Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 19 de março de 2004 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.
A Universidade de Brasília (UnB) será a primeira instituição federal de ensino superior do país a adotar o sistema de cotas para negros. A instituição lançou ontem o edital do 2o vestibular de 2004, que reserva 20% das vagas para alunos negros ou pardos — serão 392 de um total de 1.994. A partir de agora, haverá dois regimes de entrada de candidatos na UnB. Um universal, para todos os interessados, e outro de cotas. O edital será publicado no Diário Oficial da União de hoje.
A UnB definiu regras diferentes das adotadas pela Universidade Estadual do Rio (Uerj) e a Universidade do Estado da Bahia (Uneb), pioneiras na implementação do regime de cotas. Os candidatos que quiserem participar do novo sistema terão de se declarar negros no momento da inscrição, escolhendo a opção no formulário de registro. Além disso, os interessados serão fotografados. Uma comissão analisará a imagem. Será esse grupo — formado por professores, ativistas e estudiosos da questão negra — que decidirá se o candidato concorrerá ou não às vagas reservadas.
‘‘Não vamos permitir que o processo seja desmoralizado. Criamos esse mecanismo para evitar oportunismos’’, justificou o vice-reitor da UnB, Timothy Mulholland. ‘‘Poderá haver casos em que dois irmãos entrem para o processo de cotas e apenas um seja aceito. Com isso, não estaremos dizendo que uma determinada pessoa é ou não negra, mas quem tem ou não as características físicas que indicam pertencimento à raça negra’’, completou a professora Dione Moura, relatora da comissão.
Notas mínimas
O grupo que avaliará os estudantes beneficiados pelo processo ainda não foi definido. Durante a análise da comissão, os candidatos poderão ser chamados para entrevista ‘‘para esclarecimento de dúvidas’’.
Quem não for aceito para concorrer ao vestibular pelo sistema de cotas, cairá automaticamente no sistema universal. ‘‘Uma regra importante é o fato de que os alunos que concorrerão pelas cotas terão de chegar às médias mínimas, às chamadas notas de corte, para ingressar da UnB’’, ressaltou o diretor acadêmico do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), Mauro Rabelo.
A iniciativa das cotas surge em um ambiente acadêmico que conta com apenas 2% de alunos negros, segundo levantamento do professor de Antropologia José Jorge de Carvalho, um dos autores das proposta de cotas. ‘‘É verdade que a sociedade ainda não está convencida de que precisa dessa medida de justiça social, mas cabe a nós contribuirmos para a conscientização’’, comentou a ministra-chefe da Secretaria Especial para Políticas de Promoção da Igualdade Social, Matilde Ribeiro.
O calouro de Ciência Política Wilson Araújo, 19 anos, não precisou do regime de cotas para entrar na UnB. Mas é favorável ao novo sistema. ‘‘Muita gente ainda discorda de implementar o sistema porque não conhecer a realidade dos negros, a discriminação que ainda existe’’, defendeu.
As regras
Para concorrer às vagas reservadas no sistema de cotas, o candidato deverá se inscrever pessoalmente, em locais que ainda serão definidos, e declarar-se negro no formulário. Também deverá tirar uma foto, que será analisada por uma comissão. O edital estará disponível hoje no site www.cespe.unb.br.
Polêmica nos EUA
Uma brincadeira racista virou polêmica nos Estados Unidos. O estudante universitário portorriquenho Jason Mattera, 20 anos, publicou no pequeno jornal O Olho Direito do Falcão um anúncio de bolsa de estudos exclusiva para brancos. Os interessados deveriam enviar um ensaio dizendo porque tinham orgulho de ser brancos e uma foto recente. O próprio Jason recebe uma bolsa anual de US$ 5 mil, exclusiva para alunos latinos. A questão deverá parar na Justiça.
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