Cidades

Alexandre Cunha, infectologista: "É bobagem achar que o H1N1 é mais grave"

Médico destaca que sintomas do coronavírus são semelhantes aos da gripe; vacinação foi antecipada para março

Correio Braziliense
postado em 29/02/2020 07:00

perfil de homem sérioDiante da preocupação com o novo vírus, médicos lembram que é importante estar atento também à gripe. A doença tem sintomas semelhantes aos vistos em pacientes infectados pelo Covid-19, como febre, tosse e dores musculares. Para este ano, o governo federal antecipou o Dia D de vacinação, de abril para março. O infectologista Alexandre Cunha, do Hospital Brasília alerta para cuidados e prevenções:


Quantos tipos de gripe existem no Brasil?
Temos dois: influenza A e B, cada um com várias cepas virais. Um dos subtipos da A é o H1N1, mas há também o H3N2. Existem várias combinações de vírus que podem aparecer. Todo ano tem um tipo diferente e, até por isso, todo ano, é uma vacina diferente. Ela se adéqua ao que está circulando. De um ano para o outro, muda grandemente: em um ano, circula 90% de um tipo e 10% de outro. Em outro ano, pode ser bem dividido.

Quais as gripes mais comuns?
A influenza A costuma ser mais comum no período de inverno. A B circula fora do inverno, mais ou menos na mesma quantidade da outra. Essa é menos sazonal. Mas o quadro clínico em ambas é igual, e o tratamento, também. Por isso, não se justifica investigar caso a caso. Existem exames de biologia molecular que podem diferenciar os vírus, mas isso é mais de utilidade estatística do que para os pacientes.

Existe um tipo mais perigoso?
Não. O risco é igual. É bobagem achar que o H1N1, por exemplo, é mais grave. A gripe que mais matou nos Estados Unidos há dois anos foi a do H2N3. Depende muito mais do hospedeiro do que do tipo de vírus. Quando o H1N1 chegou em 2009, aquele era o primeiro ano, portanto, ninguém tinha imunidade. Mas isso tem 11 anos, não há o mesmo risco.

Quais vacinas estão disponíveis gratuitamente?
Existem duas: a trivalente e a quadrivalente. A trivalente é oferecida na rede pública. Ela tem dois tipos de influenza A e um de B. A rede privada oferece as duas. No caso da quadrivalente, ela tem dois tipos A e dois tipos B. Todo ano, essas vacinas são refeitas, reformuladas, baseadas nos vírus circulando no mundo, em cada hemisfério. Uma para o Sul e uma para o Norte (do globo). A OMS faz a coleta dos vírus que circulam no mundo e, por meio disso, informam aos laboratórios que produzem as vacinas quais as cepas virais indicadas para aquele ano. Então, todos fazem com as mesmas.

O governo federal antecipará a vacinação contra a gripe para março. Isso tem a ver com o Covid-19? 
Como o vírus está chegando, a gente vai ter pacientes em quadro clínico gripal parecido, já que os sintomas são semelhantes. Se tivermos muitos quadros de influenza, as pessoas confundirão as coisas e veremos uma procura enorme por serviços de saúde. É bom que não tenhamos essa interferência. Como os quadros sintomáticos são semelhantes, vamos poder focar mais no coronavírus.

Tanto para a gripe como para o Covid-19, os grupos de risco são os mesmos?

Aparentemente, sim. A diferença é que, no corona, a idade está mais bem desenhada, com a mortalidade em grupos acima de 70 e 80 anos. Diferentemente da gripe, crianças parecem estar mais bem protegidas. 

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