Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 19 de junho de 1962 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.
Eram 15:30 horas quando as portas do Palácio da Alvorada Se abriram de par em par. E o povo entrou aos borbotões. Homens, mulheres e crianças, personalidades ilustres e humildes candangos, todos iguais, irmandados na mesma alegria, e no mesmo orgulho para festejar ao lado do seu Presidente os bravos e heróicos irmãos que chegavam de Santiago, trazendo pela Segunda vez à sua Pátria o troféu magno do futebol mundial.
Lá fora, frente aos portões e para além do fosso que separa o gramado da avenida, até onde a vista alcança, espalhava-se uma multidão de mais de oito mil pessoas, na estórica expectativa da chegada dos Bi-Campeões do Mundo, do fabuloso esquadrão de ouro do Brasil. O solo tremeu quando aquela vibrante massa humana arrancou para dentro do Palácio, seguindo o ônibus que trazia a equipe vitoriosa, seus comandantes, membros da direção da CBD, médico e preparadores, tripulação da nave que os trazia do Chile, fotógrafos e jornalistas.
Espetáculo igual jamais fora visto em Brasília. O Presidente da República, sua espôsa, seus filhos sorrindo com o povo, felizes como o povo, entre os cantos da vitória entoados pelos alunos da CASEB, os hinos que a banda militar tocava e o tremular das bandeiras. Era a grande e luminosa hora da glória e essa o Chefe da Nação a vivia entre o povo.
Chegada de JG
Aproxima-se, vindo dos lados do aeroporto, o helicóptero presidencial. Sob os olhares curiosos da multidão que enchia o Palácio e se comprimia fora, aguardando o momento de avançar, a pequena e engraçada nave evoluiu entre o azul do céu e aquele colorido e ondulante tapete humano e lentamente foi baixando até pousar no gramado, bem em frente à entrada do Alvorada. Eram 15.20 horas. O presidente João Goulart saltou do helicóptero com largo sorriso estampado na face. Ao seu encontro, para acompanhá-lo ao grande salão da festa, ocorreram o General Amaury Kruel, Chefe do Gabinete Militar, seus ajudantes de ordens e Subchefes da Casa Militar, os Presidente do Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Ministros Lafaiete de Andrade e Hugo Auler, o Ministro Eugênio Cailler, seu secretário particular e Raul Ryff, seu secretário de imprensa.
O pequeno "crack"
No primeiro hall interno, entre amigos e auxiliares diretos da Presidência da República, aguardavam o Presidente João Goulart e a chegada dos BiCampeões do Mundo a Sra. Maria Teresa Goulart, a pequenina Denise e o menor “crack” do mundo, João Vicente, de chuteiras e tudo, envergando com garbo o uniforme verde-amarelo dos gigantes das batalhas do Chile. A pelota passava de suas para as mãos da irmã e dela se passou para não mais largá-la o pequeno “crack” quando a carga sobre o Palácio anunciava a chegada dos vitoriosos.
Governo parou
Tudo parou: as obras para que os candangos e o povo levassem aos campeões o calor da alegria que os possuía, as repartições e os escritórios, as escolas para que os jovens decorassem no livro da vida aquela fulgurante página da nossa História e o governo também parou nos Três Poderes que o integram. Com o Presidente se encontravam além dos Presidentes dos Tribunais de Justiça, grande número de Ministros das Côrtes do Judiciário, Chefes e Subchefes dos Gabinetes Militar e Civil, autoridades administrativas, senadores e deputados e a Comissão designada pela Mesa da Câmara, integrada pelos seguintes parlamentares: Théodulo Albuquerque, Expedito Machado, Aniz Badra, Breno da Silveira e Carneiro de Loyola. Estêve presente também, o Prefeito do Distrito Federal, Embaixador Sette Câmara, acompanhado de sua espôsa e seus auxiliares diretos.
Os bicampeões
Chegou a têrmo a campanha do Selecionado brasileiro nos campos chilenos, com seis partidas que marcam época na história do futebol mundial: conquistamos o bi-campeonato, reafirmamos a fibra singular e a técnica inimitável dos nossos atletas. Durante muitos dias a imprensa de todo o mundo falará nesse feito, que só tem similar na Itália de 1934 e 1938, nos áureos tempos do fascismo, com as suas vitórias a qualquer preço.
Superamos o entusiasmo dos mexicanos, a técnica primorosa dos espanhóis, o jogo viril dos ingleses, o campo, a torcida a garra e o time chileno e finalmente, o esquema fechado, o conjunto harmonioso a fibra incomparável dos tchecos, os únicos que, em Vina Del Mar, haviam conseguido paralisar o nosso ataque, num dia negro para o nosso futebol, quando perdemos por contusão, durante mais de setenta minutos e com afastamento definitivo, o fabuloso Pelé.
A partir de 30 de maio o Brasil inteiro vibrou de entusiasmo acompanhando a trajetória vitoriosa dos nossos craques. Esquecíamos o custo de vida, suportávamos estoicamente a greve dos bancários, em Brasília, púnhamos de quarentena as decepções diárias, vivíamos, todos, as emoções das partidas, como se presentes aos campos chilenos, acompanhando as transmissões entusiasmadas dos nossos locutores e apreciando lance por lance.
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