Cidades

Mamonas Assassinas: A visão da Psicologia

Correio Braziliense
postado em 12/03/2020 06:08

Mamonas Assassinas em show em Brasília, no Mané Garrincha, em 2 de março de 1996Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 2 de março de 1996 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.

 

Morte de humorista vira logo piada, de cara ninguém acredita na notícia, pensa que é brincadeira. 

 

Foi assim com Luciana, 21 anos, filha da psicóloga Eveline Ramos. Ao ouvir dos pais que os Mamonas Assassinas haviam morrido num desastre de avião, Luciana ficou esperando a segunda parte da piada. Não veio e ela ficou desolada. 

 

“E olha que minha filha já é adulta, gostava deles mas não era fã”, conta Eveline, 52 anos, um pouco depois de falar sobre o acidente com Luciana e Sérgio, o outro filho de 28 anos. 

 

Eveline sabe tudo sobre os Mamonas. Aprendeu com seus alunos, meninos de rua do Projeto Vida, no Recanto das Emas. “Eles se identificavam com o grupo. Os Mamonas falavam as coisas do canto da sala, aquelas que a gente gosta de ouvir mas não tem coragem de falar”, diz a psicóloga. 

 

Mesmo perplexa com o desastre, Eveline passou o domingo preocupada com a reação de seus alunos à tragédia. Ela sabe que nessa hora pais e professores devem tomar muito cudiado para que as crianças e adolescentes não fiquem traumatizados. É o momento de trabalhar a idéia da morte. 

 

“O primeiro passo é entender que as crianças encaram a morte melhor que os adultos. Crianças não tem idéia de que a morte é eterna por isso para elas é mais simples. Nós é que complicamos”, ensina a psicóloga. 

 

Entendido que é necessário descomplicar o problema, Eveline passa para a segunda dica. “É preciso respeitar a dor do filho. Dar um tempo a ele”, resume e logo completa com a terceira lição: “Mas respeito não significa tratar o assunto como se o mundo tivesse acabado. A vida continua”.

 

Seguir em frente é a ordem. Outros heróis virão. Dos Mamonas que se foram tragicamente, Eveline extrai um ensinamento. 

 

“Esses meninos não precisavam viajar de noite depois do show. Podiam ter esperado um pouco. Isso é o mais importante. Mostrar para os nossos filhos que uma das razões dessa fatalidade foi a pressa. A mania adolescente de achar que a vida acaba amanhã”, desabafa. 

 

Como encarar a morte

Dar a notícia devagar, com cuidado. Respeitar a dor. Explicar que a vida continua, outros ídolos virão. É preciso ir à escola, comer, manter a rotina. 

 

Mostrar que é preciso ter mais responsabilidade com a vida. Não era preciso fazer a viagem àquela hora da noite, num avião pequeno. O mundo não ia acabar no dia seguinte. 

 

 

 

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