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Amanhã você vai conhecer um Super Shopping: O Conjunto Nacional Brasília

Estas matérias foram publicadas originalmente nas edições de 23 e 24 de novembro de 1971 do Correio. A republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.

 

 

24 de novembro de 1971 

Por que Shopping Center

Na rua super movimentada é difícil ficar por um momento parado no passeio. As pessoas passam correndo, se acotovelam, esbarram. Na pista, centenas de carros, ônibus, não param um segundo de encher nossos olhos e ouvidos de fumaça, buzinas, freadas bruscas, ranger de pneus, a não ser nos breves minutos em que o sinal fecha e as pessoas, aos trambolhões, se projetam para a outra calçada.

 

Esta, naturalmente é a imagem real, sem exageros, de uma rua qualquer, de uma grande cidade qualquer. O comércio, certamente, é em grande parte responsável pela criação dos problemas urbanos. E agora, como aprendiz de feiticeiro, o feitiço - que por tanto tempo o beneficiou - volta-se contra ele. O comércio, certamente, já está se ressentindo, em grande escala, dos malefícios dos problemas urbanos.

 

Enquanto eu observo todo êste movimento na rua, procuro me manter em pé, na frente de uma loja de calçados. Espero poder entrevistar a primeira freguesa que entrar na loja. É difícil ficar ali parado. O povo me força, continuamente a mudar de lugar. Na confusão, uma senhora carregando uma grande caixa que evidentemente contém um chapéu, tenta atravessar até a porta da loja. Tento ajudá-la, mas nesta altura a sua caixa de chapéu está quase sendo pisada por todos, e o fio do meu gravador está enroscado na bolsa de couro que uma garota leva a tiracolo.

 

Desfeita a confusão, apanho meu microfone e arrisco:

- A senhora ia entrar nesta loja…

- Sim, o senhor me desculpe. A senhora é nova ainda, vê-se logo que tem bastante educação, e pode ser tomada como representante de uma larga faixa de consumidores.

- Eu gostaria, se a senhora permitisse, lhe fazer algumas perguntas… sobre comércio… compras.

 

A esta altura estamos dentro da loja, para poder conversar. Um vendedor, indeciso, nos olha de perto.

 

- Pois é - diz a senhora - a verdade é que eu já andei umas dez lojas procurando um sapato para um casamento que tenho amanhã e ainda não encontrei...

 

Parou por um instante, como que cansada, para logo em seguida dizer, com um ar meio triste:

 

- O pior é ter que repetir isto sempre. Hoje eu já vi uns tecidos lindos que estou precisando. Mas tenho que voltar outro dia. O que eu procuro hoje são sapatos...

 

E foi falar com o vendedor, a esta altura muito desconfiado.

 

Na verdade, eu não me espantava muito com aquilo. Já esperava algo mais ou menos assim, quando comecei a série de entrevistas para este artigo. O que eu pensava sobre feitiços e feiticeiros se comprovava a cada passo. Seria simples fazer uma comprovação mais definitiva, e cada um daqueles comerciantes tinha consciência disto: bastava pegar números, se os houvesse, na estatística diriam, na sua certeza incontestável, aquilo que para mim (e para os donos das lojas) estava presente ali, na confusão da rua: estão todos perdendo vendas. Vendas certas, vendas feitas. Sendo perdidas porque o consumidor está cansado.Muito cansado.

 

Afinal, não é brincadeira ter um ritmo de trabalho intenso, trabalhando a semana toda, quer nos escritórios ou cuidando da casa, e ainda ter que literalmente - brigar para fazer uma compra. Antigamente, “fazer compras” era uma das coisas agradáveis, ansiosamente esperadas. E a razão é muito simples: antigamente, o ambiente das compras, se é que podemos dizer assim, proporcionava a cada freguês o conforto e o prazer de estar fazendo um passeio, se divertindo, encontrando pessoas conhecidas, recebendo informações novas, e ainda, conseguindo comprar aquilo que se procurava. Havia, portanto, uma adequação entre a estrutura criada para o consumidor e o desempenho da função de consumir.

