Cidades

Distrito Federal entra em alerta com 36 suspeitas de coronavírus

Segundo o Ministério da Saúde, a capital federal tem 16 casos sob investigação a mais em relação ao boletim anterior. Uma das avaliações aguarda a contraprova de primeiro resultado positivo de paciente internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran)

Correio Braziliense
postado em 07/03/2020 07:00
A paciente de 52 anos que teve exame com resultado positivo para coronavírus foi transferida na quinta-feira para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran): viagem para a EuropaA Secretaria de Saúde do Distrito Federal trabalha cada vez mais em alerta para evitar uma possível epidemia do coronavírus na capital. De acordo com o Ministério da Saúde, 36 pacientes estão isolados no DF, em casa ou em hospitais, com suspeita da infecção. O número, atualizado nesta sexta-feira (6/3), mostra uma crescente em relação ao boletim de quinta-feira, que registrava 20 quadros em análise. Mesmo assim, desde o início das avaliações, 13 moradores de Brasília tiveram as suspeitas descartadas. O Distrito Federal é a sexta unidade da Federação com mais pacientes sob avaliação, mas segue sem nenhuma confirmação de Covid-19, diferentemente de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Porém Brasília tem um caso aguardando contraprova.

O Brasil tem infecções de pacientes que não saíram do país, mas tiveram contato com quem viajou para o exterior. A capital ainda não se encaixa nesse padrão, mas começa a se preparar para evitar cenários epidêmicos. De acordo com a Secretaria de Saúde, há um protocolo para que a pessoa que chegue a uma unidade de saúde com suspeita da doença seja prontamente atendida e isolada, para que ela não contamine outras. Há atenção também na chegada de passageiros de voos internacionais, que, caso apresentem os sintomas, devem ser acolhidos em sala isolada no Aeroporto de Brasília e encaminhados pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital de Base, em área exclusiva.

Para o presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico/DF), Gutemberg Fialho, o cenário ideal seria criar centros de referência. Hoje, existem esses locais somente para internação. “É preciso ter atenção com quem chega às UPAs, aos hospitais, porque essas pessoas podem transmitir o vírus se não tiverem o atendimento e a estrutura adequadas”, explica. Um morador do DF com suspeita de infecção por coronavírus atualmente precisa ir até a unidade de saúde mais próxima. De lá, caso seja necessária uma internação, será levado para um centro de referência, como o Hospital Regional da Asa Norte (Hran).

A Secretaria de Saúde disponibiliza na capital um canal de comunicação entre pacientes e profissionais da área, o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs). Pelo telefone (61) 99921-9439, é possível tirar dúvidas sobre emergências epidemiológicas, como o coronavírus. No entanto, a pessoa com sintomas do vírus que viajou para o exterior não pode solicitar avaliação domiciliar. Gutemberg opina que a informação é um dos principais meios de combate. “Precisamos de uma boa campanha de esclarecimento, até para evitar alarmismo desnecessário sobre uma doença que não tem mortalidade tão alta”, avalia.

Primeiro caso

Na quinta-feira, uma paciente de 52 anos apresentou resultado positivo para o teste de coronavírus no Hospital Daher, no Lago Sul. Ela chegou à unidade de saúde na quarta-feira, em estado frágil e apresentando astenia (perda de força física), prostração, inapetência, tosse predominantemente com secreção e dispneia (falta de ar) aos mínimos esforços. Após o diagnóstico, a Secretaria de Saúde decidiu pela transferência dela da unidade de terapia intensiva (UTI) do Daher para uma área isolada, na enfermaria do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).

Profissionais da pasta encaminharam material biológico dela nesta sexta-feira (6/3) ao Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, onde será feita a contraprova do exame que detectou o coronavírus. O resultado deve sair até neste domingo (8/3) e, se confirmado, o Ministério da Saúde passará a contabilizar o caso. A paciente chegou à capital em 26 de janeiro de uma viagem à Inglaterra e à Suíça. Agora, a secretaria procura passageiros que estavam no mesmo voo da mulher.

Duas pessoas que tiveram contato próximo com ela estão isoladas em casa. Como o Correio apurou, um desses casos é o marido da paciente. A outra pessoa é a enfermeira que fez a triagem no Hospital Daher, na quarta-feira. Ambos permanecerão reclusos durante 14 dias, sendo monitoradas para caso apresentem algum sintoma da doença. Na tarde desta sexta-feira (6/3), a funcionária da unidade particular do Lago Sul passou por exames com um infectologista.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Saúde e com a empresa responsável pela comunicação do Hospital Daher para saber se outros funcionários da unidade de saúde que tiveram contato com a paciente precisarão ficar isoladas. Entretanto, a pasta informou que todas as informações foram repassadas à imprensa. A unidade de saúde não respondeu até o fechamento desta edição.

Três perguntas para Hemerson Luz, especialilsta em doenças infecciosas:

O que pode ser feito pelo governo e pela população para evitar uma epidemia no DF? 
A orientação mais efetiva que se tem hoje é lavar as mãos. Não adianta correr atrás de máscara. O mais efetivo é manter a higiene da mão e evitar alguns hábitos. É perceptível que as pessoas estão deixando de dar as mãos e de se cumprimentar com beijo. Tudo isso evita que gotículas com o vírus sejam expelidas. Além disso, o governo tem adotado um trabalho muito bom com pacientes suspeitos, que é o de isolamento.

Como funciona o sistema de isolamento hospitalar e doméstico?
Esses isolamentos consistem em evitar que uma pessoa espalhe o vírus no ambiente. Isso pode acontecer com o contato de gotículas expelidas pelo infectado. Se alguém com o vírus pegar um elevador ou um transporte público, por exemplo, pode espalhá-lo nesses meios. Ficando em casa ou no hospital com máscara, em um ambiente ventilado, evita que isso aconteça. Além disso, o ideal é sempre usar máscara para quem está com suspeita ou diagnosticado com o coronavírus. O isolamento não significa que a pessoa está presa, sem contato com outras pessoas.

Com a incidência de casos, o protocolo de atendimento adotado hoje pode mudar?
O vírus ainda está em amplo estudo pela comunidade científica. Por isso, muitos critérios podem mudar. O Brasil adotou um método muito bem elaborado. O Ministério da Saúde centralizou muito bem esse controle, porém tudo pode mudar, justamente porque o vírus está em estudo.

Para saber mais

Transmissão local e comunitária
O Ministério da Saúde informou que há transmissão local do Covid-19 no Brasil. Ou seja, há quem foi infectado dentro do país, por pessoas próximas. Até o início da semana, os casos confirmados eram apenas de pessoas contaminadas no exterior. Porém ainda não há essa transmissão no DF, que não confirmou nenhum caso até o momento. O pior cenário para os especialistas é o da transmissão comunitária, ou transmissão sustentada. Nela, não se consegue identificar onde se originou a transmissão do vírus.

Palestra na terça-feira
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) promoverá uma palestra de conscientização sobre o novo coronavírus. O evento “Coronavirus: conhecendo para não ter medo” está marcado para a próxima terça-feira, às 16h, no auditório do órgão. O encontro, aberto ao público, será comandado pelo médico Werciley Saraiva Vieira Júnior, coordenador da Infectologia do Hospital do Grupo Santa. De acordo com o MPDFT, o objetivo é esclarecer sobre a epidemia que vem se alastrando por diversos países e tem casos confirmados no Brasil. Para participar, é necessário fazer uma inscrição por meio do site mpdft.mp.br.

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