Correio Braziliense
postado em 17/03/2020 06:00
“Estar à frente dos problemas.” As ações de combate ao coronavírus no Distrito Federal terão essa finalidade, segundo o ex-secretário de Saúde Osnei Okumoto. Horas antes de ser exonerado pelo governador Ibaneis Rocha, ele foi o entrevistado desta segunda-feira (16/3) no CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília — e comentou sobre as medidas tomadas na capital e aquelas que estão em estudo para mitigar a proliferação da doença na capital. Entre as ações futuras, o secretário antecipou que analisa a utilização do Centro Administrativo do Distrito Federal (Centrad) e do Hospital da Polícia Militar para internação de pacientes com suspeita de infecção pela Covid-19, caso exista necessidade de leitos. Okumoto também detalhou a situação dos hospitais referências do Distrito Federal, a proximidade com o pico de contaminações e os decretos do governador Ibaneis Rocha (MDB).
Estamos enfrentando uma situação muito complicada em relação ao coronavírus. Dentro da Secretaria de Saúde, como está a situação dos hospitais e dos profissionais? Eles estão protegidos e têm capacidade
para atender a população?
Sim. Primeiramente, todos os profissionais são treinados dentro das universidades para se proteger e ter os programas de biossegurança para atender pacientes com doenças contagiosas. Posteriormente, temos de trabalhar a questão de poder oferecer cursos de reciclagem dessas pessoas para elas se atualizarem e devemos oferecer os equipamentos de proteção individual. Não estamos tendo falta disso e adquirimos mais equipamentos. Estamos comprando sempre 50% a mais dos produtos de que precisamos, como máscaras, porque não sabemos o número de atendimento que vamos enfrentar. O governador Ibaneis está pedindo para que a gente saia na frente e busque sempre antecipar o problema, para não enfrentar uma medida ainda mais urgente, que temos no mundo inteiro.
Não chegamos ao pico da doença no DF?
Não. Em 30 dias, devemos ter o pico da doença; por isso, é importante fazer essa antecipação e ter vigilância em saúde, fazendo todos os procedimentos de vigilância dos pacientes positivos, e trabalhar a assistência, o tratamento. Temos hoje o Centro de Operações de Emergência (COE), com vários profissionais que fazem tomadas de decisão na Secretaria de Saúde, melhorando o nosso plano de contingência a cada dia.
Os decretos que o governador editou nas últimas semanas, inicialmente, foram alvo de críticas. O senhor considera que eles são efetivos?
Sim. O governador foi muito feliz com os decretos. Observamos que, nos outros países, houve crescimento de transmissão muito rápido, com uma reta ascendente de infecções. Quando a gente toma essas medidas de proibir aulas, diminuir possibilidades de transmissão em locais públicos, isso é muito importante, porque diminui aglomerações e possibilita que essas contaminações aconteçam raramente ou aos poucos. Então, a gente achata essa linha de transmissão, e ela acontecerá em períodos mais longos, sem sobrecarregar o sistema de saúde.
Quando chegarmos ao pico de infecções, quais as alternativas da Secretaria de Saúde para atendimento, além do Hospital de Base e do Hospital Regional da Asa Norte (Hran)?
É importante lembrar que as pessoas não precisam ter pânico. Cerca de 80% vão adquirir e não vão precisar de internação. Então, 20% precisarão de atendimento. Hoje, estamos com esses dois hospitais muito bem conversados e organizados para o atendimento. Temos observado notícias falsas que levam as pessoas ao pânico. A gente estava na fase de contenção, agora está na fase de mitigação, quando temos mais de 100 exames positivos no país. A partir desse momento, todos os hospitais devem estar preparados. Como temos uma rede que ficou muito tempo sem aumento de leitos, fizemos mudanças no Hran. Hoje, temos 10 leitos de UTI específicos para atendimento de coronavírus e estamos conversando com rede privada, que tem grande quantitativo de leitos. Então, vamos chegar a quase 400 leitos de UTI dentro da nossa rede, mas contando com a rede privada e os 2,8 mil leitos da UTI. Se tiver algum problema a mais, ou seja, nos antecipando desde já como o governador pede, estamos vendo o Hospital da Polícia Militar, que está pronto, mas não tem o mobiliário necessário, os equipamentos para o atendimento. Estamos estudando montar leitos de enfermaria dentro dos 29 quartos que eles têm, mais 22 leitos de UTI. Também fomos hoje (ontem) ao Centrad pela manhã e fizemos um estudo com a Vigilância Sanitária para olhar o ambiente e ver o que pode ser feito lá, caso exista necessidade muito grande de leitos.
Quando a pessoa deve comparecer a uma unidade de saúde e fazer um teste de coronavírus?
O que nos traz preocupação é quando o paciente tem dificuldade respiratória. Qualquer dificuldade, ele deve procurar uma unidade hospitalar. Outros tipos de pacientes, com febre, tosse e coriza, podem procurar uma UPA nossa e fazer os exames, caso necessário.
Caso a pessoa tenha sintomas e queira evitar o hospital, ela pode pedir atendimento em casa?
