Com o aumento dos casos de violência contra a mulher, ações de conscientização, além da integração entre poder público e imprensa, são instrumentos fundamentais na luta pela redução das ocorrências. Visando a urgência do debate sobre as formas mais eficazes de evitar os crimes por gênero, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) promoveu, na manhã de ontem, um encontro entre representantes do órgão, da mídia, da Justiça e do meio acadêmico. Alunos de universidades do DF também participaram do encontro.
O evento “O papel da imprensa na prevenção à violência de gênero” lançou luz sobre o impacto da cobertura jornalística em relação ao tema. A editora de Política local do Correio, jornalista Ana Maria Campos, destacou a relevância de reportagens sobre o assunto na elucidação dos casos de violência e na consciência social sobre prevenção aos crimes. “Com tantas redes sociais e em tempos de comunicação rápida, o trabalho da imprensa séria é muito importante. Não dá para fechar os olhos para a questão do feminicídio. Tratar com seriedade e ética é uma forma de mostrar para a sociedade que o tema é importante”, afirmou.
Professora e pesquisadora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Lourdes Maria Bandeira chamou a atenção para a necessidade da desconstrução dos estereótipos em relação às vítimas por parte dos profissionais que investigam, punem e comunicam os crimes. Segundo ela, a culpabilização das vítimas e o entendimento comum de que a mulher deve se submeter a parâmetros culturais estabelecidos para não ser agredida contribui para o aumento dos casos de violência. “Tem de respeitar as características da mulher e não colocá-las em perspectivas estereotipadas, pressupondo que, por ser dona de casa ou trabalhar à noite, a vítima não tem conhecimento das instituições e que não teria autonomia para fazer uma denúncia”, disse.
De acordo com Lourdes, o papel da imprensa na cobertura do tema e na repercussão das condenações dos autores é fundamental para a conscientização das pessoas e na mudança de panorama da violência praticada contra a mulher. “A mídia tem como responsabilidade, inclusive, mostrar que a não denúncia pode acarretar em prejuízo maior. Se a divulgação da pena é feita, é um incentivo para que mulheres denunciem os crimes”, pontuou.
Educação
Uma medida do Governo do Distrito Federal para o enfrentamento à violência contra a mulher teve o pontapé dado ontem. Alunos de escolas públicas do DF lotaram o Cine Brasília para acompanhar um projeto do Executivo local em parceria com a Maurício de Sousa Produções. Os estudantes acompanharam o lançamento de dois vídeos da Turma da Mônica, realizados em conjunto com as secretarias de Educação e de Segurança Pública, nos quais os personagens dos quadrinhos são protagonistas de histórias de conscientização sobre temas de desigualdade de gênero e comportamentos abusivos em relacionamentos.
“Um farto material didático produzido pela instituição Maurício de Souza será distribuído para professores e alunos nas nossas escolas, porque acreditamos que qualquer tipo de violência deve ser combatida com educação e amor. É isso que esse projeto está fazendo”, detalhou o secretário de Educação, João Pedro Ferraz. Crianças de 7 a 11 anos vão assistir a vídeos que abordam a importância do respeito às diferenças entre meninos e meninas. Adolescentes terão acesso a campanhas que ajudam a identificar indícios de comportamentos abusivos. As atividades são apoiadas pela ONU Mulheres, frente da Organização das Nações Unidas voltada à igualdade de gênero e ao empoderamento das mulheres, e devem alcançar até 1 milhão de alunos da rede pública do DF.
Operação especial
Uma operação nacional da Polícia Civil prendeu ontem 178 homens acusados de crimes de violência doméstica e familiar. Batizada de Operação Marias, em alusão a Maria da Penha Fernandes, mulher símbolo da luta contra os crimes de gênero e que dá nome à lei que pune a violência no Brasil, a de nº 1.1340/06, a ação ocorreu em 18 estados e no Distrito Federal.
Onze homens foram presos no DF. Acre, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Roraima, Sergipe e Tocantins também tiveram cumprimento de mandados de prisão, busca e apreensão. Os policiais também fiscalizaram as medidas protetivas concedidas pela Justiça a mulheres ameaçadas.
Doze armas de fogo foram apreendidas, sendo uma em Minas Gerais, três no Rio de Janeiro e oito no Rio
Três perguntas para Anderson Torres, secretário de Segurança Pública:
A conscientização é a alavra-chave do combate violência contra a mulher?Na nossa visão, esse é o caminho. Precisamos trabalhar com o futuro, com as crianças e com a educação. A mudança de uma cultura, de uma sociedade, só vem assim. Precisamos plantar essa consciência nesses jovens. Quero que o feminicídio seja coisa do passado. Mas isso não se dará nessa geração, provavelmente. Por isso, a importância de trabalhar com os pequenos e com diálogos por um mundo melhor.
Quais os exemplos de ções preventivas da segurança pública?
Temos trabalhado várias questões de prevenção. Tivemos a campanha Meta a Colher, para que as pessoas trouxessem as denúncias; a campanha de conscientização nas escolas; e atuações em periferias. Tudo isso acompanhado pela Subsecretaria de Prevenção à Criminalidade, que tem esse objetivo de conscientizar.
Com a aproximação do Dia Internacional da Mulher, qual o desejo da SSP para as moradoras do DF?
O nosso desejo é de que os homens respeitem mais as mulheres, entendam que não são donos delas e precisam de um relacionamento harmônico. Caso isso não ocorra, que exista a separação sem violência, com compreensão de que as mulheres são seres extremamente importantes nas nossas vidas.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.