Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 23 de novembro de 2014 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.
As primeiras horas de sir Paul McCartney em Brasília foram movimentadas. Pouco tempo depois de desembarcar na cidade, confirmando a fama de amante de bons hábitos e de vida saudável, ele andou de bicicleta no Parque da Cidade. Na porta do hotel onde está hospedado, o clima foi tranquilo ao longo do dia. Alguns turistas e brasilienses passaram pelo local na tentativa de avistar o ídolo, mas não houve chance, uma vez que o músico passou o restante do sábado recolhido.
Paul McCartney desembarcou na Base Aérea de Brasília por volta das 8h30 e seguiu, de carro, para o Hotel Meliá Brasil 21, na área central da cidade. Na chegada ao local, o motorista que trazia o cantor errou a entrada da garagem e despistou a imprensa, que aguardava pelo astro em outra entrada. Graças ao engano, ele conseguiu entrar sem ser percebido.
Assessores dele informaram aos jornalistas que o ex-beatle pretendia aproveitar amanhã e parte da tarde de ontem sozinho. Mas sir Paul quebrou o protocolo. Eram 12h30 quando o músico decidiu espairecer e esticar o corpo no Parque da Cidade. Uma van com os vidros cobertos de papéis chamou a atenção da equipe do Correio Braziliense que fazia plantão no hotel. Fotógrafos e repórter suspeitaram da movimentação e decidiram seguir o veículo. Para não levantar suspeitas, a equipe manteve distância do carro, que seguiu até o Estacionamento 2 do parque. Mais afastado e pouco movimentado, o local seria ideal para que Paul pedalasse longe do assédio. Dois ciclistas que passavam na área chegaram a reconhecê-lo e gritaram o nome do ex-beatle, que acenou alegremente.
O passeio do músico, no entanto, durou pouco. Nuvens negras acabaram forçando-o a deixar o parque após uma pequena volta. Minutos depois, uma forte chuva caiu na área central. Antes de deixar o local, o astro também cumprimentou os fotógrafos do jornal. De volta ao hotel, ele passou a tarde na mais luxuosa das três suítes presidenciais do estabelecimento. Com dois quartos, duas salas de estar, uma de jantar, cozinha e quatro tevês, o apartamento conta com toda a infraestrutura para receber a grande estrela do show business internacional.
A filha mais velha do cantor, MaryMcCartney, 45 anos, também provou dos ares de Brasília. Pela manhã, por volta das 11h, foi possível vê-la na entrada do saguão principal aguardando para sair com parte da equipe do ex-beatle. Discreta, a fotógrafa profissional evitou o contato com imprensa e fãs. Durante o tempo em que esteve no local, manteve o olhar no aparelho celular e bebeu um copo de café. Minutos depois, entrou em uma van reservada aos integrantes da gravadora MPL e saiu.
Maratona
Não há esforço que seja exagerado quando se trata de acompanhar um show de Paul McCartney. Os fãs cruzam ruas, cidades e estados para vê-lo cantar. O casal Fernanda Elnour, 20 anos, e Mário Lamas Ramalho, 35, veio de Jundiaí (SP) para assistir à passagem do ídolo por Brasília. “Chegamos às 8h e viemos direto para o hotel. Ficaremos, aqui, na porta, na tentativa de encontrá-lo”, garante Fernanda. A jovem conta que está acompanhando a turnê de Paul pelo país. “Vou a todos os shows dele. É uma maratona”, descreve a estudante.
Na capital capixaba, a garota teve a chance de ficar frente a frente com Paul, no saguão do hotel em que ele se hospedou. “Estava na porta e pedi para entrar apenas para usar o banheiro. Na hora que saí, vi ele na minha frente e fiz uma foto do celular. Ele se assustou, porque não esperava aquele encontro. Ainda assim, foi muito simpático”, brinca.
Por acreditar na personalidade atenciosa do músico britânico, a aposentada Helenira Carvalho Santos, 61, trouxe uma carta em nome do filho para entregar a Paul. O rapaz mora, há cinco anos, em Nova York e batalha para conquistar um espaço como baterista no meio musical. “O meu filho conseguiu alguns bons trabalhos, mas o sonho dele é se tornar reconhecido. Nessa área, é preciso também ter bons contatos e, por isso, trouxe esta carta para pedir que Paul olhe para a banda de meu filho e, quem sabe, ajude-o”, conta a mulher. Helenira conta que chegou cedo para tentar contato com a assessoria da banda. “Desde as 8h, estou aqui. Só quero uma chance para entregar o envelope que carrego. Dentro, o texto está em inglês e há uma foto de meu filho”, diz.
Alimentação especial
Sir Paul é vegano e, por isso, a alimentação dele exige cuidados especiais. O cantor
não come nada de origem animal e pediu que o hotel colocasse à disposição leite de
amêndoas orgânicas. Até mesmo um prato especial foi criado para ele: um ravióli de
espinafre, desenvolvido pela chef do Restaurante San Felice, Myrian Carvalho. Além
disso, a suíte presidencial em que ele está hospedado não contém nada em couro.