O que fizemos agora para melhorar o atendimento é ter pessoas treinadas para atender nos números 190, 193 e 199. Caso seja necessária uma informação mais técnica, o cidadão será direcionado para outro telefone, com especialista que dará orientações. Caso exista necessidade de coletar amostra, ela será orientada sobre como e onde fazer essa coleta. Mas é preciso ressaltar que quem está com os sintomas de dificuldades respiratórias devem procurar uma unidade de saúde.
A manifestação do vírus acontece em quanto tempo?
Ela pode acontecer em seis ou sete dias, com sintomas, mas em até 14 dias eles podem se manifestar. Quem chega de viagem internacional é importante se guardar nesse período. Conversei com várias pessoas que tomam cuidado de não chegar perto de crianças e idosos.
É recomendado evitar contato até no núcleo familiar dentro de casa?
Toda vez que a pessoa retorna para casa, ela deve saber que pode ter tocado em algum material ou se contaminado sem saber quando alguém falou e expeliu grande quantidade de gotículas. Então, ao chegar em casa, é preciso fazer a higienização antes de ter esse contato.
Há uma grande preocupação das pessoas com o transporte público, que anda diariamente abarrotado de gente. Quais medidas são eficazes para dar segurança a elas?
Trabalhamos sábado e domingo direto para poder minimizar os casos de transmissão. Ontem, estive com o secretário de Transporte, dentro da sala de gestão do governador, e discutimos isso. Os ônibus serão higienizados por álcool 70 e água sanitária. Foi orientado a tirar a sujidade de onde as pessoas colocam as mãos e depois realizar o tratamento com álcool ou água sanitária.
A paciente 01 estava em um hospital particular e foi ao Hran. Por quê?
Todos os hospitais precisam ter leitos de isolamento, são obrigados. Os pacientes internados não precisam ser transferidos. Mas o hospital em questão disse publicamente que não estava em condições de fazer esse acolhimento; então, a rede pública teve de acolher para dar o atendimento necessário.
Ainda é comum ouvir que o coronavírus é uma gripe como outra qualquer. Tivemos pessoas indo às ruas no fim de semana, e o presidente Jair Bolsonaro rompendo o isolamento e encontrando os manifestantes. O que há de diferente do coronavírus em relação às outras gripes?
Temos vírus respiratórios mais letais, mas eles têm vacinas produzidas todos os anos. No caso do coronavírus, por ser novo, por mais que seja menos letal, precisa de cuidado. Hoje, o que acontece é que estamos entrando no outono, quando vai ter circulação de até 21 tipos de vírus. As pessoas adquirem e não sabem qual é o vírus; então todo o cuidado é necessário, porque eles podem agravar os pacientes que têm algumas doenças bases, como asma, diabetes, hipertensão. Quem fuma e fica com pulmão comprometido também precisa ter um cuidado maior.
Na Itália, quase 400 pessoas morreram. O que foi feito de errado que não pode se repetir aqui?
A população de lá é mais idosa, e eles estavam em um inverno muito severo, quando o vírus tem essa propensão maior para acometer os pacientes. Houve um conjunto de situações que culminou com esses óbitos. Temos de tomar cuidado com essas pessoas idosas, que não podem ir a aglomerações, por exemplo.
O idoso precisa ficar em casa, em isolamento, ou pode fazer caminhada, ir a restaurante?
O ideal é que ele não saia de casa para locais com aglomerações. Sair para o ar livre, sem muitas pessoas por perto, tudo bem. Digo que o supermercado perto de fechar é essencial, porque está mais vazio. Caminhada é possível, mas restaurante cheio é melhor evitar. Tem gente pedindo comida pela entrega, por exemplo, que é uma opção.
Dos 14 pacientes confirmados com a Covid-19, todos viajaram para fora do país. Mas a transmissão comunitária vai começar?
Pode começar a qualquer momento. Estamos tomando todos os cuidados, no aeroporto e em todos os ambientes. Quem não sabe que está portando o vírus pode transmitir aqui dentro do DF para outras pessoas. Por isso, o trabalho da informação é importante. As medidas do Ibaneis (Rocha) possibilitam que a gente ainda não tenha transmissão aqui. O DF tem muitas embaixadas, pessoas que viajam para o exterior em congressos, de férias. Esse fluxo é muito grande aqui.
Haverá contratações de profissionais no DF?
Sim. Baseado nos decretos de emergência e na medida provisória do governo federal, vamos chamar mais médicos, que são especialistas, clínicos, enfermeiros, intensivistas, pneumologistas, infectologistas, cirurgiões gerais, traumatologistas, sanitaristas e anestesistas, que chamamos 51 agora do nosso concurso. Durante a passagem de ano, muitos se aposentam, entram de férias ou pedem demissão; então, temos de fazer essa reposição. Ontem (domingo), saiu um comunicado do Ministério da Saúde, que chamou mais de 5 mil médicos, isso é muito importante.
Voos são propícios para as infecções. O que os passageiros devem fazer na viagem para evitá-las?
As recomendações são: quem está com infecção respiratória e vai viajar, utilize máscara. Os demais viajantes, são cuidados básicos. Eles terão contato com as poltronas; então, tem de utilizar álcool em gel, lavar bem as mãos. Se alguém passar mal dentro do avião, temos um regulamento internacional que diz que o comissário avisa o piloto, que avisa a torre de controle, e a aeronave faz um taxiamento diferente para que ele possa ser atendido pela ambulância e seja levado ao hospital.
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