 

A esta altura, tínhamos conseguido chegar até uma doceria, algumas casas após aquela loja de calçados. Resolvi entrar e tomar um refresco. Na fila, para tirar ficha, comecei a observar uma velhinha, empertigada, muito bem vestida, com os olhos faiscantes, ao morder seu terceiro quindim, desde que eu estava ali. Pelo jeito das moças do balcão, era evidente que a velhinha estava ali todos os dias. Peguei minha ficha e fui falar com ela.

 

- Se for perguntar que canal que eu vejo, não adiante que não digo. A velhinha me disparou, antes que eu dissesse qualquer coisa, e sem tirar os olhos do quarto doce. Expliquei que não se tratava disto. Eu Apenas queria saber o que ela achava do comércio, das compras, hoje em dia. Do jeito que ela se preparou para responder, vi logo que tinha acertado. A velhinha era consumidora, e das boas.

 

- Então, meu filho, o que acontece é que a gente não pode mais correr o comércio, com calma, escolhendo o melhor, o mais bonito. Ficou tudo muito gritado. Muito confuso. Esbarram, empurram, e eu já não aguento mais ir ver tudo que eu gosto.

 

Fiquei pensando comigo como aquela senhora devia achar tudo diferente, desconfortável, e mesmo assim persistia na sua saudável mania de ir todos os dias para a rua. Comprar uma coisa ou outra e comer quindins, na doceria se sempre. Aliás, ela agora estava apenas acabando a sua Coca-Cola, e eu já me despedia, quando não aguentei e perguntei porque ela não dizia o canal de Tv que via.

 

Me olhou com uma cara de quem estava perguntando o óbvio e disse: “Porque se eu disse um deles, é uma injustiça para com os outros. E eu gosto deles todos”.

 

- Evidentemente, uma telemaníaca.

 

Não se trata, aqui, de ser saudosista. Cada coisa foi realmente ótima dentro do seu tempo. Mas não se pode é deixar de contestar que há uma gritante disfunção, hoje, no comércio, na estrutura que se oferece ao consumidor, nas grandes cidades, para que ele possa desempenhar, a contento, o seu papel de consumidor. Prejudicados: todos nós, sejamos comerciantes ou consumidores.


CNB: A esquina que faltava em Brasília

Quando Brasília foi planejada pelo gênio de Lúcio Costa, na confluência dos Eixos Monumental e Rodoviário dois setores ladeavam a Estação Rodoviária: o Setor Diversões Norte e o Setor Diversões Sul, ambos cercados pelos Setores Hoteleiros e Comercial Sul e Norte. Mas havia uma diferença entre os dois setores: enquanto no Setor Diversões Sul houve divisão por vários lotes, no Setor Diversões Norte o lote único, enorme, era um desafio à iniciativa privada, pelo volume de obras que, num só prédio, exigiria a concepção arquitetônica. Mas há, sempre, homens de coragem, com fé no futuro deste país e, mais ainda, com fé nesta aventura maravilhosa que foi e continua sendo Brasília. E foi concebido, então, um edifício de sete pavimentos, com 120 mil metros quadrados de área de construção. O projeto, de autoria do Arquiteto Nauro Jorge Esteves, previa 457 lojas, 309 salas comerciais, 3 cinemas, 2 teatros, garagens e estacionamento para mais de 1000 automóveis. 

