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Inaugurado o Parque da Cidade

Geisel: ''Foi feito para o povo. Que sirva à sua finalidade''

Correio Braziliense
postado em 29/02/2020 06:00

A piscina de ondas do Parque na inauguração, em 1978Estas matérias foram publicadas originalmente nas edições de 12 e 13 de outubro de 1978 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram

 

O Presidente Geisel entregou ontem, Às 17h05min, à população do Distrito Federal, o Parque Recreativo Rogério Pithon Farias, considerado a primeira grande área de lazer do Distrito Federal. 

 

Em seu breve pronunciamento, o Presidente da República ressaltou que o Parque Recreativo Rogério Pithon Farias “é do povo, foi feito com dinheiro do povo, e para que o povo usufrua. Que ele sirva à sua finalidade!”. 

 

Chegada

Eram exatamente 16h55, quando o Presidente Geisel e o governador do Distrito Federal, Elmo Serejo Farias, desceram de um helicóptero da Força Aérea Brasileira que os conduziu até a Praça das Fontes, local da inauguração. Dona Lucy, Geisel e sua filha, Amália Lucy, chegaram cinco minutos antes, sendo recepcionadas pela esposa do governador do Distrito Federal, Dona Edwaltriz Pithon Farias e demais autoridades presentes.

 

Geisel e Elmo Serejo Farias saudaram inicialmente às milhares de pessoas que assistiam ao evento. Alguns minutos após, o governador do Distrito Federal leu um discurso de quatro laudas. 

 

Quando o serviço de alto-falantes anunciou que Geisel descerraria a placa comemorativa da inauguração do parque, centenas de estudantes soltaram milhares de balões, saudando o acontecimento. Eram 17h15min.

 

Após ter proferido o seu discurso, Geisel, acompanhado de Elmo Serejo Farias e de diversas autoridades civis, militares e eclesiásticas, deixou o local, rumando para uma das 16 estações de trenzinhos. Ali, acompanhado de demais autoridades embarcaram num deles percorrendo 10 quilômetros e passando pelos principais locais de atração da área de lazer, que ocupa uma área de 420 hectares. Os jornalistas não tiveram permissão do Serviço de Segurança da Presidência da República para acompanhá-los. Esse passeio durou um pouco mais de meia-hora. 

 

Às 17h50min, Geisel chegou à sede administrativa do Parque Rogério Pithon Farias. Cinco minutos depois, despedia-se do governador Elmo Serejo Farias, rumando para o Palácio da Alvorada. 

 

Capa do Correio Braziliense de 12 de outubro de 1978 sobre a inauguração do Parque da Cidade 

 

Pequeno Acidente

Registrou-se um pequeno acidente no início de atividades do novo parque da cidade. O estudante José de Anchieta Oliveira, de 12 anos, caiu de uma gangorra, e fraturou a perna direita. Foi socorrido imediatamente por soldados da Polícia Militar, que o transportaram para o pronto-socorro. 

 

A palavra de Geisel

“Ao assumir a Presidência da República, em março de 1974, trouxe no meu programa de governo trabalhar pro Brasília, tendo em vista consolidar definitivamente a nossa capital aqui no Planalto Central. Tinha, por várias vezes, já vivido em Brasília, e senti que havia necessidade de resolver ainda uma série de problemas básicos, para que Brasília fosse de fato a capital do País.

 

Encontrei no governador Elmo Serejo o homem adequado para a realização dessa obriga, porque Brasília é importante não apenas como capital, mas como centro irradiador para o desenvolvimento do Centro-Oeste e do Norte do nosso País, áreas que ainda estão para serem exploradas. Nesse trabalho, procurou-se dotar a Capital de uma infra-estrutura adequada: sistema de água, esgotos, vias de comunicação, transportes, escolas, hospitais e, também, porque não dizer, áreas de lazer. 

 

Hoje, já prestes a findar o Governo creio que realizamos muito. O tempo foi curto. Os recursos disponíveis poucos também. Mas a dedicação foi grande. Trabalhamos incansavelmente. O governo do Distrito Federal, os seus secretários e seus auxiliares, em diferentes níveis. E hoje, entregamos a esse povo um parque de diversões, de lazer, que é do povo, foi feito com o dinheiro do povo, e para que o povo o usufrua. Que ele sirva a sua finalidade! E que todos que se empenham a utilizá-lo também se empenhem em preservá-lo; em conservá-lo. Em fazer com que suas árvores cresçam, as suas instalações permaneçam limpas, intactas, para o benefício de todos. Que ele seja útil, e que corresponda realmente às necessidades do que aqui vivem. Que sirva para que Brasília seja cada vez uma cidade mais humana”.

