Correio Braziliense
postado em 17/03/2020 04:19
Medidas mais rígidas quando a disseminação aumentar
O governador Ibaneis Rocha (MDB) tem o controle hoje do sistema de saúde e está sentindo o pulso do problema dia a dia. À frente do núcleo de crise, acompanha cada decisão sobre o novo coronavírus. Por isso, ele estranhou ontem quando o Ministério da Saúde divulgou que havia cinco casos de transmissão comunitária no Distrito Federal. Ibaneis determinou que o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, parasse o que estava fazendo e fosse ao Ministério da Saúde. Osnei chegou quando a coletiva de imprensa ainda estava em andamento e conseguiu mostrar que esses dados estavam equivocados. Na verdade, naquela altura, havia 14 confirmações e cinco casos aguardando contraprova. Todos de pacientes que voltaram de viagem internacional ou tiveram contato com passageiros infectados. No fim do dia, o número foi convalidado. O DF contava ontem 19 casos confirmados. Mas todos com origem em outro país. Ficou claro ontem nas reuniões de governo, que Ibaneis endurecerá ainda mais as medidas quando começarem as transmissões comunitárias, ou seja, quando não se sabe mais como a pessoa pegou o vírus.
Delmasso quer fechar o Congresso
O vice-presidente da Câmara Legislativa, Rodrigo Delmasso (Republicanos), queria que o GDF fechasse o Congresso. Por conta do coronavírus. Mas foi desaconselhado a tentar a medida por meio da Secretaria de Saúde do DF. Mas Delmasso não se contentou e recomendou à Inframerica que fechasse o aeroporto de Brasília Juscelino Kubitschek para voos internacionais. A Inframerica respondeu que essas medidas cabem à Infraero.
Férias no comércio
As 30 mil lojas de entrequadras e de shoppings do DF poderão dar férias coletivas ou antecipar as férias para preservar a saúde de seus empregados, proprietários e consumidores. A possibilidade será discutida hoje durante reunião conjunta do Sindicato do Comércio Varejista e do Sindicato dos Empregados do Comércio. Será às 16h. “A meta é zelar pela saúde diante do cenário tenebroso do coronavírus”, disse o presidente do Sindivarejista, Edson de Castro. Há em todo o DF 101 mil comerciários e pelo menos dois milhões de consumidores. Todo mundo com medo da Covid-19.
Medo recíproco
Consumidores estão com medo dos vendedores e garçons, e os atendentes, dos consumidores. O comércio estava vazio ontem. A 402 Sul, rua de vários restaurantes, até tinha vaga sobrando na hora do almoço. Coisa inédita para um local onde às vezes não dá para parar nem mesmo de forma irregular.
Demorou
O Ministério Público do DF enviou ontem às administrações regionais de Taguatinga, Águas Claras, Arniqueira, Guará, Riacho Fundo, Riacho Fundo II, Samambaia, Brazlândia, Recanto das Emas, Vicente Pires, Ceilândia, SCIA e Estrutural e Sol Nascente e Pôr do Sol que revoguem licenças ou alvarás concedidos para a realização de eventos enquanto durar o surto de coronavírus no DF. A medida estava prevista nos decretos de Ibaneis.
À QUEIMA-ROUPA
João Pitaluga
Presidente da Associação Brasiliense de Medicina Legal (AbrML)
“Agentes penitenciários, advogados, funcionários terceirizados e juízes visitam os presídios diariamente e podem contaminar e serem contaminados se não agirmos logo”
Hoje o surto de coronavírus está restrito a pessoas que chegaram de viagens internacionais. Mas sabemos que a transmissão comunitária é questão de tempo. O que pode acontecer se o novo vírus chegar à população carcerária?
Infelizmente, a contaminação comunitária é uma questão de tempo. Hoje surgiu a informação dos primeiros casos no DF, no entanto, a SES não confirmou a informação. Na contaminação comunitária, não é possível identificar a trajetória do vírus e esse é mais um motivo para termos todo o cuidado com as populações vulneráveis e a população carcerária é uma delas pela própria aglomeração e pouca ventilação que a condição carcerária impõe. Isso põe em risco a saúde pública, mas também a segurança pública.
Há como evitar que se alastre se um preso for infectado?
Só há uma forma de evitarmos o alastramento da Covid-19 nos presídios, através de um plano de contingência entre a Secretaria de Segurança, Secretaria do Sistema Penitenciário e Secretaria de Saúde. Tenho certeza absoluta de que essas secretarias já estão se articulando e traçando estratégias de enfrentamento dessa infecção, com a preservação da saúde e da segurança de todos. A ABrML é formada de peritos médico-legistas que possuem conhecimento técnico em saúde e segurança, uma vez que somos médicos e policiais civis e, assim, é fundamental o nosso envolvimento nessas estratégias. E estamos à disposição para contribuir para o êxito desse plano de contingência.
Um surto dentro do presídio pode colocar servidores, policiais, juízes e visitantes sob risco. Como evitar que isso ocorra?
Como falei, apenas uma ação integrada entre essas secretarias pode mitigar o risco de vivenciarmos uma tragédia nos presídios do DF. Agentes penitenciários, advogados, funcionários terceirizados e juízes visitam os presídios diariamente e podem contaminar e serem contaminados se não agirmos logo.
Como tem sido em outros países?
Os Estados Unidos já traçaram estratégias de enfrentamento para os presídios federais. Já o Irã vê sua população de presos completamente adoecida e cogita inclusive soltar parte desses, o que compromete demais a segurança de todos.
Há uma expectativa de número de infecções no DF?
Não há como prevermos o cenário no DF. Acredito que mais importante que prevermos o futuro é agirmos agora com cidadania, respeitando as determinações das autoridades públicas e evitando aglomerações. Nós, médicos legistas, estamos prontos para enfrentar esse desafio junto com toda a Polícia Civil do Distrito Federal e os demais servidores públicos.
O senhor aprova as medidas adotadas até agora pelo governador Ibaneis?
Muito se criticou o governador quando ele decretou as primeiras medidas, como a suspensão de escolas e de shows, mas sabemos que o melhor remédio para esse vírus é evitarmos aglomerações, então o governador foi prudente e está correto. Mas ainda assim precisamos seguir e novas medidas precisam ser tomadas como o plano de contingência da Covid-19 para a população carcerária.
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