Cidades

Crônica da Cidade

Correio Braziliense
postado em 07/03/2020 04:16
Queridos leitores

Adriana Falcão é uma das mais doces figuras que tive o prazer de conhecer na vida. E é certamente a pessoa mais talentosa com quem já tive prazer de conversar. Conheci a autora de preciosidades como Mania de explicação, Luna Clara e Apolo Onze e A máquina, além de peças e roteiros para cinema e televisão, graças ao meu amigo Lourenço Flores, que uma vez chamou minha antiga banda, Beto Só e os Solitários Incríveis, para tocar no lançamento de um dos livros dela na saudosa Esquina da Palavra.

Lembrei de Adriana estes dias porque lembrei de uma frase dela sobre os escritores. Em uma entrevista para a televisão, ela disse algo como o escritor ser uma espécie de "safadinho", ou seja, alguém sempre em busca de conquistar o outro. Algo como um sedutor compulsivo, um carente que diz a todo momento: "Olhem o que escrevi. Não é bonito? Então, você me ama?".

Quando o mestre Severino Francisco, que escreve aqui quase todo dia (não sei como acha tanta ideia), me chamou para escrever aqui neste espaço aos sábados, me avisou: "Você vai ver, as pessoas leem as crônicas. Elas ligam, mandam e-mails e até te param na rua para comentar". Na época, eu já trabalhava quase exclusivamente com internet, no site do Correio, e fiquei um pouco descrente. "O texto impresso ainda tem esse alcance? Vamos ver..." E, de fato, vi. Desde então, vira e mexe algum gentil leitor liga pedindo autorização para divulgar algum texto ou manda um e-mail elogioso.

Mas nada se comparou a dois episódios recentes. O primeiro foi no comecinho de fevereiro, quando eu havia acabado de voltar de férias. O telefone da minha mesa de trabalho tocou e uma leitora muito simpática queria saber se eu não ia mais publicar as crônicas, porque estava sentindo falta. Disse que no sábado seguinte elas voltariam e retomei o trabalho feliz que nem torcedor do Flamengo hoje em dia.

O outro aconteceu dias atrás, enquanto eu esperava que a comida árabe encomendada para viagem num restaurante da Asa Norte ficasse pronta. Um antigo colega de faculdade parou na minha frente, estendeu a mão e me deu parabéns. Agradeci, sem saber por que, mas ele logo explicou: disse que lê sempre minhas crônicas e chega a guardar algumas delas. Mencionou alguns textos, ressaltou como neles fica claro o valor que dou à minha família e aos momentos de minha infância e finalizou com um abraço que me deixou leve e achando a vida boa.

Severino estava certo, pensei. E Adriana também. Muitas vezes, o que mantém a gente escrevendo é o desejo de tocar o coração de alguém com nossas palavras, como Cyrano de Bergerac. O desejo persiste mesmo quando não sabemos se alguém foi de fato tocado. Gostamos de lançar garrafas ao mar. Mas quando há resposta, ah... Quando há resposta, ganhamos o dia, a semana, o mês inteiro. E sentimos que não dá para parar. Nem mesmo quando chegamos às sete da noite de sexta-feira sem ideia do que publicar no jornal de sábado e com muita preguiça, após uma semana intensa de trabalho. Isso aconteceu comigo ontem e cheguei a cogitar alguma solução que passasse por não escrever um novo texto. Mas aí lembrei dos gentis leitores. E quis escrever um texto para agradecer a eles. A você... Obrigado.  




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