 

O discurso de Elmo

“As palavras são poucas, porque a emoção é muita, tendo Vossa Excelência a prestigiar esta solenidade do Parque Rogério Pithon Farias. E saiba, Senhor Presidente, que o apoio, o estímulo que Vossa Excelência tem emprestado ao nosso trabalho, tem sido a fonte inspiradora permanente, a colocar-nos única e exclusivamente a serviço das necessidades e das esperanças desta comunidade, objetivando tão somente o bem público. 

 

E, com esse apoio, com esse estímulo, procuramos nos integrar nas virtudes que marcam a pessoa e o Governo de Vossa Excelência, como exemplo de probidade e seriedade. 

 

Fiel às diretrizes do vosso Governo na medida das nossas possibilidades, temos percorrido esse caminho com determinação e sacrifícios, mas sobretudo com amor à causa pública. 

 

Temos ainda permanente na lembrança, ao ser distinguido com o convite para governar o Distrito Federal, as recomendações recebidas e externadas por Vossa Excelência, voltadas para as necessidades mais urgentes da Capital da República, buscando a sua consolidação e consequente humanização. 

 

Aqui no Distrito Federal, Senhor Presidente, encontramos um vasto campo inexplorado, propiciando-nos condições para implantação de equipamentos infra-estruturais, tão importantes e necessários à consolidação de uma célula urbana que, como organismo vivo, porém jovem, se encontrava carente de cuidados urbanísticos e administrativos.

 

Nestes quase cinco anos de administração, desde o primeiro momento, fixamos prioridade nos setores de educação, saúde, saneamento básico, abastecimento, habitação, sistema viário, iluminação pública, urbanização e agricultura, sem esquecermos em instante algum o setor social de recreação e lazer, tão importantes e necessários ao congraçamento e bem-estar da coletividade, objetivando aí, Senhor Presidente, o “homem” como meta prioritária das nossas atividades administrativas. 

 

Estamos hoje entregando à população do Distrito Federal este Parque, com 4 milhões de metros quadrados, completamente equipado com área de recreação e lazer, situado em local nobre de Brasília. Se não fora a sua implantação, em bem pouco tempo teríamos um retalhamento tão ao gosto daqueles que exercitam a especulação imobiliária. 

 

Esta área de 4 milhões de metros quadrados está preservada numa ação objetiva que o nosso Governo lega às gerações futuras, na defesa do meio ambiente, tão em moda a sua aplicação, mas com tão poucos dedicando-se a ela. 

 

Paralelamente à implantação deste Parque, iniciado em 1975, não nos descuidamos em instante algum das cidades-satélites, onde atuamos intensamente, dotando-as de praças e ginásios de esportes, praças de lazer e recreação e campo de futebol. Não nos descuidamos da infra-estrutura básica da Ceilândia, onde tantas vezes Vossa Excelência nos prestigiou, inaugurando ali equipamentos comunitários. 

 

Mas esse acervo de obras públicas não teria sido possível, repito, não fosse o apoio e o estímulo do Governo de Vossa Excelência, que sempre atendeu às nossas reivindicações em benefício do Distrito Federal. 

 

Até o final deste período administrativo inauguraremos o Centro de Convenções e o Teatro Nacional cuja conclusão tem sido aguardada com muita ansiedade pela comunidade, o Sistema de Abastecimento do Rio Descoberto, onde o Governo investe um bilhão e 500 milhões de cruzeiros, com a implantação de aproximadamente 86 km de adutoras e muitos outros equipamentos urbanos, tanto em Brasília, como nas cidades-satélites. 

 

Senhor Presidente, o tempo, esse marcador implacável, foi e está sendo exíguo para cumprirmos tudo a que nos propusemos. Das recomendações de Vossa Excelência, o setor de transporte coletivo mereceu de nossa parte atenção especial, estudando e pesquisando durante 3 anos, podendo hoje, com orgulho, afirmar que o Distrito Federal já dispoõe de um projeto técnico para o sistema de transporte rápido de massas, cuja implantação poderá ser iniciada em 1979.

 

Alonguei-me, Senhor Presidente, talvez pelo entusiasmo, falando em outras áreas administrativas, quando estamos inaugurando o Parque Rogério Pithon Farias, mas senti a necessidade de informar o andamento de importantes obras para a cidade. 

