Cidades

Comandante dos Bombeiros: "É preciso saber se proteger"

Em entrevista ao CB.Poder, o coronel explicou a importância das medidas de contenção da transmissão do coronavírus no Distrito Federal

Correio Braziliense
postado em 18/03/2020 06:00

Com 26 casos confirmados de coronavírus no Distrito Federal, o comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, coronel Lisandro Paixão dos Santos, comentou ontem os desafios e as medidas adotadas em relação ao isolamento social para a prevenção da doença. O militar foi o convidado do C.B Poder dessa terça-feira, parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. “Não adianta fazer depois que está todo mundo doente, porque a maioria das contaminações acontece com pacientes assintomáticos. Eles são mais de 80%”, afirmou o coronel.


Entre as medidas adotadas pela corporação está o monitoramento da saúde de pessoas que desembarcarem e embarcarem no Aeroporto Internacional de Brasília e na Rodoviária Interestadual, com auxílio de medidores de temperatura por infravermelho. “Vamos detectar passageiros que chegaram com algum dos sintomas, principalmente a febre”, explicou Lisandro. Confira os principais trechos da entrevista:

O Corpo de Bombeiros cedeu aparelhos medidores de temperatura por infravermelho para monitoramento da saúde de pessoas que desembarcarem e embarcarem no Aeroporto Internacional de Brasília e na Rodoviária Interestadual. Como vai funcionar esta operação?

O Corpo de Bombeiros estará presente fazendo uma série de ações de controle e de apoio ao combate ao coronavírus. Já temos bombeiros em alguns locais fazendo triagem. O sintoma de maior prevalência do coronavírus é a febre; depois, a tosse seca. Os passageiros que chegaram com algum desses sintomas, principalmente a febre, vamos detectar um a um, e isso está sendo articulado com a Inframerica e com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Se a temperatura da pessoa estiver elevada, ela passa por uma segunda fase, que é a triagem, para verificar exatamente qual é a temperatura. Se tem outros sintomas, se está vindo de uma área endêmica, para que possa receber o tratamento adequado e não acontecer de, mesmo sem consciência, sair contaminando outras pessoas.

Já estão comprando mais quipamentos?
A principal triagem é a da temperatura, dos sintomas, e, depois, do sistema de saúde. A questão do equipamento já é algo mais rebuscado para, efetivamente, onde seja mais importante. Mesmo porque os chips (do equipamento que detecta a doença no ar) são liberados de forma regular e controlada de Cingapura, devido à demanda mundial. Não liberam mais que 100 chips por semana. Vamos ter poucos chips para fazer esse teste e só nos casos estritamente necessários. O maior trabalho é de conscientização da comunidade. É o apelo que fazemos de que esteja consciente de fazer o isolamento. Não frequentar locais com aglomerações de pessoas. De, ao sentir sintomas, já se isolar em casa. Faça contato com os telefones de emergência: 190, 193 e 199. O cidadão pode ligar, tirar dúvidas e expor o que está acontecendo. Quem atenderá será a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil. E tem mais uma equipe que o governador colocou em reforço, de teleatendimento, com as orientações protocolares para dizer exatamente o que fazer.

Vimos muitos países fechando as fronteiras, suspendendo voos. O DF cogita, em algum momento, fechar as divisas?
O governador vem antecipando medidas. Ele está em reunião todos os dias para tomar essas medidas, no momento exato e adequado, além de antecipar para que haja esse isolamento e a quarentena precoces. Não adianta fazer depois que está todo mundo doente, porque a maioria das contaminações acontece com pacientes assintomáticos. Eles são mais de 80%. Então, se não isolar antes, acaba transmitindo e a pessoa só vai sentir os efeitos sete, 10, 14 dias depois. Então, tem que antecipar. O governador está estudando, sim. Ele já afirmou que vai tomar as providências necessárias para que a população esteja protegida.

