Correio Braziliense
postado em 21/03/2020 04:35
Duras liçõesO novo coronavírus não devia existir. Por causa desse ser minúsculo, o mundo chora milhares de mortos e se paralisa de medo. Mas ele existe. E, em meio à experiência tão intensa, lições acabam surgindo. Tenho as tido diariamente, e imagino que a cara leitora, o caro leitor também as tenham.
O vírus que acua e mata é também o que me abre os olhos. Acho que, sinceramente, me acostumei a viver como se fosse imortal. Como se tivesse um tempo incalculável pela frente e pudesse deixar as coisas mais importantes eternamente para depois. Também gosto de acreditar que tenho tudo sob controle, que meus planos são o mesmo que destino. Mas, aí, surge esse vírus, e minhas certezas caem por terra.
O que realmente me importa? Da forma mais cruel possível, o vírus me convida a essa reflexão. Quem eu amo? De quem sinto falta? Se eu for uma das vítimas da pandemia, o que terei deixado de fazer? Que sonhos terei abandonado? Que amigos terei visto menos do que gostaria? A cada limitação imposta pela ameaça, uma peneira separa o que tem e o que não tem valor real para mim. E, triste, constato que muito do meu tempo vinha sendo dedicado às coisas que não importam tanto assim.
E aí torço para que o vírus seja só um professor com excesso de rigor. Que ele vá embora para nunca mais voltar e fique apenas sua dura lição. E que a superação dessa ameaça não me faça esquecer o que aprendo agora. Que, retomada a vida normal (e ela vai ser retomada!), as reflexões se transformem em ação e eu viva como agora percebo que devo viver.
Vou além em meus pensamentos. Se uma pessoa pode aprender, por que não o mundo? Que mundo errado o vírus nos mostra. Um mundo onde tantos vivem tão vulneráveis, sem reservas para se manter em casos de emergência. Um mundo em que poucos podem se dar ao luxo de ficar resguardados e protegidos, enquanto muitos precisam se arriscar, caso contrário não terão o que comer.
Vamos passar por esse momento. Eu e você vamos sair de pé do lado lá. O mundo também continuará existindo. E seria bom que eu, você e o mundo saíssemos dessa melhores que entramos. Para isso, é preciso passar por tudo de olhos abertos. Não podemos nos deixar cegar pelo medo, esse pai do egoísmo. Cidadãos, governantes, todos devem se preocupar com os mais frágeis. Caso contrário, o mundo será ainda pior. E isso não vai ser bom para ninguém. Mas, assim como tenho fé em mim, tenho fé em nós.
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