 

Há poucos dias emocionei-me quando o Presidente da França, em visita ao Brasil, ao saudar Vossa Excelência, com muita felicidade disse:

 

‘O Brasil de hoje é aquele que sua Capital retrata, de uma maneira tão impressionante. Ao descobrí-la das alturas, semelhante a um imenso pássaro com as asas abertas, destacando-se sobre a nudez do Planalto, vê-se o símbolo do progresso do seu país’. 

 

Este, Senhor Presidente, é realmente o Brasil de hoje, o Brasil dos brasileiros, o Brasil do Presidente Geisel, uno, progressista, tendo Brasília como seu coração pulsante, forte centro das decisões nacionais, e que passará a abrigar no seu contexto urbano este Parque, cujo nome é a homenagem do Governo do Distrito Federal ao seu jovem secretário do destino a morada eterna no coração do Brasil. 

 

Solicito a Vossa Excelência que descerre a placa comemorativa, dando por inaugurado o Parque Rogério Pithon Farias”. 

 

Feriado do povo foi no Parque (13 de outubro de 1978)

 

No primeiro dia de funcionamento o Pithon Farias superlotou

 

A piscina com ondas foi a atração máxima do Parque Recreativo Pithon Farias, entregue à população brasiliense no Dia das Crianças. Desde às primeiras horas de ontem, começaram a ser formadas enormes filas. Às 09:00 horas, início das atividades da piscina, o movimento era tal que se pôde caracterizar como um certo tumulto, com o vozerio tomando conta do espaço. Todos queriam experimentar as delícias da água em movimento.

 

Nos guichês, a confusão era grande. Não houve sistema de organização que suportasse a procura por ingressos que variavam de 20 cruzeiros (acima de 12 anos) e 7 cruzeiros (de 3 a 12 anos), para banhistas, e 10 cruzeiros (adultos) e 5 cruzeiros (crianças), para visitantes. 

 

“Mãiê, to aqui”, “Vem logo paiê, senão pede a vez”, “Fulano, anda logo, que eu já tô cansada”, “Ô moço, compra logo”. E, assim, se formava o coro de pessoas ansiosas para entrar depressa, principalmente quando ouviam a sirene do dispositivo que ligava as ondas.

 

Matéria do Correio Braziliense de 13 de agosto de 1978 sobre inauguração da piscina de ondas do Parque da Cidade 

 

A confusão ficava ainda maior, porque não havia, praticamente, divisão entre as filas de comprar ingresso e as dos exames médicos, feitos por somente três médicos da Fundação Hospitalar do DF. Por uma entrada só, era difícil controlar quem pertencia a uma ou a outra fila. Por mais que os ordenadores das filas procurassem manter a calma, aqui e ali era necessário um grito mais forte, pois a meninada, principalmente, não queria obedecer as ordens. 

 

De uma fila para a outra, os banhistas recebiam as carteirinhas do exame médico, válido para seis meses, e das salas saiam com um carimbo no punho, o que lhes dariam o direito de, após passar pelas duchas, dar o esperado mergulho. Não houve como precisar o número exato dos que frequentaram a piscina na manhã de ontem, porque as roletas não funcionaram. Mas, as meninas que tomavam conta das grandes arriscaram uma média de mil e quinhentas pessoas, afora aquelas que pularam as cercas, o que exigiu um esquema mais arrojado de vigilância. 

 

Um princípio de afogamento

Pelo volume de pessoas dentro da piscina, e quando as ondas eram ligadas esse número redobrava, foi considerada normal, pelo salva-vidas, a ocorrência de um princípio de afogamento. Uma criança, afoita, e sem os cuidados dos pais, se excedeu nos movimento e se viu quase levada ao fundo da piscina pelo reboliço das águas. O acidente não provocou alarde, porque, imediatamente o salva-vidas, mergulhador do Corpo de Bombeiros, aplicou-lhe os primeiros socorros. 

 

É bom que as autoridades atentem para o fato de, neste fim-de-semana, a frequência tender a aumentar, e que somente um salva-vidas não conseguirá atender a todos, pois é uma verdadeira loucura a agitação das pessoas dentro da piscina.

 

Mas, apesar da grande euforia, da novidade, o comportamento dos frequentadores da piscina foi considerado bastante normal não havendo qualquer irregularidade que merecesse maiores atenções. A única reclamação dos banhistas foi com relação ao preço dos salgadinhos (6 cruzeiros). 