O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que estamos em uma guerra. É uma guerra?
É uma guerra. Tanto que a nossa preparação no CBMDF, e por isso estamos nesse processo, é para uma guerra. Uma ameaça terrorista, biológica, química, radiológica ou nuclear. Chamamos de QBRM. O exército tem equipes especializadas nisso também. Entramos em apoio para identificar, saber as medidas que se adota. Na ameaça biológica, como é o caso dessa, temos que identificar rapidamente o agente, isolar e saber as medidas a serem adotadas. Medidas de quarentena, colocar a pessoas que podem contagiar outras totalmente isoladas. Como estamos lidando com comunidade, o isolamento está sendo dentro das residências. As pessoas precisam ter consciência de que portam um agente infeccioso e perigoso. Por mais que 80% das pessoas não sejam afetadas, as pessoas suscetíveis a um risco maior, com comorbidades, como diabetes e outras doenças preexistentes, são estas que estão morrendo no mundo.

A sua orientação é completamente oposta ao que o presidente fez no domingo…
A gente precisa lembrar de que os acidentes e os incêndios continuam acontecendo. As pessoas continuam se machucando. Então, o Corpo de Bombeiros permanece funcionando full time, dentro da sua capacidade. A gente terá que suspender as férias dos bombeiros. Há uma readequação de prioridades. A atenção e o combate à Covid-19 passa a ser prioridade. Temos bombeiros também chegando da Europa, dos EUA, com sintomas… É uma questão que acomete a todos nós. Estes, nós estamos isolando dentro de casa, para que ele, ou faça teletrabalho ou permaneça em isolamento, com dispensa médica, quando necessário. E nós precisamos preencher essa lacuna com os bombeiros que, com as suas férias suspensas, possam trabalhar também.

Qual o tamanho da corporação?
Hoje, somos 5.735 bombeiros em atividade, divididos em diversas atividades de combate a incêndio, salvamento, atendimento pré-hospitalar, mergulho, salva vidas…

É um contingente suficiente?
Com certeza, porque os bombeiros estão bem preparados. Nós temos militares que fizeram curso no exterior ao longo dos anos, nós sempre nos preparamos para uma situação dessas. Então, à medida que evolua a situação, nós temos como adequar prioridades e efetivos especificamente para atender. O CBMDF estará disponível atendendo a sociedade inclusive em questões que não fazemos no dia a dia, mas que nós estamos colocando à disposição agora para o Sistema de Saúde.

Vimos até agora que a maioria dos infectados no DF e em boa parte do país pertence às classes mais altas. Como será quando o vírus chegar às populações carentes?
Nas reuniões com o governador ele fala sobre isso, sobre como proteger essas populações. É muito mais com informação e com orientação. Por isso o governo e suas várias secretarias estão produzidos muito material para divulgar essas informações, para que as pessoas efetivamente tomem consciência do perigo e saibam como fazer para se proteger. E a estrutura do Estado estará pronta para isso, para chegar às regiões, aos domicílios.

Conversando com especialistas e economistas eles dizem que têm duas opções: salvam-se vidas ou prejudica-se a economia. Até agora a economia está sendo prejudicada. A prioridade é salvar vidas, certo?
Tem que avaliar todas as possibilidades. Por isso que a linha é muito tênue. Até onde eu vou? Como é que eu salvo vidas? Porque, se parar a economia toda, pode trazer prejuízos também, até morrer pessoas. É muito difícil essa avaliação. Por isso é preciso todos os especialistas se reunirem e fazerem um brainstorm de tudo o que está acontecendo e tomar as melhores decisões. Aqui no DF, nós estamos privilegiados, porque o governador vem tomando antecipadamente as ações e nós estamos um pouco mais protegidos.

Se tivesse que dar um conselho hoje para a população, para que realmente entenda o tamanho da crise que nós estamos vivendo, quais recados o senhor daria?

Para quem ainda não tem consciência, abra a internet e assista a alguns vídeos do que está acontecendo na Itália, no Irã e em outros países que passam profundamente por essa crise para ver que há possibilidade de nós chegarmos nesse nível. Segundo: adote as medidas, vire a chave da mudança de cultura e adote providências já de isolamento social. Pare de ir a bar, a festas noturnas, pare de realizar festas, solenidades, eventos que aglomerem pessoas e adotem as medidas de isolamento.

 

 

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