Cidades

Cuidados com o álcool líquido

Correio Braziliense
postado em 20/03/2020 04:07
» JÉSSICA EUFRÁSIO

Na tentativa de evitar o desabastecimento das farmácias e supermercados de insumos que ajudam no combate ao coronavírus, a Câmara dos Deputados aprovou, na terça-feira, Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que autoriza a comercialização de álcool líquido com concentração de 70% em embalagens maiores que as disponibilizadas atualmente. A proposta, cujos efeitos valeriam por 90 dias, ainda precisa de aval do Senado antes de seguir para sanção presidencial.

Atualmente, a venda de álcool líquido a 70% está proibida pela Resolução nº 46/2002, Anvisa, devido aos riscos de acidentes e de queimaduras. A norma determina que a comercialização do produto em graduação superior a 54º Gay Lussac (GL) e em embalagens com mais de 500g só pode ocorrer na forma de gel.

No entanto, para o autor do PDL nº 87/2020, o deputado Luiz Antonio Teixeira Jr. (PP/RJ), a mudança na lei atende a pedidos de representantes de supermercados. Para ele, a medida vai ajudar a acabar com a “crise artificial” do álcool em gel. “O álcool a 70 (por cento) vai nos ajudar a baratear preços e a conter a ansiedade da população”, declarou Luiz Antonio durante a sessão plenária.

O presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), José Adorno, alerta, no entanto, que a suspensão do artigo que trata do tema pode ser arriscada. Ele comentou que há uma cultura que perpassa todas as classes sociais e envolve o uso de álcool líquido para limpeza. Contudo, acidentes domésticos são comuns e as crianças são as principais vítimas.

“Não estou advogando que as pessoas não devam usar álcool para limpeza. Mas estão mandando todo mundo para casa e, com isso, se aumentarmos a presença desse produto em domicílio, aumentamos o risco de queimaduras”, afirma o cirurgião plástico da Ala de Queimados do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). José Adorno acrescentou que a suspensão da venda pela Anvisa decorreu da alta inflamabilidade do álcool com graduação maior, apesar de a concentração ser melhor para higienização.

Mesmo assim, ele considera que a aprovação do PDL terá “efeito colateral muito grande”, especialmente com mais crianças em casa. O médico lembrou que, com as famílias reclusas neste período de pandemia, não há necessidade de higienizar as mãos sempre com álcool, pois a lavagem adequada e frequente delas com água e sabão é tão eficiente quanto o uso exclusivo do produto. Para a limpeza de objetos, Adorno lembra que há produtos degermantes que podem substituir o álcool.




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