Correio Braziliense
postado em 02/03/2020 04:06
O Distrito Federal entrou em um período chave para alcançar uma meta do Ministério da Saúde. Ao fim deste ano, a capital saberá se conseguiu reduzir pela metade o número de mortes causadas em acidentes de trânsito na última década, proposta apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU). O último levantamento estatístico do Departamento de Trânsito (Detran) registra 278 óbitos nas vias do DF em 2019. Por isso, é necessário diminuir esse número em 16,5% em 2020. As perspectivas são otimistas. O número de vítimas que morreram no trânsito entre um ano e outro chegou a cair 34,8%, entre 2016 e 2017. Para alcançar novos resultados expressivos, o governo aposta em diálogo entre os órgãos e ações educativas.
O Detran destaca que o DF tem apresentado números positivos na década, principalmente nos últimos anos. A quantidade de acidentes fatais diminuiu 1,14% entre 2019 e 2018. Para o diretor de Educação de Trânsito do órgão, Marcelo Granja, o caminho da informação e da prevenção é essencial. “Nós realizamos ações educativas com foco no pedestre, ciclista, passageiros, motociclistas e condutores com palestras, campanhas de rua e projetos em escolas, por exemplo, com cooperação da Secretaria de Educação”, diz.
Marcelo afirma que três questões têm pesado mais para acidentes fatais. “Hoje, podemos afirmar que a dispersão no trânsito tem sido um fator de risco, principalmente com o uso do celular, independentemente de a vítima ser pedestre, ciclista ou condutor. Os outros dois são a embriaguez e o excesso de velocidade, que também são focos de nossas ações educativas”, detalha. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), a distração provocada pelo uso do celular no trânsito quadruplica o risco de acidentes.
O Detran lembra que é importante destacar o aumento da frota de veículos nas ruas. Entre o começo e o fim do último ano, o DF registrou um crescimento de mais de 60 mil veículos, dos quais apenas 11,6% são motocicletas, mas ocorrências fatais costumam ter esse grupo como alvo. O último levantamento do Detran mostrou que 85 motociclistas morreram nas estradas da capital em 2019. É o segundo maior dado em comparação ao tipo de envolvimento das vítimas. Só pedestres são mais atingidos, com 89 óbitos.
História de doação
Mais dolorosas que os números são as histórias de pessoas que engrossam as estatísticas. Henrique Andrade, 60 anos, perdeu a filha Rafaela Andrade, 26, e a neta, Clara, 2, em um acidente de carro em 2013. O veículo em que elas estavam colidiu com outro. A estudante morreu na hora, a criança, dois dias depois. “A minha neta chegou a ficar na UTI, mas não sobreviveu. Foi um choque horrível para nós. Esse tipo de tragédia transforma famílias. Minha filha era sonhadora, estudou nutrição na Universidade de Brasília (UnB) e estava finalizando um mestrado, sempre com muitos planejamentos”, diz.
Henrique acredita que um dos caminhos para evitar esse luto é a conscientização, pois há casos de acidentes inevitáveis, mas o cenário atual de perigo nas rodovias mostra que boa parte da população ainda tem atitudes irresponsáveis que colocam em risco mais de uma vida. “Vemos muitos acidentes provocados por falta de responsabilidade dos motoristas. As pessoas precisam entender que as consequências disso são graves para elas mesmas e para os outros. Tem gente até que acha que isso nunca vai acontecer com eles, mas acontece”, avalia.
Para manter viva a memória da filha, que sempre buscou ajudar quem precisava de apoio, Henrique e a esposa, Luciana Andrade, 60, criaram o Instituto Doando Vida por Rafa e Clara, uma organização não governamental (ONG) que funciona como creche para crianças de 2 a 5 anos, na Estrutural. “A gente quis transformar a dor em doação e nós buscamos dar continuidade ao sonho da nossa filha, que era sempre acolher”, afirma.
Números da década
Confira a quantidade de vítimas fatais no Distrito Federal de 2011 a 2019
2011 – 465
2012 – 418
2013 – 384
2014 – 406
2015 – 354
2016 – 390
2017 – 254
2018 – 277
2019 – 278
Palavra de especialista
Prioridade
“A meta da década não pode ser tratada como a situação do aluno que não estudou direito o ano todo e, na semana do fim do período letivo, quer saber o que pode fazer para não reprovar. É necessário ter a segurança no trânsito como uma das metas prioritárias, utilizando recursos para melhorias das vias, treinamento dos policiais e efetivação de regras que impeçam alguém de matar sob efeito de álcool e, logo, aguardar o julgamento em liberdade.”
Hartmut Gunther, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB)
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