Correio Braziliense
postado em 09/03/2020 04:36
Aplicativo fora do arAconteceu. O aplicativo de caronas pagas parou de funcionar. Foi um dos mais conhecidos, mas poderia ter sido o outro. Um congestionamento de usuários se formou em frente ao prédio da firma. Executivos, trabalhadores, visitantes, todos, democraticamente, à espera de um meio de transporte.
Desde que esse tipo de serviço surgiu, nunca imaginei o que faria quando chegasse o dia em que nenhum motorista aceitasse a corrida solicitada por opção ou por problemas técnicos no servidor. Achava mais provável a bateria do celular acabar ou o cartão de crédito ser recusado.
O tempo do almoço havia sido precisamente calculado para encaixar todas as tarefas domésticas e ainda sobrar tempo para o almoço antes do horário da consulta com a pediatra. Como já adiantei aqui em outra oportunidade, Alice começou a comer, a tal da introdução alimentar, e ainda não houve tempo hábil para que nós — ou ela — pudéssemos nos adaptar. Eu me esqueci de calcular o tempo necessário para descongelar a comida da criança e também não me lembrei de deixar o carboidrato da refeição preparado.
A conjunção de esquecimentos e de imprevistos fez o relógio girar mais rápido. As horas passavam em velocidade ultrassônica. O jeito foi almoçar na lanchonete embaixo do prédio onde fica o consultório. Sem frescuras ou luxos desnecessários. Ela nem notou. Comeu umas boas colheradas e observou atentamente a todos que passavam pelo estabelecimento.
Mudanças de planos como essas, por menores que sejam, podem ser obstáculos enormes na vida de pai e mãe. Os avanços tecnológicos, que ironia, otimizaram o nosso tempo ao mesmo passo que não deixam restar tempo para nada. Faltam horas no dia, todos os dias. Não há minutos suficientes para ler os principais jornais, assistir aos canais mais pops no YouTube, ouvir os podcasts preferidos ou maratonar séries em serviços de streaming.
Queria poder congelar o tempo, não para ter minha filha nos braços por toda a eternidade, como muitos desejam — estou ansiosa para vê-la crescer e realizar sonhos que estejam fora do meu alcance —, mas, sim, para aproveitar com mais intensidade tudo o que esse mundo oferece.
Quem dera a vida pudesse ser aproveitada na mesma velocidade que todos esses pensamentos correm pela mente. Nos breves 15 minutos que aguardei a carona chegar e me resgatar do aplicativo vítima de um sistema fora do ar, tudo isso passou pela cabeça. E, por um instante, o delírio supersônico se concretizou.
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