Cidades

Coronavírus: população idosa precisa de atenção especial

Diante das medidas recentes anunciadas pelo GDF e do aumento do número de casos de Covid-19, brasilienses e instituições de cuidados para pessoas com mais de 60 anos adotam protocolos para evitar que a doença apresente risco à vida dessa população

Correio Braziliense
postado em 15/03/2020 08:00

Emília Maria colocou álcool em gel à disposição em diferentes cômodosAntes de ser considerada como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a proliferação do coronavírus preocupava as autoridades, principalmente em se tratando dos idosos. A população com mais de 60 anos, além de pessoas com doenças crônicas, têm mais chances de desenvolver um quadro grave da doença do que outros grupos. Em virtude disso, alguns brasilienses têm mudado hábitos para evitar a autoexposição. No mesmo caminho, asilos e casas de acolhimento da capital federal passaram a restringir visitas e a incentivar, ainda mais, as práticas de higiene pessoal — os funcionários, inclusive.

A vulnerabilidade do organismo dos idosos — mais comum à medida que se envelhece — coloca esse grupo no topo das prioridades do poder público. Na última segunda-feira, o Ministério da Saúde anunciou que eles serão os primeiros vacinados contra a gripe, na campanha que começa no dia 23. Apesar de a dose não proteger contra o coronavírus, a medida pode auxiliar na detecção precoce de novos casos de covid-19 por facilitar o descarte de outras doenças respiratórias. A Defesa Civil também começou a vistoriar asilos, além de orientar os gestores dessas casas.

Enquanto o período de imunização não tem início, moradores idosos do Distrito Federal fazem o que podem para se proteger. Ainda que as recomendações sejam as mesmas para toda a população, há quem opte por não arriscar e por limitar o contato com outras pessoas. Moradora do Jardim Botânico, Emília Maria da Costa, 74 anos, tem dado preferência para programações mais caseiras.

Além de fazer parte da parcela da população mais suscetível a desenvolver um quadro grave da covid-19, a professora aposentada fez uma cirurgia para remover um timoma — tumor raro que se desenvolve na glândula do timo. A cirurgia a deixou com 60% do pulmão esquerdo e, por isso, a atenção é redobrada. “Estamos muito mais suscetíveis a infecções que uma pessoa mais jovem, porque todo o nosso processo é mais lento. Se você tem uma doença, como tenho, precisa se cuidar mais ainda”, recomenda Emília.

Na casa dela, mais do que antes, o álcool em gel tornou-se item indispensável e fica à disposição desde a porta de entrada até os banheiros. “Às vezes, achamos que, por estar com a saúde legal, temos resistência e queremos nos igualar a uma pessoa de 35, 40 anos. Mas esta é a hora de ter cuidado e de fazer um pouco de sacrifício, recolher-se mais”, opina.

Investimentos

Médico e diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UnATI/Uerj), Renato Veras ressalta que a suscetibilidade para contaminação é a mesma, mas para grupos de idosos, os resultados podem ser “mais perversos”. O pesquisador alerta para a necessidade de investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), de modo a garantir o acesso à medida em que os casos aumentem. “Vamos começar a ter um vírus da comunidade. Imagine nos grandes conglomerados, favelas, (locais) com baixa assistência. Vamos ter de fazer um esforço muito grande com o SUS funcionando de forma precária”, alerta.

Em relação aos lares para idosos, Renato ressalta que eles podem se tornar locais protegidos se não houver grande circulação de pessoas de fora. O médico lembra que o ideal é fugir de locais populosos e fechados; para quem permanecer em casa, vale evitar visitas e ficar atento à higienização das mãos ao longo do dia. “Esses cuidados valem não só para o idoso, como também para a família. Precisamos de prevenção e cuidado para que essa pessoa não seja acometida, pois sabemos que a probabilidade de um desfecho negativo acontecer é maior em pessoas com 70 ou 80 anos, do que em um jovem de 15, por exemplo”, comparou.

 

Visitas suspensas e prevenção

 

Asilos e locais que prestam atendimento ao público idoso têm buscado promover um ambiente seguro aos acolhidos, além de seguir as recomendações da Secretaria de Saúde. Visitas de familiares e voluntários estão temporariamente suspensas em alguns deles. A coordenadora administrativa do Lar São José da Casa do Candango, Danielle Rodrigues, explica que, além da alteração no vaivém de familiares, há cautela até para o recebimento de doações. “Evitamos ao máximo o contato com as pessoas de fora. Qualquer contribuição voluntária é bem-vinda, mas decidimos não deixar ninguém entrar por enquanto”, conta Danielle.

No Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes, em Sobradinho, os procedimentos de higiene se intensificaram. Os moradores usam constantemente o álcool em gel e lavam as mãos sempre que possível. Além disso, quem apresentar qualquer sintoma respiratório, usa máscara. “Estamos evitando visitas de grupos, de pessoas que viajaram para o exterior e de quem não costuma frequentar (o lar), bem como toques, abraços e beijos. Com certeza estamos mais atentos a isso tudo”, ressalta a coordenadora e psicóloga do espaço, Priscila Fernandes.

A precaução não se restringe a instituições vinculadas à Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes). O terapeuta ocupacional Messias Rodrigues, do Centro Terapêutico Integrado Longeviver, percebeu uma queda expressiva no número de pacientes da instituição na quinta-feira, um dia após sair o decreto do GDF. “Houve uma redução drástica. Muitos desmarcaram consultas com medo da doença”, diz. Em atenção à pandemia, a clínica enviou mensagens a pacientes e funcionários com a recomendação de que evitem a clínica caso apresentem algum sintoma ou tenham tido contato com suspeitos de contrair a Covid-19.

Nas duas unidades do Grupo Altevita, a precaução foi redobrada. A diretora clínica, Mariana Ruback, ofereceu treinamentos sobre higiene e cuidados com o ambiente para toda a equipe. “Pedimos para que os funcionários deixem a porta dos quartos abertas e também restringimos as visitas de pessoas com qualquer sintoma.” Para entrar nas unidades é necessário passar por avaliação: “Medimos a temperatura das pessoas e vemos se há algum sintoma de gripe. Temos um público com saúde bastante debilitada, todo o cuidado é pouco”, destaca a médica.

Informes

Para seguir à risca as orientações sobre como manter uma vida sadia, hábitos saudáveis fazem parte da rotina da empresária Algecira Amaral, 73. Todos os dias, ela come hortaliças e legumes cultivados em uma horta caseira e se exercita em casa, com esteira e bicicleta ergométrica. A rotina começa por volta das 5h30. São 2,8km de caminhada e 20 minutos de pedal. “Minha preocupação com a saúde é muito grande. Busco fortalecê-la sempre”, afirma a moradora do Lago Norte.

Os hábitos de higiene não ficam de fora: “Estou sempre lavando as mãos e usando álcool em gel”. A recomendação vale para amigos e colegas de trabalho também. Os funcionários da loja de materiais de construção da qual ela é sócia, em Taguatinga, estão cientes das medidas para evitar a propagação do vírus. “Mandamos imprimir vários avisos com informações para serem espalhados por toda a loja. Como a rotatividade lá é grande, temos de nos cuidar”, reconhece Algecira.

 

Determinações


O governador Ibaneis Rocha (MDB) publicou novo decreto ontem que prevê a suspensão das aulas de todas as escolas, universidades e faculdades do DF por mais 15 dias, a contar de amanhã, além de eventos que precisem de alvará e reúnam mais de 100 pessoas. A medida incluiu ainda a recomendação de que restaurantes e bares observassem a distância mínima de dois metros entre as mesas. Também há a recomendação de que, em eventos abertos, os participantes mantenham distância mínima de um metro entre si.

Recomendações

  • Ao perceber sintomas como febre, tosse e dificuldade para respirar, procure atendimento médico;
  • Mantenha distância de, pelo menos, um metro de pessoas que estão doentes;
  • Atenção a crianças e pessoas que estão tossindo, mas não apresentam indícios de covid-19, pois é possível que elas transmitam o coronavírus mesmo sem sintomas;
  • Tenha uma rotina regular de limpeza das mãos com produtos de higiene à base de álcool, além de água e sabão — especialmente antes de comer e após ir ao banheiro ou cumprimentar pessoas;
  • Sempre que tossir ou espirrar, use a parte interna do cotovelo dobrada sobre a boca para cobri-la;
  • Evite tocar regiões como olhos, nariz e boca;
  • Caso se sinta mal, mantenha-se em casa. Procure a unidade de saúde apenas de se apresentar sintomas graves (febre, tosse etc)
  • Use máscaras se estiver com sintomas relacionados ao coronavírus ou cuidando de alguém que esteja com a doença. O item só pode ser usado uma vez;
  • Fumar, usar mais de uma máscara ao mesmo tempo e se automedicar não é indicado.

Fonte: OMS

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