Cidades

Alerta para a saúde mental

Em meio ao aumento de casos, moradores do Distrito Federal desabafam sobre angústias e contam como buscam paz. Especialistas dão dicas de como se manter calmo: é importante pensar que épocas ruins também passam

Correio Braziliense
postado em 20/03/2020 04:06
Em meio ao aumento de casos, moradores do Distrito Federal desabafam sobre angústias e contam como buscam paz. Especialistas dão dicas de como se manter calmo: é importante pensar que épocas ruins também passam

Um vírus novo, ainda sem cura, que já matou milhares de pessoas no mundo, e infectou dezenas de moradores do Distrito Federal, trouxe sentimentos de medo e angústia. O coronavírus ainda preocupa a capital por conta da linha crescente de casos, que deve alcançar o pico nas próximas semanas. Diante de tantas notícias negativas, segundo o Ministério da Saúde, especialistas em saúde mental alertam que a população pode adoecer não só fisicamente, mas também psicologicamente por conta da Covid-19. Psicólogos dizem que não há “receita de bolo” para cuidar da mente nesses tempos de pandemia, mas algumas atitudes simples do dia a dia podem minimizar o medo e a insegurança.

Primeiro, é preciso analisar o momento, de acordo com Kátia Araújo. A psicóloga conta que percebe muitos sentimentos negativos na população, mas também há muita atitude positiva sendo alimentada. “As pessoas estão com sentimento de medo, incerteza, ansiedade e preocupação com o que está acontecendo mundialmente. Mas também percebemos que está sendo desenvolvida uma empatia com o próximo e um cuidado com si mesmo. O pensamento coletivo, com solidariedade ao outro, tem sido muito importante”, conta. Para ela, uma atitude ideal nesse período é a filtragem de informações, pois as redes sociais ampliam muito o fluxo de notícias, mas muitas surgem de canais não oficiais e acabam disseminando o pânico.

“É importante tomar as precauções necessárias que estão sendo divulgadas pela mídia. A partir daí, desenvolve-se um pouco mais de tranquilidade e segurança. Mas também devemos ter cuidado com as informações. Muitas notícias são divulgadas em redes sociais sem dados concretos, sem fontes confiáveis. Isso pode ser um gatilho para o desenvolvimento de um estresse maior do que podemos suportar”, explica Kátia. Com muitos trabalhadores em casa realizando home office, e com os decretos do governo que fecharam escolas, shoppings e outros estabelecimentos, grande parte da população conseguiu seguir as recomendações médicas e fica em casa. O lar, nesse momento, pode ser repensado, orienta a especialista.

Acolhimento

“A gente passa a olhar com mais cuidado para nossa casa, nossa família. Isso é positivo. Filmes, séries e jogos são opções para aliviar esse peso. Além disso, temos várias opções como, por exemplo, desenvolver o lado gastronômico na cozinha, cuidar de plantas e hortas, fazer atividades manuais de artesanato, ler um bom livro. A criatividade e imaginação vai ajudar nessas horas”, avalia Kátia. É dentro de casa que Lucélia Freire, 34 anos, encontra meios de se manter esperançosa. Professora de teatro e mãe de uma criança de 6 anos, ela tem na relação com o filho um caminho para se manter em paz.

 “Vêm muitos pensamentos à cabeça, a gente se questiona como vai ser o amanhã e como podemos passar por essa fase difícil. Mas me faz bem olhar o sorriso dele, pensar que épocas ruins passam também e que é possível reverter esse quadro”, diz. Ela conta ainda que não se concentra só nas notícias ruins e nas vibrações negativas dessa pandemia, mas também lê o que há de bom, espalhado pelo mundo, e tenta se manter ativa. “Mexo bastante o corpo, faço atividade com meu filho em casa, brinco muito com ele. Tento fazer de tudo para me colocar em um lugar de esperança”, conta. Pensando no outro, Lucélia mantém o acolhimento da família por meio de grupos virtuais e passou a planejar materiais teatrais, de forma on-line, sobre as reflexões do distanciamento e aproximações.

Iago Lins, 23, também desenvolveu uma preocupação grande com a família, por conta da avó. “Vem um certo medo por ela já ser idosa e fumante, mas a gente tenta não surtar”, conta o estudante de farmácia. Ele confessa que agora, com o aumento dos casos de infecções pelo coronavírus no DF, percebe o problema de outra forma. “No começo das notícias, não me vi muito preocupado, achei que era algo passageiro e até superestimado, mas fui percebendo a gravidade com o tempo. Como as aulas foram suspensas, tento distrair a cabeça assistindo televisão, filmes e séries on-line e jogando no computador. Pelo menos hoje em dia temos as redes sociais e podemos conversar com os amigos por elas, o que facilita nesse isolamento para manter a calma”, explica.

Realidade

Em momentos de crise, como o atual, é essencial manter a cabeça no que é real. É isso que alertam especialistas em saúde mental, que ressaltam a importância de a população se manter informada com notícias de qualidade, para não subestimar ou superestimar um problema igual ao coronavírus. A psicóloga Danuska Tokarski detalha: “precisamos encarar a realidade, considerando as medidas de segurança e sabendo que o risco existe e é real. Mas temos que evitar fantasiar muito o que pode vir a acontecer”, diz.

A especialista exemplifica comentando sobre o medo e a ansiedade, presentes em grande parte da população. “Uma diferença entre medo e ansiedade é que o medo é uma reação a uma situação real de perigo, como um assalto, por exemplo. Já a ansiedade é uma reação a uma situação imaginária como questionar-se: o que será da minha família se eu pegar a doença”, coloca. Mas o sentimento de incerteza é normal, segundo a psicóloga. “Saímos da nossa rotina e começamos a pensar no risco de adoecermos, de vir uma crise financeira. Até o medo da morte está crescendo. Inevitavelmente, isso configura em ansiedade, mas temos que procurar ter controle para não chegarmos ao pânico”, afirma.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags