Cidades

Heróis em casa

Correio Braziliense
postado em 26/02/2020 06:02

Chegada da seleção de 1994 a Brasília, em carro do corpo de bombeiros, seguidos pela multidãoEsta matéria foi publicada originalmente na edição de 20 de julho de 1994 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram

 

Meio milhão de torcedores - quase um quarto da população do Distrito Federal - festejou ontem a seleção tetracampeã mundial de futebol na chegada a Brasília. Foi uma das maiores festas populares da história da cidade. Do aeroporto ao Palácio do Planalto, um mar de bandeiras e camisetas verde-amarelas esperou durante toda a tarde e explodiu em cantos e danças na passagem dos três carros do Corpo de Bombeiros que levavam a seleção. Já era o começo da noite. O DC-10 especial da Varig só pousou às 17h26 , com quase quatro horas e meia de atraso. Vinha do Recife, onde a seleção fez a primeira escala em solo brasileiro e ganhou mais uma festa na praia de Boa Viagem.

 

Depois do desfile ao longo do Eixão Sul e da Esplanada dos Ministérios, os jogadores e a comissão técnica receberam medalhas da Cruz do Mérito Desportivo do presidente Itamar Franco. No alto da rampa do Planalto, o presidente cumprimentou todos, um por um. Deu um abraço mais demorado em Romário e acompanhou a seleção ao parlatório em frente ao palácio. De lá, Dunga, Zagalo e Parreira, com a ajuda de Itamar, ergueram a Copa da Fifa para a multidão que delirava na Praça dos Três Poderes. Luiz Gonzaga de Souza, 26 anos, morador do Gama, desempregado, arriscou a vida para celebrar a seleção: subiu ao topo do mastro da bandeira nacional, com cem metros de altura. “Fiz isso por emoção, só queria ver os jogadores”, disse. Foi resgatado pelos bombeiros, depois de ameaçar saltar lá de cima. 

 

Ouro no peito

 

Ouro no peito dos heróis do tetra. Sob aplausos, gritos e com a música tema de Ayrton Senna ao fundo, o presidente Itamar Franco condecorou ontem com a Cruz do Mérito Desportivo a Seleção Brasileira.

 

Os jogadores e a comissão técnica receberam a comenda durante cerimônia de quase uma hora de duração, na rampa do Palácio do Planalto. Depois, no parlatório, o capitão do time, Dunga, exibiu a Taça Fifa para a multidão.

 

Os três caminhões do Corpo de Bombeiros que transportaram o time e a comissão técnica chegaram ao Palácio do Planalto às 20h03. Para passar no meio da multidão, tiveram de ser escoltados por soldados da tropa de choque e motoqueiros da Polícia Militar,

 

Apesar da verdadeira maratona que tiveram de enfrentar em sua chegada ao Brasil, os jogadores não se mostravam cansados. O centroavante Viola ainda encontrou fôlego para dançar em cima de um dos carros.

 

O capitão Dunga, o técnico Carlos Alberto Parreira, e o preparador físico, Moracir Santana, foram os primeiros a chegar à rampa do Planalto. Sorridente, de cima do caminhão Parreira agitava a bandeira brasileira que trazia. Dunga mostrava a taça do tetra.

 

 

 

A equipe foi recebida pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e formou fila para cumprimentar o presidente Itamar Franco, os presidentes da Câmara, Inocêncio Oliveira, do Senado, Humberto Lucena e do Supremo Tribunal Federal, Octávio Gallotti.

 

O bicampeão mundial de futebol Nilton Santos, o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, e o ministro da Educação, Murílio Hingel, também acompanharam Itamar na recepção aos jogadores.

 

Entre a foto oficial da equipe com o presidente e o Hino Nacional, os fãs gritavam os nomes dos jogadores preferidos. Alguns chegaram a jogar camisetas da Seleção no alto da rampa, para serem autografadas pelos jogadores. O único que atendeu os pedidos foi Jorginho.

 

Apenas uma pequena parte dos presentes à Praça dos Três Poderes vaiou o técnico Parreira, quando ele foi condecorado. A maioria aplaudiu. Os mais aplaudidos foram Dunga, Bebeto, Romário, Tafarel e Viola.

 

Ao contrário do que previa o cerimonial, todos os jogadores foram ao parlatório do Planalto mostrar a taça ganha no tetra. O presidente Itamar, Parreira e o coordenador técnico Zagalo acompanharam os jogadores.

 

A Seleção saiu do Planalto em dois ônibus, direto para o aeroporto onde embarcou para o Rio.

 

Romário emociona multidão no Aeroporto

 

Artilheiro usa cabine do avião para saudar torcedores que vão à loucura 

 

A chegada da seleção campeã do mundo ao aeroporto de Brasília foi acompanhada de muita ansiedade, alegria e até histerismo. Inúmeros blocos de torcedores se formavam em frente à pista de pouso. Todos esperavam para saudar os ídolos nacionais.

 

Às 17h26, o avião que trouxe a comitiva de Recife se aproximou do local de desembarque. Um minuto depois, Romário surgiu da janela da cabine de comando.

 

Com uma Bandeira brasileira na mão esquerda, o artilheiro saudava os torcedores que gritavam seu nome insistentemente. Imprensado entre os irmãos, um menino de cerca de sete anos tentava ser percebido pelo ídolo. Aos berros, mostrava a Bandeira desenhada com hidrocor no caderno escolar.

 

Em seguida, o avião parou. Na porta, o capitão Dunga e o técnico Carlos Alberto Parreira mostraram à multidão a taça dourada. Era uma réplica, mas a torcida delirou com o símbolo da sonhada conquista.

 

Emoção — Torcedores emocionados gritavam o nome de cada jogador que deixava o avião e subia em um dos três carros dos Bombeiros. Mesmo os que não jogaram foram saudados.

 

Guto, cara-pintada vascaíno, quase arrebentou a garganta para mandar um alô para Ronaldo, que tem 17 anos como ele.

 

O adolescente foi um dos que chegaram ainda de manhã ao local. Almoço? “Só deu para comer um sanduíche”, disse, com ar vitorioso. Perto dele, uma batucada da Gaviões da Fiel prestava sua homenagem a Viola.

 

Dezenas de flashes disparavam. Pais de família suportavam com esforço o empurra-empurra para registrar em vídeo a chegada dos campeões, que deixaram o local em carros do CB. À frente, Parreira homenageava Airton Senna, exibindo o capacete do piloto.

 

Assim como a comitiva, alguns torcedores exibiam com orgulho seus troféus. “Ai que emoção”, repetia Vaneza Nóbrega, agente de tráfego. Ela conseguiu um autógrafo de Taffarel para seu filho Hugo, de quatro anos.

 

Mas houve também quem saiu decepcionado. “Não deu para ver quase nada”, lamentou Antônio Vieira. Desde às 14h30, ele aguardava com a esposa, dois filhos e um sobrinho para ver os campeões do mundo.

 

Para quem saiu decepcionado, houve mais um motivo para lamentar a aventura de recepcionar a seleção. Um grande engarrafamento se formou à saída do aeroporto. Os motoristas levavam quase uma hora para fazer o trajeto entre o local e o Plano Piloto.

 

 

 

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