 

Das grades que cercam a piscina, centenas de pessoas observava o desempenho dos banhistas, com seus saltos ornamentais ou “barrigadas” dos inexperientes. Muitos se conformavam em apenas olhar, pois, diante das infindáveis filas, desistiam no meio do caminho. Compravam um pequeno lanche e se dispunham a perambular pelo gramado, observando o céu já quase tomado por nuvens negras. A esperança dos que não conseguiram entrar ontem, é que São Pedro seja bonzinho e não mande águas neste final de semana, quando se dará o Festival da Criança.

 

Opiniões

O público que compareceu na manhã de ontem ao Parque Rogério Pithon Farias considera a obra um benefício para a cidade, mas sugere alguns melhoramentos como, por exemplo, maior número de ambulâncias e locadoras de bicicletas, cavalos e charretes. 

 

Normando B. Leite chegou ao Parque às 8 horas. Para ele a maior atração é a piscina com ondas. “A piscina é o maior barato. Brasília precisa disso mesmo. A piscina comum a gente vê nos clubes, mas essa com ondas é que está incrível”. Norberto¹ afirmou ainda que o brasiliense terá agora um maior número de opções para o lazer, mas reclamou da desorganização no portão de entrada para a piscina. “Tem muita gente e fica todo mundo se empurrando. Acho que a coisa deveria ser mais organizada”.

 

Marco Antonio de Albuquerque também gostou do Parque Rogério Pithon, mas fez críticas quanto à organização e quanto aos preços. Para ele, a área de acesso à piscina com ondas deveria ser mais sinalizada e deveriam ser formadas filas para entrada. “Infelizmente, sem fila o negócio não anda. O povo deveria se acostumar mas, já que não é assim, então deve haver o velho sistema de filas. Agora o que eu acho absurdo é o preço de salgados e refrigerantes aqui. Veja bem, esse não é um parque feito para todas as classes sociais? Como é então que um assalariado pode trazer sua mulher e, digamos, quatro filhos, tendo que comprar um refrigerante por Cr$ 3,50 e uma salgadinho por Cr$ 6,00. Criança sempre pede essas coisas e quem ganha salário mínimo não vai poder pagar”. 

 

Marco informou ainda que seria ideal que fosse distribuído durante a entrada um mapa para que as pessoas tivessem uma melhor orientação. Segundo ele, as placas colocadas nas pistas orientam somente aos motoristas. 

 

Valéria Nogueira, 15 anos de idade, sugeriu às autoridades uma locadora de bicicletas, charretes ou de cavalos. “É muito distante um local de lazer do outro. Quem tem carro tudo bem, mas, para quem não tem, o negócio fica longe. Deveria ter uma lojinha para alugar bicicleta. Esses trenzinhos que eles colocaram enchem muito”. Outra sugestão, dessa vez de Eliana Correa de Aquino, é um parque de brinquedos para as crianças junto à piscina com ondas. “Assim, quando a molecada tivesse vontade, ia lá e dava uma voltinha no escorrega, andava de gangorra e depois voltava para a piscina. Daí, tudo bem”.

 

Jurandir Rosa declarou que o Parque Rogério Pithon Farias é uma grande obra e proporciona um maior número de opções, mas aponta como um defeito o departamento médico. Segundo ele, o ideal seria um esquema onde houvesse uma ambulância para cada área de maior fluxo de público. “Se precisar de uma ambulância na área do Kart não tem, se precisar na área do parque infantil, não tem. Isso é terrível. Tem pouca ambulância e se ela tiver que percorrer o parque, com esse engarrafamento, a pessoa morre e ninguém vê. Tem que se ativar mais nessa área”. 


¹Existe uma confusão por parte do jornalista se o nome do personagem seria Norberto ou Normando. O Correio Braziliense optou por transcrever a matéria assim como está no original. 

 

 

 

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  • Capa do Correio Braziliense de 12 de outubro de 1978 sobre a inauguração do Parque da Cidade
    Capa do Correio Braziliense de 12 de outubro de 1978 sobre a inauguração do Parque da Cidade Foto: Arquivo/CB/D.A Press
  • Matéria do Correio Braziliense de 13 de agosto de 1978 sobre inauguração da piscina de ondas do Parque da Cidade
    Matéria do Correio Braziliense de 13 de agosto de 1978 sobre inauguração da piscina de ondas do Parque da Cidade Foto: Arquivo/CB/D.A Press
  • Piscina de ondas do parque da cidade
    Piscina de ondas do parque da cidade Foto: Tadashi Nakagomi/CB/D.A Press

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