Hoje é dia de Paul!
Brasília foi inaugurada há 54 anos, mesmo tempo em que quatro garotos de Liverpool passaram a ser chamados de Beatles. Hoje, a capital federal tem um encontro histórico marcado com o maior deles
A previsão de tempo para previsão do tempo para este domingo pode não ser das mais animadoras: céu encoberto e chuviscos.Mas será preciso muita chuva para impedir a presença das esperadas 45 mil pessoas no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. É lá, a partir das 20h, que o eterno beatle Paul McCartney é aguardado para se apresentar pela primeira vez na capital federal.
Quando a cidade foi inaugurada, em 21 de abril de 1960, o músico britânico tinha apenas 17 anos e formava com os amigos John Lennon e George Harrison a banda The Quarrymen. Naquele mesmo ano, poucos meses depois de Brasília sair do papel, os rapazes de Liverpool passaram a se apresentar como Beatles e mudaram para sempre a história da música. Há 54 anos, portanto, a capital espera recepcionar o maior artista vivo da música atual. E o encontro está marcado para hoje.
Um beatle já havia se apresentado na cidade, em 2011. O baterista Ringo Starr subiu ao palco do Centro de Convenções Ulysses Guimarães e ajudou a arrefecer a ansiedade dos milhares de beatlemaníacos brasilienses que, há tempos, sonhavam em ver um dos ídolos de perto. Mas os fãs do quarteto de Liverpool queriam mais.
Era sobre a dupla Lennon e McCartney que se concentravam os holofotes. Com a morte do primeiro, assassinado em 1980, Paul assumiu o protagonismo. Se ele já exercia certa liderança nos Beatles, consagrou-se ainda mais pela brilhante carreira solo, iniciada em 1970 e ainda bastante vigorosa — como comprova o álbum New, lançado por Macca no ano passado, e de onde foram retiradas quatro canções do repertório da atual turnê, batizada de Out there.
É equilibrando-se entre os sucessos que compôs para os Beatles e os hits da fase solo que Paul, aos 72 anos, tem subido aos palcos. Nos últimas dias, ele passou por Cariacica (ES) e Rio de Janeiro. Depois de Brasília, tem dois shows agendados para São Paulo. Desde 1990, Macca veio ao Brasil sete vezes, para um total de 20 apresentações.
De 2010 para cá, ele esteve aqui todos os anos, e passou, além de Rio e São Paulo, por Porto Alegre, Recife, Florianópolis, Belo Horizonte e Fortaleza. Houve rumores de que o astro tocaria em Brasília no ano passado, mas a falta de um espaço adequado para uma apresentação deste porte transferiu o concerto para Goiânia. A construção do novo Mané Garrincha para a Copa do Mundo possibilitou a vinda do astro à capital federal.
Entre clássicos e novidades
No show marcado para hoje à noite, Paul vai se apresentar ao lado de banda formada por Paul ‘Wix’ Wickens (teclados), Brian Ray (baixo e guitarra), Rusty Anderson (guitarra) e Abe Laboriel Jr (bateria), que o acompanha há 10 anos.
A duração prevista para o espetáculo é de três horas. Neste tempo — tendo como base os shows no Espírito Santo e no Rio de Janeiro — o brasiliense poderá ouvir desde clássicos como Hey Jude, Let it be e Obla di obla da até músicas mais recentes, casos de New e Everybody out there.
Para se ambientar com a cidade, o astro teve uma aulinha de verbetes brasilienses com a produção. A ideia é brindar o público em português. As palavras escolhidas, contudo, ainda são desconhecidas.
Camarim
Confira os pedidos do astro
%u25CF A mobília não pode ser feita de pele animal, nem ter estampas que imitem bichos. O couro também foi vetado
%u25CF Seis plantas altas e com bastante folhagem, e seis baixas, além de 80 gérberas de cores sortidas, divididas em oito arranjos
%u25CF Móveis e carpetes de cores neutras e claras, mas não brancos
%u25CF 240 toalhas para ele e banda
%u25CF Chás da marca inglesa PG Tips
%u25CF Leite de soja, mel runny orgânico, limão e gengibre frescos e águas Fiji
%u25CF Uma tigela de frutas orgânicas com uvas sem sementes, bananas, laranjas e outras frutas da estação, seleção de nozes orgânicas, bagels (pão em formato de anel) e marmite (tipo de pasta inglesa à base de extrato de levedura)
%u25CF Um bom vinho tinto francês
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Capa do Correio Braziliense de 23 de novembro de 2014 com Paul McCartney andando de bicicleta no parque da Cidade em Brasília Foto: Arquivo/CB/D.A Press -
Fotógrafa Mary McCartney, filha do cantor Paul McCartney, em Brasília Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press