Correio Braziliense
postado em 15/03/2020 04:17
O Governo do Distrito Federal reforçou as medidas de prevenção contra a contaminação do coronavírus. Decreto assinado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) suspendeu por mais 15 dias as aulas na rede pública e privada. A medida, publicada em edição extra do Diário Oficial do DF (DODF) ontem, começa a valer a partir de amanhã. Nas escolas públicas, o recesso de julho será antecipado. Já as unidades particulares poderão optar por seguir a mesma orientação ou por suspender as atividades. Até o fechamento desta edição, eram oito os casos confirmados de Covid-19 no DF.
A adequação para o cumprimento do calendário escolar será de responsabilidade da Secretaria de Educação. A pasta informou que as aulas serão retomadas em 31 de março, uma terça-feira. O período pode ser estendido a depender do cenário de evolução da pandemia. “Por isso, as áreas técnicas darão início ao planejamento de metodologias alternativas às aulas presenciais”, destacou, em texto publicado na página oficial. As creches e os Centros de Ensino da Primeira Infância (Cepi) funcionarão normalmente, pois não estão abarcados no decreto — e são unidades pequenas, com média de pouco mais de 150 crianças.
Apesar de reconhecer a importância da medida, o Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) externou preocupação com a antecipação do recesso do meio do ano. “Essa é uma decisão do governo e ele tem as informações precisas, que devem ser graves. Por outro lado, precisamos conversar sobre essa recomposição do calendário escolar, pois não foi uma situação criada pelos professores e os mesmos não podem ser penalizados”, esclareceu, também por de nota, o diretor Samuel Fernandes.
O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF) se reunirá amanhã para discutir as orientações a serem repassadas às unidades de ensino. Algumas, no entanto, já haviam enviado comunicado aos pais ontem confirmando a suspensão das aulas pelo período determinado no decreto.
A Universidade de Brasília (UnB) também confirmou que prorrogará a suspensão das aulas. “Durante este período, estarão mantidas apenas as atividades presenciais de segurança ou outras consideradas essenciais. As atividades acadêmicas poderão ser substituídas por exercícios domiciliares, realizados sob a orientação dos decanatos de Ensino de Graduação (DEG) e Pós-Graduação (DPG), com supervisão das unidades acadêmicas”, informou a instituição de ensino. O Instituto Federal de Brasília (IFB) comunicou a suspensão de ontem a 22 de março, mas ainda não havia atualizado a previsão até o início da noite deste sábado.
Novos casos
O decreto foi publicado no dia em que o número de casos confirmados no DF subiu para oito. Durante a manhã de ontem, além do casal de advogados que viajou para ao Reino Unido e do dirigente do Flamengo Maurício Gomes de Mattos, dois novos pacientes testaram positivo para a doença: um argentino, de 51 anos, consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e um brasiliense, de 46, funcionário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O argentino esteve na Inglaterra e Dinamarca e desembarcou em Brasília no domingo passado. Ele está sendo atendido no Hospital Sírio-Libanês. O brasiliense chegou da França em 7 de março e passou pelo Hospital São Mateus, no Cruzeiro Velho. Os dois estão em isolamento domiciliar.
À tarde, casos confirmados de três integrantes da comitiva do presidente Jair Bolsonaro na viagem aos Estados Unidos também passaram a ser contabilizados pela Secretaria de Saúde do DF: o senador Nelson Trad (PSD-MS), a advogada do presidente, Karina Kufa, e o secretário-adjunto de Comunicação da Presidência, Samy Liberman. Eles também estão em isolamento domiciliar. Além dessas confirmações, há outras 116 suspeitas de infecção em investigação e 53 descartadas.
Teletrabalho
Além das suspensões de alguns eventos, o governo determinou que os servidores e empregados públicos ou contratados por empresas que prestam serviço ao GDF adotem o teletrabalho caso apresentem os sintomas da doença ou tenham retornado de viagem internacional nos últimos 10 dias. A decisão reforçou ainda a obrigatoriedade dos hospitais e dos laboratórios de informarem imediatamente às autoridades sanitárias os casos confirmados de Covid-19. A medida também prevê punições descritas em lei, em razão de abuso de poder econômico, caso haja elevação, sem justa causa, dos valores de insumos de combate à doença.
Os eventos que precisam de licença do governo, com um público de mais de 100 pessoas, continuam suspensos por mais 15 dias. O novo decreto inclui suspensão também para atividades coletivas de cinema e de teatro, por isso, os shoppings da cidade anunciaram que não abrirão as salas de exibição de filmes. Os jogos esportivos poderão ocorrer apenas com os portões fechados. Assim como previa a norma anterior, nos bares e restaurantes, as mesas devem ser organizadas com dois metros de distância entre elas e, para os eventos abertos, a recomendação é manter espaço de um metro entre as pessoas.
Os impactos da determinação do governo sobre o comércio começam a aparecer. De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista), Edson de Castro, há relatos de lojistas com redução de 50% nas vendas e pouco movimento nos shoppings. Nos supermercados, houve o aumento da demanda por parte de pessoas que temem o desabastecimento. “É um mal necessário. Tem consequências, tem, mas estamos falando de saúde, de preservar vidas. Os países que não fizeram dessa forma, estão sofrendo muito”, ponderou Castro.
Diante da situação, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF) montou um comitê de emergência para discutir os impactos do coronavírus. “Os setores mais afetados até agora são o de serviços e o de hotelaria”, revela Francisco Maia, presidente da entidade.
Colaborou Adriana Bernardes
Estado de saúde
Até o fim da tarde de ontem, a primeira paciente infectada pelo coronavírus no DF, uma mulher de 52 anos casada com um advogado também infectado, seguia internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), em estado grave e sedada. Ela apresenta síndrome respiratória aguda severa e está afebril. Além disso, tem doenças que agravam o quadro clínico.
Duas perguntas para
Raquel Estrela, psicóloga
Como controlar a doença sem pânico?
É importante identificar pensamentos que podem nos trazer desconforto. O fato de ficarmos pensando constantemente na doença vai trazendo ansiedade e pânico. Devemos sempre procurar sites oficiais e seguros para saber o que realmente está acontecendo e como combater, pois há muitas informações falsas. Nós devemos manter uma atitude otimista e objetiva. Houve outras epidemias e vírus e a população conseguiu combater. É importante manter o pensamento positivo, controlar a ansiedade, não entrar em pânico e se cuidar.
Como motivar a prevenção em prol do bem comum?
É importante deixarmos de lado o medo e pensarmos em todos nós. Se eu tiver algum sintoma e procurar ajuda médica, além de resguardar a minha vida, resguardarei as dos meus familiares, das pessoas que convivem comigo e da sociedade. Se cada um fizer a sua parte, vamos sair dessa.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.