 

Em 1968 foi lançado o empreendimento, oferecendo-se as lojas e salas a venda em Brasília, São Paulo, Rio de janeiro e Belo Horizonte, dando-se início à incorporação. Com a crise política de 1969, paralisaram-se as vendas, mas nem por isso a incorporação desanimou. Podendo adiar a construção do prédio, ela acreditou em Brasília, acreditou no Brasil acreditou nos brasilienses e atacou a obra sem esmorecimento e por sua própria conta. A 9 de maio de 1970 havia a festa da cumeeira e o reinício das vendas. Mas, agora, com outro objetivo: percebeu a incorporadora que o que Brasília precisava não era de mais um conjunto de lojas. O que se tornava importante era criar um centro de compras que realmente atendesse às necessidades do consumidor de Brasília, cada vez mais necessitado de um comércio centralizado, cada vez menos motivado a fazer compras fora da cidade, cada vez mais precisando de conforto para suas compras. E nasceu a ideia de se formar um “shopping-center”  dentro da mais moderna técnica testada em todo o mundo.

 

E, hoje, aí está o Conjunto Nacional Brasília, “o maior shopping-center da América do Sul”: três pavimentos de salas comerciais e quatro pavimentos de lojas: supermercado, eletrodomésticos, farmácia, Banco, boutiques, cinema (o mais luxuoso de Brasília), cabeleireiros, barbeiro, restaurantes, enfim, tudo o que o consumidor possa precisar, com a variedade de ofertas que respeite seu direito de escolha. E com o conforto necessário: elevadores modernos, escadas rolantes, ‘telefones públicos e galerias amplas. 

 

Todos os detalhes foram estudados. Todas as necessidades foram previstas. Tudo que representasse o melhor foi estudado, planejado e executado com esmêro. A distribuição das lojas - basta dizer que cada pavimento tem uma característica própria e que, em conjunto, têm uma harmonia notável. No térreo ao nível do Eixo Monumental, que foi denominado Térreo Estacionamento, tem o Supermercado Pão de Açúcar, com o Jumbo, com 5 mil m² de área de venda num só plano, além de 100 m² de depósitos, que garantem um abastecimento inédito em Brasília; a Onogás, a maior revendedora de eletrodomésticos do Brasil Central, com seus preços incríveis e sua taxa de financiamento de 1.5, quase inacreditável; a Cofan, farmácia que sempre tem de tudo, lanchonetes e a Lavanderia Alvorada, a melhor e mais famosa da cidade. 

 

No Térreo Plataforma Rodoviária, cujas lojas têm sobrelojas e uma imponência incomum com seus 6 metros de pé direito, andar nobre, com as Casas Pernambucanas, a Volkswagen, a Livraria Sodiler ( a mais completa do país, com representações de livros técnicos e revistas estrangeiras), relojoaria,  papelaria especializada, Studio Fotográfico, a Casa Clark ( com 150 anos de existência e da qual suspeita-se ter fornecido as botas que D. Pedro I calçava no dia da Independência), e um banco diferente, o GRupo Financeiro Campina Grande, com o primeiro supermercado financeiro a ser instalado no país, Boutique Hilda, Restaurante Mirbeg (com o maior sortimento de frios que Brasília já viu e refeições vegetarianas).

 

No segundo pavimento, já popularizado com a Delegacia Regional da Receita Federal, há uma previsão deliciosa: será o pavimento da “badalação” da cidade. Encontros, namoros, “shoppings”, “footings”, paqueras, diversões, dominarão o pavimento mais alegre da cidade. Destacando-se o Cine Astor, de luxo fora de série, o Restaurante Xangô ( a própria Bahia na Capital Federal), a Churrascaria Porteira, o Kibe Assado e um fliperama, mania do momento. Além de uma infinidade de lojas: boutiques, hobby-shop, coiffeur, Dominici Lustres, a Doceria Rechden (com doces com gosto de Minas Gerais), e os dois melhores fabricantes de coquetéis especiais (que modestamente chamam de “batida”): o Arnaldo do Glub e o Ernesto do Drug Bip. Finalmente, o terceiro pavimento, o andar da tranquilidade, da paz e da beleza: com o Jardim Suspenso de Brasília, assinado por Ney Ururahy. E mais lojas: Malharia Tear, Madriz Lanches, Barbearia Diplomata (esnobadíssima), Honey Drinks, (a uisqueria que vai marcar época) e até os orixás protetores do mau olhado e incentivadores do bem espiritualista: o Congá dos Orixás, com uma seção de bijuterias exclusivas.

 

Vai ser difícil, de agora em diante, deixar de frequentar o CNB. Já há até quem queira fundar a AFACNB (Associação dos Frequentadores Assíduos do CNB).

 

Resumindo - como dizia a propaganda de lançamento de incorporação: o CNB será a “esquina” que faltava a Brasília, onde todos se encontram, onde as garotas bonitas e os rapazes elegantes circularão, onde ricos e pobres se encontrarão para as compras, e os passeios das horas de ociosidade.

 

Ah, íamos esquecendo o nome da autora desta beleza, desta obra que é a maior, de iniciativa privada, da Capital Federal, quiçá do Brasil inteiro: EGISA - Engenharia, Comércio e Indústria S.A., construtora de Brasília desde os tempos pioneiros de 1957.

 

E mais: o que está pronto é um terço do CNB. Imaginem: quando vocês verem o colosso que já é o CNB estarão vendo a terça parte do ele é, do que ele, em breve, será realidade.

 

23 de novembro de 1971


Amanhã você vai conhecer um Super Shopping Center O Conjunto Nacional Brasília

Ah! E você vai ver que shopping center! Bonito, bem arquitetado, bem construído, bem acabado. Também, pudera, foi a ECISA quem o construiu. O CNB tem um estacionamento, localizado no ponto nevralgico do transito desta cidade. O Eixo Monumental, mas tem também a entrada pelo “eixinho” o que facilita mais ainda. Mas, voltando ao estacionamento, este comporta mil carros. É o máximo da facilidade. Nada se sol, falta de vaga, guardas apitando, carros freando, tumulto, confusão… CHEGA.

Agora, pense no CNB. São ruas de lojas. Com escadas rolantes, elevadores, várias lojas vendendo várias coisas.

 

Todas pertinho uma das outras. Cinema, Supermercado, bar, boutique, lanchonete, barzinho de batidas e salgadinhos, restaurantes, churrascaria, barbeiro, telefone público. E tudo fácil de achar pois uma programação visual, corretíssima, lhe indica os caminhos a seguir. A Lavanderia, Alvorada, que vocês todos conhecem através dos bons serviços que ela presta, está instalada no CNB. A ONOGÁS também. As CASAS PERNAMBUCANAS, aquelas que em todas as porteiras de estrada você vê o nome escrito, é a primeira imagem de quem entra no CNB pelo “eixinho”. Aquele colosso de loja. Com tecidos, cama e mesa, banho, a mais recente coleção da Bangu, numa loja que será a maior das Pernambucanas.

 

E quem tem o hobby de montar carrinhos, aviões, trens e essas coisas, terá no Conjunto, o seu reduto máximo. A Hobby Shop, que representa as marcas mais famosas de miniaturização de todo mundo.

 

Assim é o CNB, este gigante de ofertas e oportunidades para suas compras. E são estes detalhes, que fazem dele o maior e melhor “shopping center” da América Latina. Coisas estudadas, pensadas, realizadas dentro do mais minucioso critério. A qualidade e o seu conforto, foram as nossas maiores preocupações.

 

Vá dar uma espiada amanhã. Vá ver com seus olhos, e você verá que não estamos exagerando. Que a verdade é muito melhor.

 

E mesmo depois de sua inauguração, o CNB terá uma programação especial principalmente dedicada às crianças. Só queremos lhe dar um conselho. Não se esqueça de tomar um calmante, pois você não vai conseguir se controlar. 

 

Programa

9:30 hs. Banda do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal

10:00 hs. Madrigal do Ministério da Educação e Cultura. Regência do maestro Livino Alcântara

 

10:00 hs. Missa Campal, em Ação de Graças.

 

11:00 hs. Corte da fita simbólica. 

 

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