Estas matérias foram publicadas originalmente nas edição do dia 3 de outubro de 2006 do Correio. A republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.
Os dois primeiros corpos de passageiros do vôo 1907 da Gol, resgatados no domingo na Serra do Cachimbo (MT), chegam hoje ao Instituto Médico Legal (IML) de Brasília. Segundo a Aeronáutica, trata-se de um homem e uma mulher, ainda não identificados. Os militares disseram que a mulher é morena, jovem e de baixa estatura. Peritos do IML informaram que os corpos estão em bom estado de conservação. Enquanto durarem as buscas, sete especialistas de Brasília ficarão no local do acidente, fazendo a pré-identificação das vítimas. Ontem, a equipe de resgate localizou 100 corpos das vítimas na cauda do boeing, a 1Km do local do acidente.
Ontem de manhã, uma comissão formada pela polícia técnica, a Aeronáutica e a Gol começou a contatar os familiares dos passageiros para informá-los sobre a busca pelos corpos e pedir informações que possam ajudar na identificação dos corpos. A expectativa é que, em duas semanas, os peritos tenham dados sobre as 155 pessoas que estavam no vôo. O diretor do IML de Brasília, José Flávio Souza Bezerra, diz que qualquer detalhe será importante.
As famílias vão preencher fichas com informações como peso, altura e cor das vítimas, além de roupas e jóias que usavam, se tinham ou não cicatrizes e tatuagens, e se têm históricos de tratamentos odontológicos, caso seja necessário fazer o reconhecimento pelas arcadas dentárias. Hoje, os parentes dos passageiros começarão a doar sangue para possíveis exames comparativos de DNA.
Todos os corpos localizados pelos militares que estão na região da selva amazônica serão trazidos para o IML de Brasília. Eles serão transportados por aviões da Força Aérea Brasileira em urnas climatizadas. Cinco unidades móveis de congelamento vão reforçar a capacidade de armazenamento de corpos do instituto, que é de 80 pessoas. “Embora Brasília nunca tenha sofrido um desastre de massa, com mais de 100 mortos, temos um plano estratégico elaborado em 2004”, disse.
Exames
As tentativas preliminares de identificação das vítimas serão por meio de exames datiloscópicos, nos quais se colhe a impressão digital e confronta-se com os dados da carteira de identidade. A primeira dificuldade do IML é que militares da Aeronáutica já informaram que o estado dos corpos é precário. Além do clima quente e úmido da região amazônica, eles estão em decomposição. Ainda assim, os peritos conseguem identificar as digitais de 15 a 20 dias após a morte da vítima.
Quando não é possível fazer a identificação pela impressão digital, é preciso partir para o exame de DNA. O DF tem o melhor laboratório de análises de material genético do país, mas, se for necessário, peritos das polícias civis de todo o Brasil poderão ajudar nos exames.
De acordo com a diretora do Instituto de Pesquisa de DNA Forense, Cláudia Menezes, as amostras que trazem resultados mais rápidos, em menos de uma semana, são as do sangue da vítima. Quando não é possível coletar o material, o DNA pode ser identificado por músculos e, em último caso, pelos ossos. “A velocidade da identificação depende do volume do material analisado”, explica a especialista. Depois de identificados, os corpos serão liberados pelo IML, que expedirá os atestados de óbito.
Apesar de depender da duração das buscas, definidas pela Aeronáutica, e do estado de conservação dos corpos para conseguir identificá-los, os peritos do IML já passaram por uma situação em que descobriram rapidamente a identificação de vítimas de um acidente grave. Em agosto de 2004, 370 pessoas morreram em um incêndio dentro de um supermercado na periferia de Assunção, no Paraguai. O IML brasiliense foi chamado para ajudar e, em 15 dias, a maioria das vítimas foi identificada. Oitenta corpos precisaram passar por exame de DNA, realizados, com sucesso, pelos peritos do DF.
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