Correio Braziliense
postado em 15/03/2020 04:17
Um dos principais cartões-postais de Brasília, o Lago Paranoá abriga uma diversidade da fauna silvestre cerratense no Distrito Federal. É muito comum brasilienses se depararem com famílias de capivaras, tartarugas ou jacarés no espelho d’água e às margens. Para o biólogo e diretor de Répteis do Jardim Zoológico de Brasília, Carlos Eduardo Nóbrega, a variedade de espécies é um reflexo das possibilidades que a região proporciona.
“A Área de Proteção Ambiental (APA) do Lago Paranoá conecta várias reservas ecológicas, como a da Cafuringa, do Rio São Bartolomeu, da Cabeça de Veado e do Parque Nacional de Brasília. Tudo isso em conexão faz com que os animais consigam transitar tendo o lago como uma zona de corredor. Então é frequente encontrar uma pluralidade de bichos”, explica Carlos.
De acordo com ele, a fartura de peixes também influencia na aparição de algumas espécies como a do jacaré-tinga, que, segundo o biólogo, não representa perigo à população. “Esses animais são bem sossegados. Ali tem uma boa abundância de peixes, não há motivos para atacar ou causar algum risco ao ser humano”, pontua. O réptil, que pode chegar a 2,5 metros de comprimento, tem uma média de vida de 50 anos. Carlos conta que a população dessa espécie tem crescido aqui no DF, no entanto, ressalta, não proporciona nenhum perigo.
Outra alta populacional na fauna silvestre está representada pelas capivaras. O maior roedor do planeta divide não só o lago com os brasilienses, mas também as ruas da cidade. São constantes os resgates desses animais pelo Batalhão Ambiental da Polícia Militar. Após a captura na zona urbana, se o bicho estiver saudável, é solto às margens do Lago Paranoá no habitat dele.
Para o biólogo Eduardo Nóbrega, a falta de predadores contribui para o aumento significativo dessa espécie. O comandante do Batalhão de Policiamento Ambiental, major José Gabriel de Souza Júnior, explica que há uma movimentação ao lado de universidades para o controle populacional, principalmente por se tratar de um animal que pode hospedar o carrapato estrela, transmissor da febre maculosa.
Mesmo com a grande quantidade da fauna silvestre que circula na região, atualmente, não há um monitoramento ou estudo de mapeamento das espécies. O que existe é o Plano de Manejo da APA do Lago Paranoá, elaborado em 2011, que apresenta um levantamento dos animais terrestres e aquáticos da APA como um todo, inclusive no espelho d’água.
De acordo com o documento, o local apresenta espécimes exóticas e típicas do cerrado. Há registros do cágado e do cágado de barbicha, mas a tartaruga mais encontrada é a de orelha vermelha. Originária da América do Norte, essa é uma espécie difícil de ser encontrada no Brasil. No entanto, a densidade populacional dela é muito grande aqui. Especialistas e biólogos acreditam que algumas espécies aquáticas que não são nativas podem ter sido introduzidas no lago por moradores que as criaram por um certo tempo em suas casas e depois as abandonaram.
Serpentes
Outro exemplo curioso é o morcego pescador. Comum em regiões litorâneas, o animal encontrou no lago uma fartura de peixes no coração do país. A garça disputa a pesca junto aos biguás. As duas aves são bastante encontradas sobrevoando o lago. O espelho d’água também abriga algumas espécies de serpentes aquáticas, como sucuri, cobra-d’água, falsa coral e cobras-cipós.
Quando contabilizada a variedade de peixes, o número aumenta. De acordo com o levantamento disponibilizado pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram), há mais de 30 espécies presentes no reservatório trazidas intencionalmente para aumentar o potencial pesqueiro do lago. Pode se encontrar tilápia, carpa, cascudo, traíra, tucunaré, piau-três-pintas, entre outros. A diversidade é enorme, e todo um ecossistema é criado em torno do Lago Paranoá. O biólogo do Zoológico Carlos Eduardo Nóbrega explica que a maioria da fauna encontrada no lago é de hábitos generalistas. Ou seja, que tem facilidade de sobreviver tanto no ambiente natural como no urbano.
Por ser uma região de proteção ambiental, a recomendação para a população é não mexer com o animal, pois é o habitat dele. Caso se depare com algum bicho na cidade ou em residência, a orientação é ligar para o Batalhão Ambiental no número de telefone 99351-5736 ou no 190.
Resgate
De acordo com o Batalhão Ambiental, a aparição de animais silvestres em áreas urbanas tem se tornado algo comum. Capivara nadando no espelho d’água do Palácio Itamaraty ou passeando no centro da capital, cobras sendo encontradas em residências, e o mais recente resgate de um jacaré dentro de uma piscina no Lago Sul, no primeiro domingo de fevereiro. Segundo o major Souza Júnior, o crescimento da ocupação urbana é um dos principais motivos, pois os animais ficam sem ter aonde ir.
No ano passado, a corporação resgatou cerca de 3 mil animais silvestres em todo o Distrito Federal. Desse quantitativo, 650 eram cobras e serpentes. Até o início de fevereiro, o batalhão havia capturado 48 cobras.
Pesca
A Polícia Militar Ambiental, por meio do Pelotão Lacustre, fiscaliza as atividades de pesca no Lago Paranoá. A pesca amadora com vara é permitida na maior parte do espelho d’água. Os pescadores profissionais precisam de autorização junto ao Ministério da Agricultura e validada pela Polícia Ambiental.
Não é permitida a prática de pesca nas seguintes localidades: a 30 metros da entrada e saída de embarcações; a 200 metros do Palácio da Alvorada; a 100 metros da Barragem do Paranoá; a 50 metros da Península dos Ministros (área compreendida entre a QL 12 e QL 16 do Lago Sul). Também é proibida a atividade a 50 metros de residências de embaixadas; a 200 metros de hospitais; a 200 metros de instalações militares; a 200 metros das áreas com elevada concentração de atividade de lazer e atividades esportivas como o Piscinão do Lago Norte, Prainha (Praça dos Orixás), Ermida Dom Bosco, Pontão do Lago Sul, Concha Acústica, Píer 21, Clubes e Associações Náuticas. Além de ficar a 500 metros dos emissários de esgoto das estações de esgoto Sul e Norte; da foz à nascente dos afluentes do Lago Paranoá.
Você sabia?
» Em 12 de setembro de 1959, Juscelino Kubitschek fechou a barragem do Paranoá e viu, na presença de uma multidão, o lago começar a se formar.
» Há 60 anos, críticos de Kubitschek chegaram a dizer que construir um lago artificial na nova capital era uma loucura.
» A profundidade máxima do lago é de 38m
» Está a 1.000m de altitude
» Tem um perímetro de 80km
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.