Correio Braziliense
postado em 24/03/2020 04:06
Com o aumento exponencial de casos da Covid-19 no Distrito Federal — desde o primeiro registro da doença, há duas semanas —, também sobe a preocupação com a curva de contaminação pelo coronavírus (veja quadro Evolução). Na última semana, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, falou na possibilidade de colapso do sistema de atendimento. Em Brasília, as iniciativas de restrição para conter o avanço da contaminação começaram em 11 de março, com a suspensão das aulas. Para especialistas, as medidas têm sido acertadas, mas a população precisa segui-las à risca, enquanto o panorama ainda é incerto.
Em alguns países, sair de casa sem motivo está proibido. No Distrito Federal, contudo, as ações de fiscalização ainda não chegaram a esse ponto, mas podem acontecer, pois a queda na circulação de pessoas tem efeito direto sobre a transmissão viral. “É preciso ter uma comunicação adequada. Orientar e de forma efetiva. Não acho que (as iniciativas recentes) foram abusivas ou precipitadas”, avaliou Carla Pintas Marques, professora do curso de saúde coletiva da Universidade de Brasília (UnB).
A pesquisadora acrescentou outro ponto de destaque: a adequação dos serviços de saúde para receber uma demanda maior de pacientes nos próximos dias. “Não sei o movimento que a Secretaria de Saúde está fazendo para isso, mas acho que fechar parcerias com grandes indústrias é fundamental. Vamos precisar de novos leitos, hospitais de campanha. Todo esse movimento deve existir, inclusive de forma preventiva”, recomentou Carla.
A professora observa que a capital federal tem organização de serviços em saúde que permite dar retorno à população, mas o crescimento do número de casos pode gerar um cenário imprevisível, especialmente para grupos mais vulneráveis. Ainda assim, o fato de os decretos que tratam da circulação de pessoas terem saído mais cedo no DF do que em outras unidades da Federação pode ser um fator positivo para a distribuição dos registros, segundo Carla. “Não há uma fórmula para dizermos que aqui teremos menos registros, mas creio que medidas restritivas, mais duras, vão fazer com que tenhamos um controle melhor (da doença)”, ponderou a professora.
Tratamento
Sanitarista e coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Brasília, Claudio Maierovitch ressaltou que a curva do número de casos e óbitos no Brasil tem crescido rápido. Tendo como exemplo as determinações do poder público em São Paulo e no DF, ele comentou que as decisões não geram efeito sobre os casos registrados, mas tem poder de afetar o total de registros. “Estamos olhando para pessoas que, se confirmaram agora, devem ter tido contato (com o vírus) há cerca de duas semanas. Elas não refletem o que acontece hoje, em termos de transmissão”, analisou.
Apesar disso, Claudio considera necessário que a população mantenha o distanciamento social e restrinja a circulação apenas para recorrer a serviços essenciais. Além disso, ele se diz preocupado com a “segunda onda” de contaminação pelo vírus. “Na primeira, foram pessoas que vieram do exterior, com boa condição de renda e de acesso ao serviço de saúde. Mas elas são tão vítimas quanto as outras. Agora, (o coronavírus) pode ter se espalhado para outras regiões administrativas, onde pessoas podem demorar mais para serem testadas e conseguir assistência. E as opções que as pessoas têm para conseguir isolamento físico são as piores, pois muitas não têm vínculo de trabalho formal, então deixam de ter suas fontes de renda. Tudo isso é muito preocupante.”
Maierovitch relembrou que o tratamento da Covid-19 e o desenvolvimento de uma vacina contra a doença ainda estão em fase inicial de pesquisas. O sanitarista explicou que a saída, por enquanto, é garantir que os pacientes sejam atendidos adequadamente e, nos casos graves, tenham acesso a oxigênio e ao sistema de ventilação mecânica. “Os estudos (dos medicamentos) estão em fase inicial e podem ou não dar certo. Mas temos países da Europa, Ásia, Oriente Médio, todos na busca por soluções que possam melhorar as perspectivas e a situação dessa pandemia”, pontuou.
"É preciso ter uma comunicação adequada. Orientar e de forma efetiva. Não acho que (as iniciativas recentes) foram abusivas
ou precipitadas”
Carla Pintas Marques, professora da UnB
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