Correio Braziliense
postado em 22/03/2020 04:15
Sempre gostei de ler e de ver filmes sobre a Segunda Guerra Mundial. No entanto, nunca imaginei que viveria situação semelhante. Não estamos de férias; estamos em guerra, sitiados por um inimigo invisível.
Alguém disse que o mundo não será mais o mesmo depois da pandemia do coronavírus. Será pior ou melhor. Bem, o desfecho dessa tragédia global ainda é imprevisível. Mas, desde já, talvez o vírus tenha algo a nos ensinar.
Em primeiro lugar, ele nos reensinou a ver o outro e a sermos solidários. Rapidamente, compreendemos que tudo que acontece com o outro pode nos afetar. Com isso, a solidariedade represada pela falta de lideranças construtivas aflorou.
Donos de farmácias doaram potes de álcool em gel. Vizinhos se ofereceram para ir aos supermercados comprar produtos de alimentação para os mais velhos. Professores se prontificaram a dar aulas pela internet. Administradores de supermercados estabeleceram horários especiais para idosos e gestantes.
A tevê mostrou uma linda imagem da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Em vez do tracejamento das balas de bandos rivais cortando o céu, as luzes faiscantes dos barracos em homenagem aos profissionais da saúde que estão na linha de frente da batalha contra a Covid-19.
O coronavírus veio para abalar certezas (aparentemente) inamovíveis: o estado mínimo, o desprezo pelo SUS, a capacidade de mentir das fake news. Ela nos obrigou a olhar para o Brasil sob todos os ângulos. Está impondo um terrível teste de realidade para os políticos. Mas a gente conhece o valor dos líderes somente nos grandes momentos de crise.
A Covid-19 nos humanizou, livrou-nos da cegueira, reconectou-nos com a solidariedade. Talvez, depois da tormenta, os falsos líderes, o SUS, a imprensa e a ciência sejam reavaliados.
O filósofo francês Jean-Paul Sartre escreveu que cada um de nós é responsável pela humanidade. Isso parece uma utopia inalcançável. O que acontece na favela, no bairro rico, nos hospitais, nos lixões, nos presídios, nos bares, nas escolas, nos restaurantes, nos ônibus, nos metrôs e nos supermercados nos afeta. A distopia do coronavírus veio para nos mostrar que cada um de nós é responsável por todos.
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