assassinada por asfixia e com dois golpes de faca no tórax. Laryssa Yasmin Pires de Moraes, 21, acabou presa em flagrante, e, depois de confrontada com provas, confessou a autoria. O enterro da menina será hoje, às 8h, no Cemitério de Padre Bernardo (GO), a 120km do centro de Brasília.

Durante a tarde, agentes da 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro) estiveram no apartamento para complementar a perícia e encontraram um colchão de berço ensanguentado. O item foi essencial para confrontar as versões de Laryssa Yasmin, cujos depoimentos divergiam das informações prestadas pelo pai. “Ele praticamente se petrificou diante das acusações. Não conseguia mais nem se defender. Por isso, o caso subiu e desceu: começou com ela se acusando, depois ela negando e acusando ele. A gente buscou os elementos (necessários para descobrir a dinâmica do crime)”, afirmou o delegado Josué Ribeiro.


Inicialmente, a polícia acreditava que a criança tivesse sido esfaqueada no único quarto do imóvel, onde foi encontrada uma poça de sangue. Depois de os investigadores acharem o colchão escondido na área de serviço, a versão do pai da criança ganhou evidência. De acordo com o delegado, Laryssa Yasmin teria levantado por volta das 5h30 e levou a criança à cozinha, onde tentou desferir a primeira facada, próxima ao pescoço de Júlia. Depois de a criança acordar e começar a chorar, ela sufocou a menina e a esfaqueou duas vezes no tórax. Em seguida, voltou ao quarto e, com outra faca, tentou agredir o pai de Júlia, um jovem de 25 anos, que sofreu um corte no rosto.

Após desarmar Laryssa Yasmin, o jovem ligou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A gravação, periciada pela polícia, serviu para desmentir argumentos apresentados pela mãe de que ela teria atacado o pai da menina por acreditar que ele a acusava da morte da criança. Enquanto isso, o rapaz a via ocultar o colchão e limpar as facas usadas no crime.

Versões
Moradores do prédio disseram que acordaram durante a madrugada após ouvirem um barulho semelhante ao de uma cama sendo arrastada, mas não ouviram gritos ou choro de criança. Vizinhos bateram à porta da quitinete. O pai respondeu que a filha havia sido assassinada e que acordou com uma faca apontada para o rosto dele. Laryssa não tinha antecedentes criminais. A mãe chegou a assumir o crime em um primeiro momento, mas mudou a versão ao prestar depoimento durante a tarde e relatou que dormia quando escutou os gritos da filha.

A equipe de perícia chegou ao local por volta das 10h de ontem, e o corpo de Júlia foi retirado do apartamento por volta das 11h. Para confirmar ou refutar a versão do pai, que disse ter sido atacado na cama, os agentes solicitaram um exame de corpo de delito. O jovem foi levado algemado ao Instituto de Medicina Legal (IML), por volta das 16h. Ele ficou detido em um carro da Polícia Civil até que um laudo preliminar ficasse pronto. Papiloscopistas também avaliam todas as facas encontradas na quitinete. “Como o corte do pai foi superficial, não ficou sangue no objeto. Por isso, não foi possível precisar qual arma foi usada”, detalhou Josué Ribeiro.

Em depoimento, Laryssa Yasmin e o pai da criança afirmaram não ter mais um relacionamento amoroso. No nome dela, há uma empresa especializada em comércio de equipamentos e suprimentos de informática, com sede na Asa Norte. O Correio esteve no local, mas não encontrou a firma e não conseguiu contato por meio de nenhum dos três telefones associados à loja.

Ativa nas redes sociais, a mãe costumava publicar fotos, vídeos e declarações para a filha. “Mamãe te ama infinitamente, Júlia!”, dizia uma postagem. “Minha existência é completamente dedicada a você” e “A melhor versão da minha felicidade”, escreveu em posts no Instagram e Facebook. Nas últimas semanas, a jovem chegou a compartilhar notícias e artigos sobre crimes, como “Pai biológico estupra e mata bebê de 13 dias” e “A primeira obrigação de um bom pai é respeitar a mãe dos seus filhos”.


Memória


6 de dezembro de 2019

Bernardo da Silva Marques Osório, 1 ano e 11 meses, foi envenenado pelo pai, Paulo Roberto Caldas Osório (foto), após sair da creche, na Asa Sul. Ao chegar à casa do pai, no Lago Sul, passou mal e vomitou. Paulo colocou remédios para dormir no suco do menino. Ao constatar a morte, levou o corpo do menino para as margens da BR-020 e fugiu para a Bahia. Foi preso e confessou o assassinato. Ele já havia ficado preso por 10 anos por matar a própria mãe, em 1992.


1º de junho de 2019

Rhuan Maycon da Silva Castro, 9 anos, foi assassinado pela mãe, Rosana Auri da Silva Cândido, e pela companheira dela, Kacyla Priscyla Santiago Damasceno Pessoa. O crime aconteceu em Samambaia Norte. A criança dormia quando foi atingida por diversas facadas. A dupla tentou queimar os restos mortais do menino em uma churrasqueira, mas desistiu e os esconderam dentro de uma mala e de duas mochilas, jogadas em um bueiro. Rosana e Kacyla (foto) estão presas.

11 de abril de 2017

Um homem que andava de jet ski nas imediações da QL 12 do Lago Sul encontrou o corpo de um bebê boiando na altura da Península dos Ministros. A criança, de 5 meses, havia sido jogada na água pela mãe, que sofria de problemas psicológicos. Ela foi encontrada em cima de uma árvore, cinco dias depois do crime. Em maio de 2018, devido ao quadro de saúde da ré, a Justiça a absolveu e determinou que ela recebesse atendimento psiquiátrico por, ao menos, três anos.



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