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Crônica da Cidade

Correio Braziliense
postado em 20/03/2020 04:06
Jornalismo e fake news

Vejam só as fake news sobre o coronavírus que circulam nos grupos de WhatsApp e nas redes sociais. Elas são não apenas mentirosas, mas, também, em muitos casos, perigosas. Há uma versão segundo a qual o novo coronavírus não resiste ao calor e que “temperaturas de 26ºC ou 27ºC já matam o dito cujo”.

É fake. O Ministério da Saúde considera que a afirmação é rigorosamente falsa, pois a temperatura do corpo humano é de 36ºC e, mesmo assim, o vírus resiste. E mais: os beneficiários do Bolsa Família vão ganhar R$ 470 para comprar produtos de limpeza e máscaras contra o coronavírus. É fake. O Ministério da Cidadania, responsável pela administração do benefício, refuta a versão como falaciosa. E informa: a única alteração no Bolsa Família em relação ao coronavírus é a inclusão de 1,2 milhão de beneficiários no programa como medida para amenizar os impactos da pandemia no país.

Consumir oito dentes de alho e sete xícaras de água fervida eliminam o coronavírus. É fake. Especialista ouvida pelos bravos colaboradores do Holofote, núcleo de checagem de fatos do Correio Braziliense, nega a veracidade da afirmação. “Se isso daí procedesse, os cientistas não estavam na corrida à procura da vacina”, argumenta Ana Helena Germoglio, infectologista do Hospital Brasília. Segundo ela, apesar de estudos fitoterápicos especificarem que o alho tem poderes anti-inflamatórios, não é eficaz contra o novo vírus.

E ainda circularam outras notícias falsas, também apuradas pelo Holofote: exposição ao sol mata o micro-organismo; gargarejo de solução desinfetante elimina ou minimiza a quantidade de vírus na garganta; fórmula caseira para a produção de álcool em gel; abono de R$ 998 para o trabalhador. É tudo fake.

Se as notícias falsas promovem tamanho estrago em uma pandemia, é possível imaginar as mentiras que interferem no debate político via WhatsApp. Umberto Eco alertou que a internet empoderou os ignorantes. Antes dela, o idiota de aldeia permanecia humilde na consciência de suas limitações. Mas, com a internet, um Prêmio Nobel tem o mesmo espaço de fala do que qualquer tolo.

Como pode, em uma situação tão dramática quanto a que estamos vivendo, alguém propagar notícias falsas? Se não fosse a imprensa, no trabalho de educar e informar, também por meio dos núcleos de checagem de fatos como o Holofote, os brasileiros estariam em situação ainda mais dramática na era do coronavírus. O choque de realidade da pandemia está revelando o quanto o jornalismo é essencial para a saúde da democracia.




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