Correio Braziliense
postado em 22/03/2020 04:15
A alguns quilômetros do cruzeiro, um outro monumento chama a atenção dos turistas e dos moradores da cidade: a igreja Nossa Senhora de Fátima. Obra de Oscar Niemeyer, o templo não passa despercebido entre os prédios da 308 e 307 Sul. De família católica e fervorosa, a aposentada Maria Therezinha Zimmerer, 89, frequenta o local há 58 anos. Passou duas décadas à frente da leitura bíblica nas missas das quartas-feiras e dos domingos. Era uma tradição. Quando chegou em Brasília, em 24 de dezembro de 1961, conheceu o Frei Demétrio, o primeiro a conduzir a igrejinha. Ela lembra do sacerdote com carinho. “As pessoas contam que um dia, ao entregar a hóstia para um peão, durante a construção de Brasília, o pão caiu. E ali ficou. No outro dia, segundo os operários, a hóstia estava do mesmo jeito. As formigas ficavam em volta, mas não encostaram nela”, conta. Até hoje, dona Thê, como é conhecida, não confirmou se a história é verdadeira, mas guarda o relato como uma das memórias do sacerdote.
A igrejinha foi inaugurada em 28 de junho de 1958, na 308 Sul. O templo erguido a pedido da mulher de Juscelino, Sarah Kubitschek, seria o pagamento de uma promessa. A obra foi o primeiro templo de alvenaria construído no Plano Piloto e está próxima da primeira quadra residencial concluída, a 108 Sul, e da quadra modelo, a 308. O comércio em frente, era, naquela época, o principal ponto de vendas na região central. O local acabou conhecido como rua da igrejinha. “A igrejinha foi construída dentro do conceito de unidade de vizinhança, aplicado por Lúcio Costa. Ele incluía uma igreja, um clube da vizinhança, uma escola classe, uma escola parque e um comércio”, explica Gustavo Chauvet.
Após a inauguração, o templo entrou para a rotina do fim de semana da população. Natanry Osório, 81, lembra que a programação dos domingos era a mesma: ir à missa da tarde e depois lanchar na Pizzaria Dom Bosco, localizada na mesma quadra do templo. “Sempre nessa ordem. À época, ainda não tinha muitas coisas, eram poucas construções, mas a igrejinha fazia o coração de todo mundo bater mais forte. Vou lá até hoje”, conta. Para ela, a celebração mais bonita foi a da abertura, com a presença de Sarah Kubistchek. “Foi muita emoção naquele dia. Nunca me esqueço. Minha relação com a igreja é forte, criei meus filhos lá e todos adoram aquele lugar”, afirma.
“Ela aumenta a nossa fé”
Muitos os moradores da cidade têm afeição pela igreja. A aposentada Edite Leal, 79, faz parte desse grupo. Ela chegou em Brasília em 1962 e frequenta o templo desde então. Na primeira vez que pisou no local, ainda era solteira. Veio para o batizado de um sobrinho. “Eu morava no Núcleo Bandeirante e vinha com meu pai, de ônibus, de vez em quando. Depois, eu me casei, continuei no Núcleo Bandeirante e vim algumas vezes com o meu marido. Quando mudamos para o Lago Sul, vinha esporadicamente (à igreja), até vir de vez para a Asa Sul”, afirma. A aposentada se mudou com o marido para o Plano Piloto, pois queriam morar em apartamento. Ela ressalta que o templo teve um peso a mais na escolha da quadra. “Muita gente frequenta a igrejinha porque veio morar aqui, mas a gente mora aqui por causa da igreja”, ressalta. Para ela, o lugar é especial. “É diferente de todos os templos. Não pela a arquitetura, mas pelo ambiente. Sinto que ela aumenta a nossa fé”, diz.
Edite vai à missa três vezes por semana e hoje ajuda nas celebrações como ministra da Eucaristia. Apaixonada por Brasília e pelo templo, ela ainda produziu um livrinho contando a história do lugar. “Foi um mês pesquisando. Tive que correr contra o tempo. Conversei com antigos moradores da quadra, com párocos, inclusive as matérias do Correio Braziliense foram algumas das minhas fontes”, comenta. Emocionada, Edite tem a igreja como parte da própria vida. “Eu me sinto muito satisfeita com o templo que eu frequento. Fico muito feliz em participar dos eventos da igrejinha, em especial das missas”, garante.
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